A mulher mais mais abençoada é Benta A mulher mais mais perfumada é a Rosa A mulher mais madrugadora é a Aurora
A mulher mais feliz é a Felicidade
A mulher mais triunfante é a Vitória
A mulher mais duradoira é a Perpétua
A mulher mais devota e a Piedade
A mulher mais bonita e a Graciosa
A mulher mais limpa é a Branca
A mulher mais recatada é a Modesta A mulher mais espiritual é a Gracinda A mulher mais sofredora é a Dores A mulher mais cruel é a Bárbara A mulher mais transparente é a Clara A mulher mais valiosa é a Esmeralda A mulher mais limpa é a Branca A mulher que melhor cura é a Sara
O Dia da Mulher passou e bastaram algumas horas para perceber que tantas fotos, frases, poemas, flores, jantares parecem uma ilusão que facilmente se confunde com hipocrisia. Talvez por isso gosto cada vez mais daquilo que começa no Dia da Mulher e se concretiza entre dias anónimos. É o caso da campanha Write Her Future, lançada pela ONG Care que pôs em marcha uma campanha para combater a iliteracia feminina.
De um modo muito inteligente, a conceituada marca de cosméticos Lancôme associou-se à campanha, comprometendo-se a investir pelo menos dois milhões de euros em programas internacionais que combatam a iliteracia feminina.
O primeiro programa está já em prática no norte de África, Marrocos, seguindo-se a Guatemala e a Tailândia. Esta iniciativa permitirá que mais de oito mil mulheres abandonem o chamado analfabetismo funcional.
Bem sei que há problemas maiores que a iliteracia feminina, que este vírus atinge também os homens e radica numa formação de base negligente, mas devemos aproveitar e valorizar todos os contributos que melhorem o nível educacional de homens e mulheres.
A Lancôme anda no rosto de milhões de mulheres em todo o mundo, tornando-as mais belas, sedutoras e independentes, todavia não há como a educação para tornar uma mulher poderosa, livre e independente.
Em todo o mundo a iliteracia feminina atinge setenta e seis milhões de mulheres; um número impressionante, sobretudo, porque abrange muitas mulheres de países desenvolvidos. Como muito bem fez notar a Lancôme, nos últimos vinte anos a taxa de iliteracia entre as mulheres não desceu, o que não deixa de surpreender.
Com esta iniciativa a Lancôme desafia todas as mulheres que a usam a pôr no rosto de outras mulheres algo mais belo que um sorriso bonito e luminoso.
Acordara brutalmente triste. O vento e a chuva chicoteavam
as vidraças, anunciando mais um dia sem história. Cansava-a já aquele ritual
matutino de se maquilhar. Olhava-se, longamente ao espelho, perguntando-se por que o faço ainda?
Havia uma grande desconformidade entre aquilo que projetava
e aquilo que todas as manhãs via ao espelho. Nunca ninguém a tinha olhado
assim, em estado puro, e pela primeira vez tinha mais pena do que medo.
A maquilhagem era o símbolo do disfarce que precisava de
usar há anos: com o patrão, com os colegas, com os amigos, com a família. Não
queria mais aquilo, queria ser ela.
Estava determinada. A primeira coisa que decidiu retirar foi
aquele sorriso de plástico, que punha em todas as ocasiões; depois sairia
também o fantástico ar de jovialidade e alegria disfarçada que todos lhe
gabavam. Sorriria apenas quando sentisse vontade disso.
Terminaria também com a base de mulher-mãe-empresária
modelo. A partir daquele dia, todos veriam as rugas da passagem dos anos, as
olheiras do cansaço acumulado, as irritações e os desabafos dos contratempos,
que aprendera a engolir em seco.
Estava plenamente consciente das consequências da sua
decisão. A repulsa dos olhares, a surpresa e as críticas. Até as comparações.
Sabia perfeitamente que algumas reações seriam cruéis, mas não havia volta a
dar. A maquilhagem não voltava para o rosto.
Não ignorava que aquela decisão era fruto do desencanto em
que vivia. Pior do que a lenta degradação da pujante beleza de outrora era o
abandono afetivo a que fora votada. As manifestações de amor eram insípidas e
de circunstância, o amor com que brindara os seus não tivera efeito boomerang e
perdera, por completo, as ilusões. O sucesso profissional enchia-lhe os bolsos,
mas não a alma.
Ainda não tinha saído de casa e já se sentia mais livre.
