Etiquetas

quinta-feira, 5 de março de 2015

DA ARTE DA PINTURA, DE ROBERT DELAUNAY (1885-1951)


“A beleza converter-se-á talvez num sentimento inútil para a Humanidade e a arte será algo que se situará a meio do caminho entre a álgebra e a música.” Gustave Flauvert


A Portuguesa,1916,Robert Delaunay

Herdeiro das experiências Cubistas e Futuristas, nasce em 1912 um novo movimento pelas mãos de dois grandes amigos do nosso grande Amadeo, o casal Sónia e Robert Delaunay.
O Orfismo ou Cubismo Órfico, assim foi apelidado por Appolinnaire - uma fase colorista de tendência abstrata do Cubismo que exalta a luz através da cor- tinha por grandes características a sobreposição de formas circulares abstratas, de raro sentido cósmico.
Delaunay foi um pintor de transição entre a figuração e a abstração. Nascido em Paris, trabalhou nos estúdios Ronsin, especializados em pintura para teatro. Pinta as suas primeiras telas na Bretanha, no verão de 1903, onde se reflete ainda o contexto pós-impressionista, mas onde se começam a vislumbrar complementaridades entre a luz e a cor, que se afirmam em toda a sua obra. Seurat e Van Gogh, assim como os “Fauves” desfilam pelo seu olhar, que os absorve como ninguém.

                                                  Homenagem a Blériot, óleo s/tela,1914,Museu de Grenoble

São famosas as suas sequências de séries de pinturas sobre um mesmo tema, como a Torre Eiffel, a cidade de Paris ou a torre da Catedral de Notre-Dame. A sua “pintura pura”, absolutamente construída apenas sobre fortíssimos contrastes de cor, sem linhas, sem perspetiva, sem qualquer espécie de relação com a realidade, precede o próprio movimento futurista e com os seus círculos órficos chega à abstração.
Sem a ajuda da perspetiva linear, Delaunay consegue expressar de forma lírica a sociedade técnica e científica em que viveu, em composições de formas circulares que  se constituem em permanência na sua obra.
Rebenta a Primeira Grande Guerra e Sonia e Robert Delaunay refugiam-se em Espanha, mas também em Portugal, mais propriamente em Vila do Conde. Durante este período de exílio (até 1921) continua a desenvolver a sua obra, que acaba por influenciar Eduardo Viana, na sua tela O Homem das Louças.

                                 O Homem das Louças, óleo/tela,1919,de Eduardo Viana

Contacta ainda com Amadeo de Souza-Cardoso, com quem mantém correspondência regular e prepara exposições.

Cher Ami
Jái reçu tous vos mots.J’attends de votre part réponse nette sur l’exposition mois de mai Barcelone pour vous remettre tout de suite des tableaux montés et les pochoirs.Madame m’avait parlé qu’il valait peut-être mieux remettre cette exposition à octobre et en faire alors une grande manifestation d’art (…)
                                             Excerto de uma carta de Amadeo a Robert Delaunay,Manhufe,3 de maio de 1916

Esta amizade também deixa marcas em Amadeo. Basta espreitar algumas das suas obras,como esta. Não vos parece?





Nos anos 30, retoma as formas abstratas que havia abandonado por questões financeiras. O seu percurso é interessantíssimo e igualmente digno de admiração, tal e qual como o de um Kandinsky, de um Malevitch ou Mondrian.
A mim, agrada-me muito. Espero que a vocês, também.


Rosa Maria Alves da Fonseca

Sem comentários:

Enviar um comentário