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quarta-feira, 9 de março de 2016

CENTRO GALEGO DE ARTE CONTEMPORÂNEA, de Siza Vieira


A ideia inicial era que o Centro Galego de Arte Contemporânea ou Museu de Santiago de Compostela seria no antigo jardim do convento de Santo Domingo de Bonaval. No entanto, Siza Vieira tinha uma ideia diferente e propôs edifica-lo numa zona de maior densidade urbana, implementando-o perto da entrada da Igreja de Santo Domingo e da rua Valle-Inclán. Siza começa a deixar a sua marca desde início, ou seja, na escolha do sítio onde o seu projeto melhor resultaria. Siza não pensava propriamente em colocar o “Centro Galego de Arte Contemporânea” no melhor ou no mais central dos lugares, mas naquele sítio onde a sua arquitetura podia ser mais útil.

Ocupando um lugar-fronteira, o Centro Galego de Arte Contemporânea ergue-se como um elemento definidor de uma área outrora degradada, assumindo uma vocação de atração urbana além da sua vocação de polo cultural.
Siza desenhou um Museu constituído por dois volumes que decorrem das duas principais direções proposta: um implanta-se face à rua Valle-Inclán, conformando-a, e um outro face ao Convento, definindo um percurso de acesso ao jardim, entretanto recuperado.

Os dois espaços/volumes criam uma tensão formal entre si e isso constitui o principal tema arquitetónico do projeto do arquiteto português. O átrio triangular que resulta da interseção dos dois volumes desmaterializa as partes e os pressupostos do contexto, impondo-se como espaço de acesso, de representação institucional, de fruição estética. No átrio estamos no lugar do Museu por excelência, acima de qualquer contexto.

Se é verdade que os principais elementos do edifício são simples (dois volumes em tensão), a formalização do Museu a partir deles é extremamente complexa. Uma série de encontros, interseções, deslizes, encaixes permite moldar o espaço às valências programáticas de um museu moderno.
No interior do Museu, a racionalidade do esquema volumétrico cria uma interessante sucessão de espaços dissonantes, com limites algo difusos, mas onde a modernidade e a orgânica são um traço distintivo. Embora a modernidade seja evidente, Siza soube incluir elementos historicistas como o dispositivo neoclássico sucessivas com acesso axial.

Numa perspetiva oposta, a consola sobre a rampa, a parede suspensa sobre uma viga de dois pilares de ferro à entrada mostram claramente que Álvaro Siza Vieira procurou um objeto arquitetónico moderno até a nível do plano estrutural.

A expressão pétrea do exterior é contrastada pela luminosidade branca do interior, que remete para a tradição abstrata. Neste balanço Siza afirma, mais uma vez, uma ideia central da sua arquitetura: a arquitetura moderna é um garante de continuidade e de sentido civilizacional.

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