Deliciou-se com a reação das pessoas; a maioria totalmente previsível: a
surpresa, a preocupação, o riso escondido e escarninho, mas também a
interrogação sobre o porquê daquela mudança radical. Um até teve a ousadia de
lhe perguntar se estava bem.
Sorria com satisfação ao relembrar toda a panóplia de
reações que a ausência de maquilhagem no seu rosto suscitou. No entanto, nada a
tinha deixado tão satisfeita, intrigada e surpreendida como a reação de um
colega de trabalho, que raramente a cumprimentava e que sempre achou pouco
simpático. No final do horário de trabalho, ele abeirou-se da sua secretária,
sorriu-lhe de modo intenso e luminoso, e atirou: «Ficas tão bonita, quando és
apenas tu, Beatriz!»
Entre os vários textos, iniciativas, eventos que fui observando nos últimos dias sobre o DIA INTERNACIONAL DA MULHER chamou-me a atenção a canção que Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista da SIC, escreveu para oito extraordinárias cantoras portugueses interpretarem: “Cansada”.
A música e, sobretudo, a letra são lindíssimas, apesar de toda a dor e tristeza que delas transpiram, num lamento magoado e desencantado, com a situação em que muitas mulheres se encontram, em todo o mundo. Interpretada por Cuca Rosa, Rita Redshoes, Gisela João, Manuela Azevedo, Ana Bacalhau, Marta Hugon, Selma Uamusse E Aldina Duarte, a música é já o novo hino da APV na luta contra a violência doméstica.
Ouço repetidamente a canção e encontro nela mais do que um hino da luta contra a violência doméstica; nela vejo a fotografia nítida da mulher atual. Desencanto, desilusão, desamor e, sobretudo, muito cansaço.
As lentas conquistas que as mulheres alcançaram ao longo do último século foram, sobretudo, feitas à custa dum esforço descomunal, quer a nível físico quer nível afetivo, psicológico e mental. Entraram no mundo do trabalho, ganharam cargos de destaque, competiram com os homens, mas tiveram de continuar a fazer o trabalho de donas de casa e, especialmente, o de mães (quando não pais) em simultâneo. A sociedade exigiu muitíssimo delas a todos os níveis e elas souberam corresponder, mas estão exaustas e… muito desencantadas.
É esse desencanto que as esmaga porque esperavam outro tipo de retribuição dos homens. Esperavam que crescessem ao ver o seu exemplo de dedicação e esforço, aprendendo a repartir tarefas e a valorizar o seu trabalho diário. No fundo, confiavam num outro paradigma de relação em que o parceiro fosse mesmo… parceiro.
No entanto, essa transformação mental ficou muito aquém do expectável e do desejável. É justo assacar culpas aos suspeitos do costume, mas também o mais fácil. Quem está numa situação de privilégio dificilmente abdica dela. A questão é ir mudando a mentalidade. E essa é também uma responsabilidade da mulher, que, muitas vezes, quando chega ao poder, continua a implementar práticas que criticava aos homens. Ainda há dias, lia que o parlamento alemão aprovou uma lei que obriga as empresas a ter 30% de mulheres nos conselhos de administração das empresas. O país comandado por Merkel precisa de impor à força algo que devia surgir naturalmente. A Argentina de Cristina Kirchner, atual presidente argentina, é acusada de envolvimento em vários crimes como a corrupção, mostrando que o exercício do poder não mudou substancialmente quanto aos defeitos, apesar de ter trocado de género. Muitas mulheres alcançaram lugares de topo, em vários setores da vida social, mas as práticas não mudaram muito, nem as mulheres alcançaram muitas das suas justas pretensões.
As mentalidades demoram a mudar e são um processo que sempre dá um passo atrás para depois dar dois em frente, contudo as mentalidades não são hereditárias. E tal como se formaram também se podem destruir, se no lugar delas surgirem outras, construídas com lógica, ética e sentido de justiça. Qualquer tentativa de revanche será uma inútil perda de tempo.
Gosto imenso de assinalar o Dia da Mulher, mas fico triste pelas recorrentes temáticas suscitadas, ano após ano. A Mulher é um ser tão extraordinário, sedutor, inspirador e único que não merecia, de modo nenhum, que hoje estivéssemos a falar de dignidade, respeito, cansaço, desamor, violência. Prefiro, claramente, palavras como Sorriso, Companheirismo, Sensibilidade, Delicadeza, Amor e Amizade.