A estação do metro do Cais do Sodré, em
Lisboa, é uma das obras mais conhecidas do arquiteto Nuno Teotónio Pereira,
recentemente falecido. Projetada em conjunto com Pedro Botelho, com a estação
do cais do Sodré, Nuno Teotónio Pereira regressa à eloquência construtiva que
marcou os seus projetos dos anos sessenta e setenta do século XX. Há como que
um regresso à contenção austera dos valores do espaço, reforçando a confiança
plástica no betão e no uso parcimonioso, retórico e focalizado do azulejo, onde
vemos a assinatura de António Dacosta e Pedro Morais.
A arquitetura retoma aqui um valor
discursivo e autorreferenciado nas potencialidades formais da estrutura. Esta
estação de metro faz-se numa espécie de contraposição que permite questionar as
obras de renovação das estações de metropolitano de Lisboa durante o final do
século XX, as quais aniquilaram os vestígios modernos do traço original, apagando património arquitetónico.
A estação de metro do Cais do Sodré
desenvolve-se em três níveis de plataformas (átrio, grande nave e cais de
embarque), numa conquista contínua do subsolo da cidade.
A natureza subterrânea do programa arquitetónico
de Teotónio Pereira amplia a tonalidade artificial do espaço observado no seu desígnio
de contentor enterrado: da luz da cidade transita-se para um poço de escadas
mecânicas, onde domina a claridade das lâmpadas elétricas.
O significado de “passagem” ou “estar em
trânsito” faz-se ampliando literalmente o sentido de “travelling”. A alteração
das perceções sensoriais da visão é acompanhada por sobressaltos motores
impostos por uma sequência de circunstâncias “operacionais” que modificam a
cadência do movimento: escadas rolantes, escadarias, galerias de nível,
passadiços mecânicos.
Na grande nave intermédia, as coordenadas
concretas da realidade exterior são desfeitas. A água que escorre na
parede-fonte de azulejos serve para aumentar a vertigem de uma realidade
recriada.
No cais de embarque há um admirável mundo-novo,
não natural, cheio de elementos artificiais: vigas aéreas, luzes suspensas,
carris. A dominar esse mundo recriado figura um extenso painel de azulejos que,
numa repetição minimal do tema do coelho “apressado”, é uma metáfora bem-disposta
e certeira da rotina contemporânea de milhares de lisboetas.
O crédto deste projeto cabe ao Pedro Botelho!
ResponderEliminarTem imensa razão. Do que pude pesquisar, Pedro Botelho e Nuno Teotónio Pereira partilharam o projeto. Infelizmente, só fiz referência ao segundo, mas farei a adição necessária e justificada. Obrigado.
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