Etiquetas

Mostrar mensagens com a etiqueta Hannah Arendt. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Hannah Arendt. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O JULGAMENTO DE ADOLF EICHMANN


Adolf Eichmann é daqueles homens que fica na História do século XX pelos piores motivos: ele foi o burocrata nazi, cujo trabalho era organizar o transporte do maior número de judeus para os campos de morte, no mínimo tempo possível. E nisso ele foi desgraçadamente competente.
Em 1942, Eichmann participara na célebre reunião em que se discutiu o tema da “Solução Final”, onde as altas patentes do regime nazi decidiram o assassínio massivo dos judeus.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Eichmann conseguiu escapar à captura dos Aliados e fugiu para a Argentina, onde viveu incógnito até 1961, altura em que foi capturado e levado para Israel para ser julgado.
Durante o julgamento, Eichmann alicerçou a sua defesa no argumento de que se limitou a seguir ordens, mas de nada lhe valeu, pois viria a ser condenado à morte, em 15 de Dezembro de 1961 e executado meio ano mais tarde.
A cobrir o julgamento para o New York Times, a filósofa alemã Hannah Arendt fez notar a vulgaridade de Eichmann assim como o seu não arrependimento.

«À beira da morte [Eichmann] encontrou o cliché usado na oratória fúnebre. Sob o patíbulo, a sua memória pregou-lhe uma última partida; estava «exultante» e esqueceu que aquele era o seu próprio funeral.»
Mais tarde, a mesma Hannah Arendt voltou a esta figura sinistra.
«O problema com Eichmann era precisamente o de muitos serem como ele, e não serem nem pervertidos nem sádicos, mas de serem terrível e assustadoramente normais. Do ponto de vista das nossas instituições legais e dos nossos padrões morais de julgamento, esta normalidade era muito mais aterradora do que todas as atrocidades no seu conjunto, porque tal implicava - como foi dito em Nuremberga vezes sem conta pela defesa e pelos seus advogados - que este tipo de criminoso, que é de facto um inimigo da humanidade, comete os seus crimes em circunstâncias que lhe tornam quase impossível saber ou sentir que aquilo que faz está errado.»  


Eichmann é o claro exemplo da banalidade do mal de que a filósofa alemã falava.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A BANALIDADE DO MAL



A 11 de março de 2004, o mundo foi surpreendido por três atentados simultâneos em Madrid, em quatro comboios suburbanos. Morreram 201 pessoas, cerca de 1470 ficaram feridas. O Governo espanhol de Aznar acusou a ETA, que negou a autoria. Entretanto movimentos associados à Al-Quaeda reivindicaram o atentado.


Nessa altura, o mundo ocidental vivia ainda combalido pela pancada que representara o 11 de setembro de 2001 e o ataque ao coração da América. De lá par cá, os grandes ícones do terrorismo internacional foram perseguidos, presos, mortos, mas o terrorismo não abrandou, antes pelo contrário. Tornou-se ainda mais estupidamente irracional, fugindo a qualquer lógica reivindicativa.



Tivemos (e nalguns casos ainda temos) o terrorismo da ETA, do IRA, do Hezbollah, do Hamas, da Al-Quaeda, onde era percetível uma fundamentação teórica para o ignominioso ato de matar inocentes. Com o Estado Islâmico, tenho muita dificuldade em encontrar qualquer lógica política, na sua atuação. O Estado Islâmico tornou o terrorismo mais cruel de que há memória numa banalidade dos dias de hoje, dada a facilidade com que decapita gente e exibe os seus atos através da internet.

Há uma década, a Espanha percebeu que o terror com que estava habituada a lidar já não era o mesmo. Há poucas semanas, a França sentiu algo semelhante com o atentado ao Charlie Hebdo. Chegará a vez doutros povos e doutras latitudes, porque hoje é muito fácil atentar contra a vida de milhares de pessoas.



Além disso, a reação da civilização à barbárie tem sido pouco mais que ridícula. Lamenta-se, fazem-se marchas de indignação para ficar bem nas fotos e postar nas redes sociais, escrevem-se artigos de opinião, mas medidas concretas sobre controlo de fronteiras e monitorização de indivíduos potencialmente perigosos existem poucas. E pior, a população ocidental começa a aceitar a ideia de que pode conviver com esta anormalidade, desde que ela esteja longe. Primeiro estranhou, indignou-se, agora entranhou.


Há alguns meses vi o filme “Hannah Arendt”, todo ele construído a partir do seu livro Eichman in Jerusalem, onde ela teoriza sobre a banalidade do mal. Segundo a reputada autora alemã, o mal não é ontológico, metafísico ou natural, mas antes político e histórico. Segundo ela, o mal acontece quando encontra espaço institucional para isso. Para Arendt, a trivialização da violência corresponde ao vazio de pensamento.

E se há coisa que caracteriza muito a sociedade moderna é um enorme vazio de pensamento e de valores. Há quem tenha horror ao vazio… há quem o preencha com horror.

Gabriel Vilas Boas