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terça-feira, 29 de março de 2016

LIMA DUARTE - VIDA, PAIXÃO E "MORTE" DE UM CABOCLO


Lima Duarte é daqueles atores que prende o espectador ao ecrã só para apreciar a sua atuação. Com ele aprendemos a gostar de telenovelas, porque personagens como Zeca Diabo, Sinhozinho Malta, ou Sassá Mutema entranharam-se na nossa memória afetiva para sempre.
Uma personagem pode ser muito mais ou muito menos do que aquilo que o argumentista/dramaturgo projetou para ela – cabe ao ator torná-la inesquecível ou redundante. Normalmente, Lima Duarte tornava uma telenovela inolvidável e tudo parecia girar à volta da sua personagem. Os grandes atores são assim: não esperam os papéis importantes, constroem-nos.

Lima Duarte começou desde cedo a colocar a máscara de ator, quando aos dezasseis anos decidiu que havia de vingar com um nome diferente do seu. Pôs de lado aquele inenarrável Ariclenes Venâncio Martins e recebeu como bênção materna o bendito “Lima Duarte”.
Entretanto passaram setenta anos e uma enormidade de excelentes trabalhos no cinema, no teatro e em televisão, que tornaram  Lima Duarte num dos melhores atores brasileiros de sempre.
Lima Duarte conseguia ser o bruto mais doce, o assassino profissional mais humano, o analfabeto mais eloquente, um comediante que nos fazia rir como perdidos e arranjava sempre maneira de nos surpreender.

Representou imenso, ensinou bastante. Não tanto como gostava e muitos vezes sentindo a injustiça de ser mal dirigido por gente que notoriamente sabia menos de direção de atores. 
Há seis meses correu a notícia que Lima Duarte tinha falecido, mas tudo não passou de uma brincadeira de mau gosto que o autor aproveitou para fazer humor: "Não tenho pressa". Nós também não! 
Lima Duarte não foi embora; ficou e permanece como uma dádiva de talento e generosidade bem para além dos oitenta. Hoje está de parabéns aquele que sabe que é o nosso “Bem-Amado”, “Pai Herói” ou simplesmente um Sassá Mutema feito de sonho e vontade de aprender e de se dar - a perfeita metáfora daquela Brasil que nunca deixaremos de amar.
Gabriel Vilas Boas

quinta-feira, 27 de março de 2014

DIA MUNDIAL DO TEATRO

Hoje é o Dia Mundial do Teatro. De todas as artes é aquela que mais me encanta, qualquer que seja a vertente: escrever, representar, encenar, cenografar, assistir.
No entanto, há que dizer: REPRESENTAR é divino. É viver duas vezes em simultâneo. Através do teatro, o ator faz-nos viver sentimentos de alegria e tristeza, amor e ódio, satisfação e desânimo. E quando ele é bom, o espectador rapidamente esquece que a peça é uma representação e sonha de olhos abertos, ou seja, vive!
                Só por isto o teatro seria magia, mas ele é muito mais. Faz-te pensar/refletir sobre ti, sobre os outros e acerca das relações humanas. Instala-te a dúvida e a angústia até ao impossível, mas depois resgata-te numa tirada imprevista e única que faz gargalhar até doer os músculos e as lágrimas virarem doces.
É o teatro que te torna íntimo de ti e te faz acreditar que a vida é tão complicadamente bela. No palco ou na plateia, apaixonas-te pela vida ou pela parceira do lado que a peça tornou num ser alado e maravilhoso.
Quando representas, não é só o coração que cresce e a alma que engrandece. A tua dicção melhora, os teus gestos ganham generosidade, a tua expressão corporal é eloquente.
Tornas-te um ser social, capaz de atrair amigos e de os divertir, de os ensinar e de os enriquecer. Eles reparam como és feliz e querem ser um bocadinho como tu.
Vives várias vidas entrando no corpo doutras tantas personagens. És tu sendo eles e eles sendo tu. Ficas a conhecer os outros quando lhes dás vida no palco. Enquanto fazes isso, aprendes a amar a escrita, a deliciar-te com a música e a compreender o design.
Quando entras numa sala de teatro para ver o rosto do ator ou para fazer rir ou chorar quem está à tua frente, sabes que vais fazer e acontecer.
Nesse momento percebes a insignificância dos papelinhos que colecionas na carteira e és incapaz de discernir se é verdade ou mentira aquilo que vês ou representas.
Há tanta verdade e vida naquela mentira a que chamamos representação que um dia Charles Chaplin disse: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina feche e a peça termine sem aplausos.”
Não permitas que isso te aconteça! Vai ao teatro.
Por agora vejam um pequeno trecho duma das peças que mais gosto: O DOENTE IMAGINÁRIO, de Molière.

 Gabriel Vilas Boas

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A DUPLA FACE

                Para o ator a essência do teatro está na máscara. Para encarnar a personagem, o ator tem que a colocar. Só assim a peça se realiza.
                A máscara é a alma da personagem porque o rosto deve transparecer a essência da pessoa.
                Quando vamos ao teatro sabemos que tudo aquilo é uma representação, mas enquanto ela dura o espectador exige que o ator faça parecer tudo aquilo verdadeiro. Ele quer “viver” as emoções das diversas personagens, sentir os seus dramas, medos, alegrias, raivas, ódios. E só o sentirá se a máscara se tiver colado à pele do ator de tal modo que seja impossível distinguir entre as duas.


                O espectador não se importa com o ator, a não ser no momento do juízo: palmas ou assobios. Depois de toda aquela adrenalina vivida que o sacudiu por completo, respira fundo, sorri, encaminha-se para a saída, comenta a performance dos atores e… vai à sua vida depois duma noite bem passada.
                Para o ator, especialmente na fase inicial da carreira, as emoções são necessariamente diferentes. Encarnar a personagem é viver com ela, muitas vezes viver como ela.
Amar, odiar, querer matar, sentir gula, desejar, ser vaidoso, orgulhoso ou vingativo. Ora, em teatro, as emoções, os sentimentos não se dizem, fazem-se. Concretizam-se. E não se concretizam uma só vez. São fruto de muito treino, muita repetição, porque o teatro não é só poder de interpretação, é também técnica de representação.
Quem executa todo aquele faz de conta são os atores. Pessoas que choram, riem, odeiam, se apaixonam como quaisquer outras. Para elas a máscara não é só o instrumento de trabalho. É a fronteira entre realidade e ficção, o limite ténue entre o ator e a pessoa. Muitas vezes eles confundem-se e entrecruzam-se. Impossível evitar ou não fosse a vida o grande palco da representação humana, como diria Shakespeare. Mas viver é uma peça única que jamais terá direito a ensaio. Como diria Millôr Fernandes “viver é desenhar sem borracha”. Para o ator também.
Para o ator o problema não é tornar-se numa máscara e perder identidade. Obrigatoriamente vestirá várias. O problema é que ele tem que emprestar a sua alma a cada uma dessas máscaras. E, por vezes, a máscara leva-lhe a alma e não a quer devolver. 
Talvez seja por isso que os atores descobrem depressa que escolheram uma profissão que os faz viver entre o maravilhoso e o abismo, mas num lugar onde a vida ganha um sentido único apaixonante.

Gabriel Vilas Boas