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sábado, 21 de março de 2015

DIA MUNDIAL DA POESIA


A poesia é a sobremesa da vida!
Talvez seja a “inutilidade” que melhor faz à alma. Mais importante que haver um dia mundial da poesia é guardar um cantinho de cada dia para a poesia. Ganhar o hábito de ler um poema ou dois por dia é uma medida de profunda sabedoria e utilidade.
Há na poesia a profundidade das grandes ideias, a melodia da música, a delicadeza dos sentimentos explicados em palavras majestosas e precisas.
Quando decidimos mergulhar os olhos num poema devemos estar preparados para as emoções a que, inexoravelmente, nos transportará. Umas vezes, vaguearemos entre mares revoltos e perigosos, noutras abandonaremos o corpo e a mente ao doce prazer de viver.
A poesia é um bem delicado, caprichoso, misterioso e profundamente sedutor. Deve ser tratado como prima-dona que é! Cada estrofe, cada verso precisa de ser admirado com atenção, pois muitas vezes contém uma mensagem secreta que só almas atentas conseguem decifrar.
Como uma sobremesa gourmet, deve ser saboreada devagar, apreciando cada sensação: a textura das ideias, o cheiro das emoções, o sabor dos sentimentos, o som das sílabas, a beleza das metáforas, hipérboles e personificações.
Cada poema, cada poeta são seres únicos e irrepetíveis. Devemos deixá-los entrar nas nossas vidas e torná-los num segredo só nosso.
Deixo-vos dois poemas de dois poetas portugueses que admiro muito. Deixem que eles penetrem o vosso dia durante alguns minutos.


RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA



Para que ela tivesse um pescoço tão fino

Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa


Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Solitária exilada sem destino
Ávidos cruéis e fraudulentos


Sophia de Mello Breyner


SÚPLICA

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim.

Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.


Miguel Torga

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