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domingo, 13 de março de 2016

PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA, de Salvador Dalí


Está em Nova Iorque, no Museum of Modern Art, o quadro de Salvador Dalí que mais admiro: Persistência da Memória.
O pequeno óleo sobre tela (24,1x33 cm.) do pintor espanhol é uma das primeiras obras realizadas por Dalí, em Paris, inserida no surrealismo.
Como se pode observar, trata-se de uma obra idealizada, que lembra zona do Cabo de Creus, situado na sua terra natal e de que o artista gostava muito.
O fundo paisagístico está muito idealizado, não só pelas formas utilizadas, mas também pela gama cromática, de tons amarelados e azulados esverdeados que não correspondem aos reais.
Além disso, em primeiro plano, ao centro, pode constatar-se a presença de um rosto alongado e muito esquemático, situado sobre a areia com um relógio flexível em cima, que é o do próprio pintor.
São várias as pinturas onde Dalí – como ocorre em “O Grande Masturbador” – se autorrepresentou.

A presença dos relógios, com uma morfologia flexível – invenção daliniana – contribui para criar uma atmosfera peculiar e enigmática no quadro. Quando se perguntava ao artista o porquê dos relógios flexíveis, Dalí costumava responder ironicamente que tanto fazia que fosse flexíveis ou duros, o importante era que dessem horas.    
O relógio flexível em maior destaque na pintura é um relógio de bolso que alude ao relógio que o seu pai tinha e que ele gostava de pintar em retratos que fez da figura paterna, em meados da década de vinte. É interessante comprovar que sobre o dito relógio se podem observar várias formigas que também surgem em outras obras do artista. Ele não gostava de formigas e a sua presença sugere a putrefação. Ao colocá-las junto ao relógio flexível talvez Dalí quisesse sugerir a degradação. Isto é,  como o tempo vai degradando a memória, apesar de todo o esforço que ela faz por persistir.
Adoro este quadro na medida em que ele evoca o grande esforço do ser humano para manter a memórias de si e das coisas. Ela parece escapulir-se na voragem do tempo, diluir-se, mas o Homem tenta manter o relógio a dar horas. Como bem referiu Dalí, flexível ou duro, o importante é que dê horas. Quando a memória se esvai, o relógio da nossa história deixa de trabalhar definitivamente.

GAVB

1 comentário:

  1. Aprecio toda a obra de Dali- Possuo 4 livros enciclopédicos com todos os seus trabalhos. Penso visitar o Museu com o seu nome este ano.

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