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quinta-feira, 24 de março de 2016

UMA MUDANÇA PACÍFICA E INESPERADA DE DINASTIAS REAIS, 1603




No dia 24 de março de 1603 registou-se a primeira transição pacífica na história inglesa de uma dinastia para outra, com a morte de Isabel Tudor, aos 69 anos, e a subida ao trono de Jaime VI, rei Stuart dos escoceses, como Jaime I de Inglaterra.
Jaime era neto da tia de Isabel (Margaret Tudor) que era irmã de Henrique VIII; ocupara o trono escocês desde a infância, depois de a mãe, Maria, rainha dos escoceses, ter sido forçada a abdicar devido aos seus casos amorosos… chocantes.


Isabel, solteira e sem filhos, mandara executar Maria, rainha dos escoceses, em 1587, por conspiração. Além disso, recusara-se a nomear um sucessor, mas uns anos antes da sua morte o seu primeiro-ministro, Robert Cecil, negociara em segredo com Jaime, e assim que Isabel morreu ele leu a proclamação do seu poder em Whitehall. Circularam imediatamente cópias pelo país e Jaime foi convidado a abandonar Edimburgo e ir para Londres, onde o esperava o trono inglês e o encontro com a História.
À união das coroas da Escócia e de Inglaterra seguiu-se, 104 anos depois, uma união de parlamentos, em Westminster, em 1707.  


A História tem destas ironias sábias que ensina todos a serem humildades na hora de exercer o poder, porque reis e rainha podem pôr, mas a História acaba sempre por dispor.
Uma negociação secreta uniu a Escócia e a Inglaterra e pôs termos a séculos de ódios entre os Tudor e os Stuart. Na verdade, o ódio acabou quando quem o personificava morreu. Foi um fim ditado pelas circunstâncias e não pela vontade, mas terminou o que só prova quanto injustificado eram. Há monarcas que aprisionam os seus povos à guerra, ao ódio e à intolerância, atrasando a História, mas uma vontade tão cega e tão mesquinha apenas vive a sua circunstância.
 Quatro séculos mais tarde, todos estes ódios nos parecem bárbaros, mas foi com eles que a história dos povos também se fez. E nós que História faremos? Ao observar o mundo nas últimas décadas, não posso deixar de pensar como as reminiscências bárbaras da humanidade parecem tão marcadas no ADN de alguns povos.

Gabriel Vilas Boas

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