António
Augusto Nogueira Madureira é professor de Educação Moral Religiosa e Católica
(EMRC) há um quarto de século e diretor do Secretariado Diocesano do Ensino da
Igreja nas Escolas da diocese do Porto há mais de oito anos.
E.M.R.C.
é, por várias razões, uma disciplina diferente das outras no curriculum
escolar. Por essa razão, achei por ouvir o professor Madureira acerca da «sua»
disciplina e para todos os agentes educativos poderem ter a perspetiva de quem gere os professores de E.M.R.C. no
distrito do Porto.
O que é que a disciplina de EMRC dá de
mais relevante à formação/educação de um aluno?
A
Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) contribui para uma educação
integral, em que a dimensão transcendente e religiosa da pessoa, da sociedade e
da cultura se oferece como instância de leitura interpretativa do sentido para
a vida. Só uma visão ampla da cultura permite ao aluno, na sua caminhada
pessoal de liberdade, assumir-se todo e em tudo como membro de uma comunidade/sociedade.
O quadro da educação, onde a EMRC se insere, é a cultura, não uma cultura
qualquer à medida da consideração de cada interveniente, mas a cultura de um
povo, a compreensão da pessoa, da vida e da história, lida e assumida ao longo
do tempo, em perspetiva cristã.
Apesar de não ter um caráter obrigatório,
a disciplina é frequentada pela esmagadora maioria dos alunos das escolas
portuguesas. Como interpreta este facto?
Começaria
por clarificar a afirmação “esmagadora maioria” pois não é verdadeira a nível
nacional! Eu prefiro olhar a disciplina de EMRC, distante das leituras
estatísticas e mais como uma proposta qualificada e qualificadora, para o
desenvolvimento integral e integrado da pessoa humana! Quando esta missão se
cumpre na escola é razão que valida as opções dos pais e ou alunos!
Normalmente, todos os alunos obtêm boas
notas em EMRC. Acha que isso é fator fundamental na atração dos alunos?
Aqui a
resposta imediata é «não»; a avaliação deve ser muito dialogada para conseguir
ser entendida como uma forma de ajudar cada um a rever as suas metas. As boas
notas, penso que, derivam mais do estar ali com e por gosto!
A nota da disciplina não é contabilizada
para a passagem do aluno. Não pensa que isso diminui a EMRC no cotejo com as
outras disciplinas curriculares aos olhos dos alunos, pais e outros
professores?
Não
olho para avaliação/nota como necessidade qualificadora! Esta circunstância é
um desafio interno que nos exige cuidar sempre a própria dinâmica da nossa
disciplina! Não podendo ser uma como as outras, a EMRC caminha sobre um fio
muito fino, pressionada por muitos lados. O lugar que lhe cabe, à EMRC, é
exigente. Mas conhecendo nós estes dados é mais fácil compreender e redesenhar
o nosso lugar e possíveis modos de o habitar nesta escola, sem demasiada
angústia, com razoável esperança.
Que papel espera que o
professor de EMRC tenha numa escola?
Sejam
testemunhas credíveis de alegria! Adultos confiáveis! Cabe-lhes cultivar
horizontes
largos e respirar revitalizantes!
É fácil e colaborante a relação entre as
direções das escolas e o trabalho dos professores de EMRC?
Tenho
imensa dificuldade em responder a esta questão, pois cada escola é uma
realidade diferente com modalidades de diálogo particulares e difíceis de generalizar.
O que
posso dizer é que uma liderança comprometida com a escola obriga a um olhar
para todos e com todos fazer caminho!
Quais as qualidades essenciais que um professor
de EMRC deve ter?
A
missão entregue aos professores de EMRC exige ter-se em conta o “equilíbrio e a
maturidade humana”. Devem ter um comportamento sensato, uma personalidade
equilibrada e maturidade adequada à missão a desempenhar, bem como “capacidade
de relação e de integração escolar”. O professor de EMRC deve ainda primar pela
simpatia, delicadeza e pelo bom relacionamento com todos, capacidade de
comunicar e de criar empatia, além de uma atitude construtiva na comunidade,
isto no perfil humano. Depois temos perfil cristão e as necessárias
habilitações académicas e são estas as qualidades desejadas para o docente de
EMRC.
Os
professores de EMRC facilmente são confrontados com a docência de 20 turmas.
Não julga que isso é excessivo e contraproducente?
Prefiro
orientar o meu olhar para a sorte que tem o professor de Moral… Conhece quase
toda a escola e com todos é feliz… Importante é encontrar tempo e
disponibilidade para quem precisa. Braços abertos para abraços verdadeiros!
Atualmente os alunos portugueses passam
cada vez mais tempo nas escolas. Este é um caminho que deve ser aprofundado e
defendido?
