Na última aula que deu na faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa lamentava, já um
pouco nostálgico, a perda de liberdade que o cargo de Presidente da República
implica.
Não porque já não o soubesse, mas porque
uma perda é sempre difícil de digerir. Marcelo bem se esforça por sugar os
últimos instantes de pura liberdade, escapando o mais possível ao protocolo,
impondo a sua vontade até ao limite do aceitável. O Marcelo que foi a pé para a
Assembleia da República no dia da tomada de posse é o mesmo que decidiu
continuar a viver em Cascais, em vez do Palácio de Belém, e aquele que não
levou os filhos nem a companheira dos últimos trinta anos para a sua entrada
oficial no Palácio cor-de-rosa. São pequenos gestos mas significativos.
Marcelo
dá um claro sinal que não pretende render-se ao conveniente, ao protocolo.
Quebra-o, não porque tem a mania de ser diferente, mas para continuar a ser
genuíno e porque sabe que há leis protocolares que apenas esperam um homem com
alguma coragem para conhecerem a sua exceção.
Estou convicto que Marcelo será uma
espécie de Papa Francisco de Portugal. Tentará fazer com que o seu povo volte a
sorrir, a acreditar em si, independentemente das rugas ou das mazelas, porque a
vida continua.
Marcelo Rebelo de Sousa será um presidente
muito diferente dos seus antecessores, não por mania mas por convicção. Ele
acredita que pode ajudar, que pode exercer uma verdadeira magistratura de
influência junto de quem decide e executa as leis que nos regem. Apesar de
chegar uma década atrasado a um lugar que lhe assenta que nem uma luva, Marcelo
ainda tem muita energia para contagiar novos e velhos, a que acrescenta uma
longa experiência política e um savoir-faire
excecional que o fazem próximo do rico e do pobre, do erudito e do pouco
qualificado, do jovem empreendedor ou do velho descrente.
O grande poder de Marcelo na presidência
será a sua liberdade e independência. Isso ver-se-á na ação política como na
esfera social, económica e cultural. Daqui a alguns meses já não diremos que
Marcelo quebrou o protocolo, mas apenas que o simplificou. Perceberemos então
que não era assim tão difícil. Talvez seja a partir da forma que Marcelo comece
a aquecer novamente a esperança dos seus compatriotas.
Não deixa de ser curioso que depositemos
tantas esperanças na capacidade de iniciativa e na sapiência de um sexagenário,
mas a verdade é que ninguém tem a coragem de apostar que ele não será capaz.
Gabriel Vilas Boas
Para bem de nós todos, desejo-lhe um excelente mandato!
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