O que é que leva um rapaz de 6 anos a
começar a frequentar aulas de ballet clássico?...
A resposta é simples e, ao mesmo tempo, um
pouco inusitada.
Um pediatra, dois irmãos pianistas, uns
pais com mente aberta e uma boa dose de ingenuidade.
O que é que mantém esse rapaz a frequentar
as aulas de ballet clássico durante 15 anos?Uma enorme dose de coragem e de
autodeterminação.
Os pais, pessoas de mente aberta e sensíveis à arte, não viram nenhum tipo de obstáculo. Em particular, o pai. O rapaz, com a tal boa dose de ingenuidade, também não viu nenhum óbice a experimentar.E assim, foi. Gostou. Rezam as crónicas que demonstrou, até, alguma apetência. E continuou. Só que o que era normal para alguns, para outros ainda estava carregado de preconceito. Um rapaz na dança?... No ballet clássico???... Hummmmm, só pode ser “efeminado”…. É aqui que entra a enorme dose de coragem e de autodeterminação.
Mas porque é que um rapaz no ballet
clássico tem de ser um rapaz de tendências femininas?
Na maior parte das vezes foi mais fácil esconder o que se fazia do que explicar aquilo que o preconceito vigente nas cabeças das pessoas não queria entender. Com algumas histórias engraçadas à mistura, como aquela do colega de turma que tinha uma irmã colega de turma do rapaz no ballet, que passou um ano letivo inteiro a conversar (gozar seria um termo mais adequado…) com o rapaz, sobre o colega que a mana tinha no ballet. “Anda lá desde miúdo. Deve ser maricas de certeza!...” Pois deve, pois deve… Entretanto, o rapaz e a irmã riam-se a bandeiras despregadas com os comentários do irmão preconceituoso.
Certamente já desconfia que esta é uma
crónica autobiográfica. Acertou em cheio. Embora as coisas já se tenham
alterado muito substancialmente, ainda há um caminho a percorrer, nomeadamente
no que diz respeito ao ballet clássico. Pela minha parte, só posso
agradecer-lhe o muito que me deu enquanto pessoa e enquanto Homem. Valores como
o rigor, a disciplina, a sensibilidade, a criatividade e a perseverança,
foram-me incutidos na dança e desde sempre têm norteado a minha vida. Já para
não falar das amizades de e para a vida, que ficaram até aos dias de hoje e
ficarão para sempre.
Por isso, aceite um conselho. Dance, Sem
medo, sem preconceito, sem entraves mentais absolutamente ultrapassados e que
mais não fazem do que tolher-nos e impedir-nos de desfrutar a vida naquilo que
ela tem de melhor. Dance!!!
Paulo Santos Silva