A violência familiar é um tema chocante e
doloroso para qualquer sociedade. Infelizmente, os portugueses têm sido
insistentemente sacudidos por notícias dilacerantes sobre mulheres mortas por
maridos ou companheiros, crianças alvo de abandono, maus tratos e, agora,
mortas, presumivelmente, por gente que devia cuidar delas.
Desgraçadamente, a expressão “violência
doméstica” tornou-se um eufemismo, porque aquilo com que nos deparamos
frequentemente são homicídios.
A violência em meio familiar têm crescido assustadoramente,
especialmente no que ao grau de monstruosidade diz respeito, deixando a
população perplexa e assustada, até porque verifica que os motivos dos crimes
são quase sempre insignificantes.
A violência familiar é um problema muito
difícil de atacar pela sociedade, pois é cometida, regra geral, por um membro
da família descontrolado sobre outro familiar, sob forma de coação física,
psicológica, emocional e económica.
O que o crime de Portimão, ocorrido
durante esta semana, vem revelar é que não é preciso um grande historial de
desavenças para levar alguém à insanidade criminosa. Outra conclusão devastadora
que podemos tirar é a da premeditação. Quer no caso do jovem algarvio quer
noutros casos dados a conhecer pela comunicação social, percebemos que estes
crimes foram minimamente planeados, de modo a ocultar provas ou a atrasar a
investigação ou a proporcionar a fuga dos assassinos.
É assustador constatar como existe
instinto assassino à solta na sociedade portuguesa. Tanta gente capaz de matar
ou deixar matar aqueles que lhe são próximos por uma qualquer sem razão.
Não deixo de pensar como a destruição
familiar tem tornado a sociedade fria, insensível, desumana e violenta. Quando
as relações terminam, os filhos tornam-se um problema que se quer varrer para
debaixo do tapete, especialmente quando atrapalham as novas relações que os
progenitores querem assumir. Se a isto adicionarmos a natural rebeldia da
adolescência e o pouco tempo que os adultos passam com as crianças e
adolescentes, temos um contexto potencialmente perigoso. A voragem das coisas
quotidianas, a falta de compromisso afetivo, o pouco investimento feito no
diálogo minam os laços familiares.
Apesar de uma monstruosidade ser uma
exceção, a sua repetição, cada vez mais frequente, revela sintomas
preocupantes.
Evitar uma tragédia como a de Portimão é
também saber ler sinais, acompanhar casos problemáticos, alertar pais e mães
para as várias armadilhas que as vias rápidas da vida têm.
Gabriel Vilas Boas
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