“A
beleza converter-se-á talvez num sentimento inútil para a Humanidade e a arte
será algo que se situará a meio do caminho entre a álgebra e a música.” Gustave
Flauvert
A
Portuguesa,1916,Robert Delaunay
Herdeiro
das experiências Cubistas e Futuristas, nasce em 1912 um novo movimento pelas
mãos de dois grandes amigos do nosso grande Amadeo, o casal Sónia e Robert
Delaunay.
O
Orfismo ou Cubismo Órfico, assim foi apelidado por Appolinnaire - uma fase colorista de tendência abstrata do
Cubismo que exalta a luz através da cor- tinha por grandes características
a sobreposição de formas circulares abstratas, de raro sentido cósmico.
Delaunay
foi um pintor de transição entre a figuração e a abstração. Nascido em Paris,
trabalhou nos estúdios Ronsin, especializados em pintura para teatro. Pinta as
suas primeiras telas na Bretanha, no verão de 1903, onde se reflete ainda o
contexto pós-impressionista, mas onde se começam a vislumbrar
complementaridades entre a luz e a cor, que se afirmam em toda a sua obra.
Seurat e Van Gogh, assim como os “Fauves”
desfilam pelo seu olhar, que os absorve como ninguém.
Homenagem
a Blériot, óleo s/tela,1914,Museu de Grenoble
São
famosas as suas sequências de séries de pinturas sobre um mesmo tema, como a
Torre Eiffel, a cidade de Paris ou a torre da Catedral de Notre-Dame. A sua
“pintura pura”, absolutamente construída apenas sobre fortíssimos contrastes de
cor, sem linhas, sem perspetiva, sem qualquer espécie de relação com a
realidade, precede o próprio movimento futurista e com os seus círculos órficos
chega à abstração.
Sem
a ajuda da perspetiva linear, Delaunay consegue expressar de forma lírica a
sociedade técnica e científica em que viveu, em composições de formas
circulares que se constituem em
permanência na sua obra.
Rebenta
a Primeira Grande Guerra e Sonia e Robert Delaunay refugiam-se em Espanha, mas
também em Portugal, mais propriamente em Vila do Conde. Durante este período de
exílio (até 1921) continua a desenvolver a sua obra, que acaba por influenciar
Eduardo Viana, na sua tela O Homem das
Louças.
O
Homem das Louças, óleo/tela,1919,de Eduardo Viana
Contacta
ainda com Amadeo de Souza-Cardoso, com quem mantém correspondência regular e prepara exposições.
Cher
Ami
Jái
reçu tous vos mots.J’attends de votre part réponse nette sur l’exposition mois
de mai Barcelone pour vous remettre tout de suite des tableaux montés et les
pochoirs.Madame m’avait parlé qu’il valait peut-être mieux remettre cette
exposition à octobre et en faire alors une grande manifestation d’art (…)
Excerto
de uma carta de Amadeo a Robert Delaunay,Manhufe,3 de maio de 1916
Esta
amizade também deixa marcas em Amadeo. Basta espreitar algumas das suas
obras,como esta. Não vos parece?
Nos
anos 30, retoma as formas abstratas que havia abandonado por questões
financeiras. O seu percurso é interessantíssimo e igualmente digno de
admiração, tal e qual como o de um Kandinsky, de um Malevitch ou Mondrian.
A
mim, agrada-me muito. Espero que a vocês, também.
Rosa
Maria Alves da Fonseca
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