Há cerca de um ano estreava nas salas de cinema portuguesas “Suite Française”, um drama romântico de Saul Dibb, cujo argumento se baseou na obra homónima de Iréne Némirovsky. O filme coloca-nos na França ocupada pelos nazis, nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial e relata-nos uma história de amor entre uma residente francesa e um jovem soldado alemão.
Lucille Angallier (Michelle Williams) aguarda por notícias do marido (destacado para a frente de combate contra os nazis), na companhia da sua sogra (Kristin Scott Thomas), quando um regimento alemão chega à pequena cidade francesa onde vivem e resolve ocupar as casas dos moradores.
Por entre a brutalidade insensível dos soldados alemães que faziam questão de humilhar os franceses, abusando das suas mulheres e usando-as para satisfazer os instintos sexuais, emerge a figura do comandante Bruno von Falk, um jovem soldado alemão que se instala em casa de Lucille e a cativa pela delicadeza do trato, pelo respeito com que aborda os subjugados e sobretudo pela música delicada e desconhecida que vai compondo ao piano.
A música é um elemento fundamental de todo o filme, pois serve de metáfora à personalidade do protagonista alemão e cria uma atmosfera sensível e subtil, que transporta o foco do filme da guerra para uma história de amor triste e condenada ao insucesso.
Lucille e Bruno são dois jovens adultos sensíveis que se apaixonam, mas cujo amor é esmagado pelas botas de guerra e das circunstâncias cruéis do seu encontro. Ao concentrar-se nesse amor perdido, o realizador traz o romance até nós, dando-lhe autenticidade.
Ao ver “Suite Française”, não pude deixar de pensar que nem sempre o omnia vincit amor, mas não é por isso que ele é menos intenso ou desaparece.
Não deixa de ser curioso pensarmos sobre as barreiras que se levantam contra o amor de Lucille e Bruno: a guerra; a pertença a povos inimigos que se combatiam ferozmente; os papéis que deviam representar; a imoralidade de serem os dois casados e por consequência deverem fidelidade aos seus companheiros. Apesar desse estado civil não ter impedido que se apaixonassem, o argumentista veio em defesa da moralidade de ambos os protagonistas ao fazer Lucille descobrir que fora traída ainda antes da guerra começar enquanto Bruno não chegara a sentir o casamento, pois levava tantos anos de serviços militar quantos de casamento. Foi uma proteção desnecessária. Eles apaixonaram-se, apesar de tudo o resto e nesse “tudo o resto” incluía-se o facto de serem casados. As circunstâncias derrotaram-nos, não o sentimento de culpa.
Serão sempre as circunstâncias assim tão poderosas? Muitas vezes são-no, mas também é verdade que não estamos muito habituados a vencê-las ou até a dar-lhes luta.
GABRIEL VILAS BOAS
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