Penso
que o tempo em casa e com a família deve ser o mais amplo possível, dentro dos
limites profissionais e sociais com que se debatem as famílias. É de evitar a
tentação de atribuir à Escola a função de suplência ou de substituição em
relação às famílias. A Escola deve respeitar o princípio dos pais como
primeiros e insubstituíveis educadores e colocar-se a seu lado, mas não em sua
vez. Um Estado paternalista e dominador pretende sempre formatar os seus
cidadãos segundo a sua ideologia, desconfiando da família, como primeiro espaço
educativo. A Doutrina Social da Igreja não apoia esta visão.
Como avalia o modo como o ensino não
católico se relaciona com a disciplina de EMRC?
No que
diz respeito ao ensino estatal e ao quotidiano dos professores há boas e menos
boas experiências. Por outro lado, o ensino não estatal nem confessional é uma
realidade muito situada em cada instituição e com respostas muito diferentes:
uns vêm a disciplina como muito importante para a formação dos alunos e
promovem-na na sua comunidade educativa e outros pura e simplesmente ignoram a
disciplina.
Os colégios católicos têm obrigação de dar
uma relevância maior à disciplina de EMRC? Acha que é isso que se passa?
Há
experiências muito díspares… Há colégios que levam muito a sério o primado do
seu projeto educativo e são verdadeiras escolas católicas… Há outros colégios
que esqueceram a marca essencial do seu projeto educativo e são apenas boas escolas!
Obviamente a disciplina de EMRC devia ser uma das «marcas de água» da especificidade
da Escola Católica e a alma da mesma.
O
encontro de EMRC, em Maio, para os alunos do 8.ºano, é um momento marcante na
carreira de qualquer estudante. Qual é o objetivo central dessa atividade?
O
encontro promovido pela Diocese do Porto para os alunos de EMRC tem como
primeiro objetivo apoiar e reconhecer os discentes que conscientemente fizeram
esta opção. Depois promover encontro como espaço de cuidar do outro, agir com
responsabilidade e liberdade. Promover uma experiência de alegria pela alegria
de estarmos juntos!
Como reage à provocação de alguns agentes
educativos que defendem a eliminação de EMRC dos curricula porque o Estado é
laico?
O
Estado é laico, mas a sociedade é plural. A reta laicidade não implica a
eliminação da disciplina ou da dimensão pública do fator religioso, neste caso
oferecida por uma instituição que, tem no campo social, educativo e cultural,
uma marca história e ainda hoje um contributo essencial, reconhecido pelo
próprio Estado e assegurado na Concordata. Essa opinião revela um
desconhecimento do que é a missão da escola, o Estado Português, ao serviço da
educação pretendida pelos pais, assume a sua responsabilidade na cooperação e
na criação das condições necessárias para que os pais possam livremente optar,
sem agravamento injustificado de encargos, pelo modelo educativo que mais
convenha à formação integral dos seus filhos. Sem a abordagem desenvolvida na
EMRC é claramente posto em causa a formação integral! A dimensão religiosa é
constitutiva da pessoa humana, pelo que não haverá educação integral se o fenómeno religioso e as suas expressões e influências
culturais não forem tomados em consideração!
Gere os professores de EMRC da diocese do
Porto. O que lhe pede o senhor bispo no início de cada ano letivo?
A palavra
gere não se aplica nesta missão que me foi pedida. O meu Bispo pede-me todos os
anos para cuidar dos professores de EMRC que lecionam no espaço geográfico da Diocese
do Porto… Saliento o desafio CUIDAR!
Na
verdade a sucessão dos anos de serviço, onde me sinto cada vez mais “em casa”,
enriquece-me sobretudo pelo trabalho de equipa, e pela minha entrega mais
situada e qualificada. O assumir, na minha Diocese, a função de Secretário
Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas, isso obrigou-me a tomar contacto
pessoal com a realidade da Disciplina e dos Professores na Diocese. Por outro
lado, a necessidade de definir um percurso, de fazer opções, de elaborar e
propor orientações, para os professores e disciplina de EMRC na Diocese,
levou-me a investir na minha formação pessoal, nomeadamente no estudo mais
apurado da legislação, na abordagem mais atenta dos documentos do Magistério, a
fim de fundamentar devidamente o trabalho, que me foi confiado pelo Bispo
Diocesano. Procurei orientar tudo isto no sentido de um desafio de crescimento
pessoal e de maior e melhor serviço à Igreja.
Qual o grande desafio da disciplina de
EMRC na próxima década, dentro da Escola portuguesa?
O
desafio é conseguir ser lugar privilegiado para o cultivo da cultura e da
sensibilidade espiritual, estética, ética e transcendente.
Qual é o professor de Moral desejável: um
centrado na vertente humanista ou alguém mais concentrado no aspeto teológico?
O
perfil do professor de EMRC contém aspetos que se aplicam a qualquer professor
e aspetos específicos que decorrem da identidade da disciplina de EMRC. Este
docente é caracterizado por três funções inseparáveis: testemunha, professor e
educador.
O
professor de EMRC desejável é aquele que assume educar com amor e educar para o
amor e em colaboração com a família!
GAVB
Meu caro Dr. (e ex-diretor) Madureira!!! Um homem em festa!!!
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