Etiquetas

quinta-feira, 17 de março de 2016

A ESTAÇÃO DE METRO DO CAIS DO SODRÉ, Nuno Teotónio Pereira & Pedro Botelho


A estação do metro do Cais do Sodré, em Lisboa, é uma das obras mais conhecidas do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, recentemente falecido. Projetada em conjunto com Pedro Botelho, com a estação do cais do Sodré, Nuno Teotónio Pereira regressa à eloquência construtiva que marcou os seus projetos dos anos sessenta e setenta do século XX. Há como que um regresso à contenção austera dos valores do espaço, reforçando a confiança plástica no betão e no uso parcimonioso, retórico e focalizado do azulejo, onde vemos a assinatura de António Dacosta e Pedro Morais.

A arquitetura retoma aqui um valor discursivo e autorreferenciado nas potencialidades formais da estrutura. Esta estação de metro faz-se numa espécie de contraposição que permite questionar as obras de renovação das estações de metropolitano de Lisboa durante o final do século XX, as quais aniquilaram os vestígios modernos do traço original, apagando património arquitetónico.
A estação de metro do Cais do Sodré desenvolve-se em três níveis de plataformas (átrio, grande nave e cais de embarque), numa conquista contínua do subsolo da cidade.
A natureza subterrânea do programa arquitetónico de Teotónio Pereira amplia a tonalidade artificial do espaço observado no seu desígnio de contentor enterrado: da luz da cidade transita-se para um poço de escadas mecânicas, onde domina a claridade das lâmpadas elétricas.

O significado de “passagem” ou “estar em trânsito” faz-se ampliando literalmente o sentido de “travelling”. A alteração das perceções sensoriais da visão é acompanhada por sobressaltos motores impostos por uma sequência de circunstâncias “operacionais” que modificam a cadência do movimento: escadas rolantes, escadarias, galerias de nível, passadiços mecânicos.
Na grande nave intermédia, as coordenadas concretas da realidade exterior são desfeitas. A água que escorre na parede-fonte de azulejos serve para aumentar a vertigem de uma realidade recriada.

No cais de embarque há um admirável mundo-novo, não natural, cheio de elementos artificiais: vigas aéreas, luzes suspensas, carris. A dominar esse mundo recriado figura um extenso painel de azulejos que, numa repetição minimal do tema do coelho “apressado”, é uma metáfora bem-disposta e certeira da rotina contemporânea de milhares de lisboetas.


2 comentários:

  1. O crédto deste projeto cabe ao Pedro Botelho!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tem imensa razão. Do que pude pesquisar, Pedro Botelho e Nuno Teotónio Pereira partilharam o projeto. Infelizmente, só fiz referência ao segundo, mas farei a adição necessária e justificada. Obrigado.

      Eliminar