Num tempo algo
longínquo, consumir era uma atividade tão natural que nem se chamava consumir.
As pessoas comiam em restaurante, compravam roupa, sapatos, viagens, serviços
de vária ordem e tudo corria razoavelmente. Entretanto consumir tornou-se um
prazer e rapidamente viciou toda a gente.
Como acontece com todos
os vícios, o consumo instalou-se gostosamente na nossa vida e tornando-a mais
agradável e mais fácil. O problema dos vícios é a dependência. Em pouco tempo
consumir tornou-se um hábito difícil de abdicar e quase todos começámos a
consumir de uma maneira compulsiva e irracional.
Nessa altura acordámos para os “direitos do
consumidor”, porque o consumidor se perdera no labirinto da sua dependência e
agora havia apenas que controlar a doença.
É neste estado de
doentes crónicos de “consumite aguda” em que vivemos. A Deco é o hospital a que
recorremos quando abusamos da dose de créditos aos consumo ou alguém nos drogou
com uma qualquer oferta imperdível que nos levou à perdição económica.
A Deco bem tenta fazer
pedagogia consumista, mas apenas consegue controlar algumas das garras
do agressor.
Apanhados na rede
psicológica, duma sociedade, cujo modelo económico assenta num consumismo
irracional, lutamos para nos manter informados dos nossos direitos de consumir.
E, como diria Pedro Abrunhosa, “hoje é o nosso dia”.
Hoje clamamos contra a
sociedade consumista como se dela não fizéssemos parte, lamentamos a
dependência como se não fossemos nós os dependentes, achamos o “monstro”
invencível como se ele não existisse apenas na nossa cabeça e nos nossos
hábitos.
Acho que o consumismo
deixará de ser um problema assim tão relevante quando voltarmos a ser senhores
das nossas escolhas, quando consumir voltar a ser uma coisa tão natural como não
consumir e, sobretudo, quando a noção que cada um tenha de felicidade pessoal
não esteja conectada com a ideia de consumir.
Consumir há muito deixou de ser uma escolha e
passou a constituir uma obrigação social. Isso tem-nos causado grande pressão
psicológica e um enorme desconforto afetivo. É tempo de comprar apenas aquilo que
queremos, de aprender a dizer “não, obrigado”, ainda que possamos perfeitamente
adquirir aquele objeto ou serviço e ele seja interessante.
Consumir é hoje um ato
de inteligência afetiva. E a melhor maneira de evitar consumições com tanto
consumismo é não permitir que ele seja a razão e o coração das nossas vidas.
Gabriel Vilas Boas
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