Está em Nova Iorque, no Museum of Modern
Art, o quadro de Salvador Dalí que mais admiro: Persistência da Memória.
O pequeno óleo sobre tela (24,1x33 cm.) do
pintor espanhol é uma das primeiras obras realizadas por Dalí, em Paris,
inserida no surrealismo.
Como se pode observar, trata-se de uma
obra idealizada, que lembra zona do Cabo de Creus, situado na sua terra natal e
de que o artista gostava muito.
O fundo paisagístico está muito
idealizado, não só pelas formas utilizadas, mas também pela gama cromática, de
tons amarelados e azulados esverdeados que não correspondem aos reais.
Além disso, em primeiro plano, ao centro,
pode constatar-se a presença de um rosto alongado e muito esquemático, situado
sobre a areia com um relógio flexível em cima, que é o do próprio pintor.
São várias as pinturas onde Dalí –
como ocorre em “O Grande Masturbador” – se autorrepresentou.
A presença dos relógios, com uma morfologia
flexível – invenção daliniana – contribui para criar uma atmosfera peculiar e
enigmática no quadro. Quando se perguntava ao artista o porquê dos relógios
flexíveis, Dalí costumava responder ironicamente que tanto fazia que fosse
flexíveis ou duros, o importante era que dessem horas.
O relógio flexível em maior destaque na
pintura é um relógio de bolso que alude ao relógio que o seu pai tinha e que
ele gostava de pintar em retratos que fez da figura paterna, em meados da
década de vinte. É interessante comprovar que sobre o dito relógio se podem
observar várias formigas que também surgem em outras obras do artista. Ele não
gostava de formigas e a sua presença sugere a putrefação. Ao colocá-las junto
ao relógio flexível talvez Dalí quisesse sugerir a degradação. Isto é, como o tempo vai
degradando a memória, apesar de todo o esforço que ela faz por persistir.
Adoro este quadro na medida em que ele
evoca o grande esforço do ser humano para manter a memórias de si e das coisas.
Ela parece escapulir-se na voragem do tempo, diluir-se, mas o Homem tenta
manter o relógio a dar horas. Como bem referiu Dalí, flexível ou duro, o
importante é que dê horas. Quando a memória se esvai, o relógio da nossa
história deixa de trabalhar definitivamente.
GAVB
Aprecio toda a obra de Dali- Possuo 4 livros enciclopédicos com todos os seus trabalhos. Penso visitar o Museu com o seu nome este ano.
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