“A
arquitetura de Gonçalo Byrne, feita de rigor e silêncio, é repousante mas
vivida, exatamente pelo uso criativo das aberturas voltadas ao exterior ou que
ligam espaços internos.” Ana
Alcoforado
O
Museu Nacional Machado de Castro é um dos mais imperdíveis museus
portugueses. Classificado como Monumento Nacional em 1910, é desde 1911, data da
sua criação,que este espaço único de cultura que ocupa diversos edifícios
interligados entre si, é o verdadeiro coração da cidade, a atrair inúmeros
visitantes a quem presenteia com um conjunto patrimonial ímpar no domínio da
pintura, da escultura e da ourivesaria.
No
seu embasamento, o magnífico criptopórtico Claudiano, um dos mais interessantes
e bem conservados exemplares da arquitetura civil romana existente em
território português e um dos mais importantes criptopórticos da Europa.
Este
espaço urbano foi sofrendo alterações ao longo das diferentes épocas,
alterações que o transformaram quase em definitivo, dando lugar a um conjunto
arquitetónico de inegável interesse patrimonial. Mas aguardava-o ainda mestria
superior; mão de arquiteto, experienciada, talentosa, que desse voz às pedras
intemporais, que o inundasse de luz e penumbras indiscretas, que chamasse para
si a cidade, por janelas propositadas, determinadas em possuir a rua, o
casario, a torre lanterna mais atrevida, o rio indolente que serpenteia lá
longe…
O
concurso público, em 2000, trouxe Gonçalo Byrne para os braços de um difícil
mas excitante desafio que seria a intervenção arquitetónica naquela
“complexidade de preexistências”ainda confusas e urgentes de restauro.
Segundo
Ana Alcoforado, a diretora do MNMC e a amiga que me povoa memórias de um tempo
que já lá vai mas que persiste, "… a capacidade para aceitar o eventual desafio
de rever ideias e abandonar soluções, - mesmo as mais acarinhadas-em função de
novos dados, aparecia assim como condição inerente ao trabalho do projetista.
Gonçalo Byrne,o arquiteto vencedor do concurso, revelou desde os primeiros
contactos, possuir essa disponibilidade, considerando-a imprescindível para
entender cabalmente as diversas contemporaneidades em presença e salvaguardar o
que merecesse ser conservado, procedendo à eliminação cautelosa de tudo o que
era espúrio.”
Alcoforado,
a Diretora do Museu, acarinhou e acompanhou todo o projeto, numa simbiose a
três (tutela, direção do museu e claro, projetista) o que permitiu a excelência
do projeto, sempre em diálogo também feminino, construtor de soluções e ajustes
às melhores decisões. Não foi, portanto, à toa ,que em 2014, o Piranesi/Prix de
Rome foi atribuído a Byrne e ao seu projeto de intervenção no MNMC.
Esta
enorme distinção veio contribuir para a promoção e divulgação do património
português no Mundo e chamar a atenção para a excelência da nossa arquitetura.
“…o
projeto de requalificação do MNMC foi distinguido pela capacidade de harmonizar
e articular os seus traços contemporâneos com o registo histórico da zona em
que se encontra edificado, funcionando como novo catalisador cultural para o
centro histórico da cidade de Coimbra.” Nota
de imprensa do Governo
Revisitei
o Museu há poucos dias. Gosto de voltar aos sítios que me tocaram por algum
motivo. O dia esteve convidativo e posso-vos garantir que a Universidade de
Coimbra, a Alta e a Sofia recebem muito bem. No MNMC, a simpatia do costume; a
Loggia renascentista, imponente, recebe-nos a sorrir. Sabiam que dá o nome a um
restaurante com vista privilegiada sobre a cidade dos estudantes?
Entrar
no museu e apreciar a sua coleção é um verdadeiro festim para os sentidos. Dela
falarei convosco depois das férias da Páscoa. Basta estarem por aí, desse lado.
Espero ter despertado curiosidades, com esta amostra da obra de Hodart. Fiquem
bem.
Rosa Maria Fonseca
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