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domingo, 8 de março de 2015

DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Entre os vários textos, iniciativas, eventos que fui observando nos últimos dias sobre o DIA INTERNACIONAL DA MULHER chamou-me a atenção a canção que Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista da SIC, escreveu para oito extraordinárias cantoras portugueses interpretarem: “Cansada”.
A música e, sobretudo, a letra são lindíssimas, apesar de toda a dor e tristeza que delas transpiram, num lamento magoado e desencantado, com a situação em que muitas mulheres se encontram, em todo o mundo. Interpretada por Cuca Rosa, Rita Redshoes, Gisela João, Manuela Azevedo, Ana Bacalhau, Marta Hugon, Selma Uamusse E Aldina Duarte, a música é já o novo hino da APV na luta contra a violência doméstica.


Ouço repetidamente a canção e encontro nela mais do que um hino da luta contra a violência doméstica; nela vejo a fotografia nítida da mulher atual. Desencanto, desilusão, desamor e, sobretudo, muito cansaço.
As lentas conquistas que as mulheres alcançaram ao longo do último século foram, sobretudo, feitas à custa dum esforço descomunal, quer a nível físico quer nível afetivo, psicológico e mental. Entraram no mundo do trabalho, ganharam cargos de destaque, competiram com os homens, mas tiveram de continuar a fazer o trabalho de donas de casa e, especialmente, o de mães (quando não pais) em simultâneo. A sociedade exigiu muitíssimo delas a todos os níveis e elas souberam corresponder, mas estão exaustas e… muito desencantadas.


É esse desencanto que as esmaga porque esperavam outro tipo de retribuição dos homens. Esperavam que crescessem ao ver o seu exemplo de dedicação e esforço, aprendendo a repartir tarefas e a valorizar o seu trabalho diário. No fundo, confiavam num outro paradigma de relação em que o parceiro fosse mesmo… parceiro.
No entanto, essa transformação mental ficou muito aquém do expectável e do desejável. É justo assacar culpas aos suspeitos do costume, mas também o mais fácil. Quem está numa situação de privilégio dificilmente abdica dela. A questão é ir mudando a mentalidade. E essa é também uma responsabilidade da mulher, que, muitas vezes, quando chega ao poder, continua a implementar práticas que criticava aos homens. Ainda há dias, lia que o parlamento alemão aprovou uma lei que obriga as empresas a ter 30% de mulheres nos conselhos de administração das empresas. O país comandado por Merkel precisa de impor à força algo que devia surgir naturalmente. A Argentina de Cristina Kirchner, atual presidente argentina, é acusada de envolvimento em vários crimes como a corrupção, mostrando que o exercício do poder não mudou substancialmente quanto aos defeitos, apesar de ter trocado de género. Muitas mulheres alcançaram lugares de topo, em vários setores da vida social, mas as práticas não mudaram muito, nem as mulheres alcançaram muitas das suas justas pretensões.
As mentalidades demoram a mudar e são um processo que sempre dá um passo atrás para depois dar dois em frente, contudo as mentalidades não são hereditárias. E tal como se formaram também se podem destruir, se no lugar delas surgirem outras, construídas com lógica, ética e sentido de justiça. Qualquer tentativa de revanche será uma inútil perda de tempo.
Gosto imenso de assinalar o Dia da Mulher, mas fico triste pelas recorrentes temáticas suscitadas, ano após ano. A Mulher é um ser tão extraordinário, sedutor, inspirador e único que não merecia, de modo nenhum, que hoje estivéssemos a falar de dignidade, respeito, cansaço, desamor, violência. Prefiro, claramente, palavras como Sorriso, Companheirismo, Sensibilidade, Delicadeza, Amor e Amizade.

Gabriel Vilas Boas   




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