No dia 24 de março de 1603 registou-se a
primeira transição pacífica na história inglesa de uma dinastia para outra, com
a morte de Isabel Tudor, aos 69 anos, e a subida ao trono de Jaime VI, rei
Stuart dos escoceses, como Jaime I de Inglaterra.
Jaime era neto da tia de Isabel (Margaret
Tudor) que era irmã de Henrique VIII; ocupara o trono escocês desde a infância,
depois de a mãe, Maria, rainha dos escoceses, ter sido forçada a abdicar devido
aos seus casos amorosos… chocantes.
Isabel, solteira e sem filhos, mandara
executar Maria, rainha dos escoceses, em 1587, por conspiração. Além disso,
recusara-se a nomear um sucessor, mas uns anos antes da sua morte o seu
primeiro-ministro, Robert Cecil, negociara em segredo com Jaime, e assim que
Isabel morreu ele leu a proclamação do seu poder em Whitehall. Circularam imediatamente
cópias pelo país e Jaime foi convidado a abandonar Edimburgo e ir para Londres,
onde o esperava o trono inglês e o encontro com a História.
À união das coroas da Escócia e de
Inglaterra seguiu-se, 104 anos depois, uma união de parlamentos, em
Westminster, em 1707.
A História tem destas ironias sábias que
ensina todos a serem humildades na hora de exercer o poder, porque reis e
rainha podem pôr, mas a História acaba sempre por dispor.
Uma negociação secreta uniu a Escócia e a
Inglaterra e pôs termos a séculos de ódios entre os Tudor e os Stuart. Na verdade,
o ódio acabou quando quem o personificava morreu. Foi um fim ditado pelas
circunstâncias e não pela vontade, mas terminou o que só prova quanto
injustificado eram. Há monarcas que aprisionam os seus povos à guerra, ao ódio
e à intolerância, atrasando a História, mas uma vontade tão cega e tão
mesquinha apenas vive a sua circunstância.
Quatro séculos mais tarde, todos estes ódios
nos parecem bárbaros, mas foi com eles que a história dos povos também se fez.
E nós que História faremos? Ao observar o mundo nas últimas décadas, não posso
deixar de pensar como as reminiscências bárbaras da humanidade parecem tão
marcadas no ADN de alguns povos.
Gabriel Vilas Boas
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