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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A DUPLA FACE

                Para o ator a essência do teatro está na máscara. Para encarnar a personagem, o ator tem que a colocar. Só assim a peça se realiza.
                A máscara é a alma da personagem porque o rosto deve transparecer a essência da pessoa.
                Quando vamos ao teatro sabemos que tudo aquilo é uma representação, mas enquanto ela dura o espectador exige que o ator faça parecer tudo aquilo verdadeiro. Ele quer “viver” as emoções das diversas personagens, sentir os seus dramas, medos, alegrias, raivas, ódios. E só o sentirá se a máscara se tiver colado à pele do ator de tal modo que seja impossível distinguir entre as duas.


                O espectador não se importa com o ator, a não ser no momento do juízo: palmas ou assobios. Depois de toda aquela adrenalina vivida que o sacudiu por completo, respira fundo, sorri, encaminha-se para a saída, comenta a performance dos atores e… vai à sua vida depois duma noite bem passada.
                Para o ator, especialmente na fase inicial da carreira, as emoções são necessariamente diferentes. Encarnar a personagem é viver com ela, muitas vezes viver como ela.
Amar, odiar, querer matar, sentir gula, desejar, ser vaidoso, orgulhoso ou vingativo. Ora, em teatro, as emoções, os sentimentos não se dizem, fazem-se. Concretizam-se. E não se concretizam uma só vez. São fruto de muito treino, muita repetição, porque o teatro não é só poder de interpretação, é também técnica de representação.
Quem executa todo aquele faz de conta são os atores. Pessoas que choram, riem, odeiam, se apaixonam como quaisquer outras. Para elas a máscara não é só o instrumento de trabalho. É a fronteira entre realidade e ficção, o limite ténue entre o ator e a pessoa. Muitas vezes eles confundem-se e entrecruzam-se. Impossível evitar ou não fosse a vida o grande palco da representação humana, como diria Shakespeare. Mas viver é uma peça única que jamais terá direito a ensaio. Como diria Millôr Fernandes “viver é desenhar sem borracha”. Para o ator também.
Para o ator o problema não é tornar-se numa máscara e perder identidade. Obrigatoriamente vestirá várias. O problema é que ele tem que emprestar a sua alma a cada uma dessas máscaras. E, por vezes, a máscara leva-lhe a alma e não a quer devolver. 
Talvez seja por isso que os atores descobrem depressa que escolheram uma profissão que os faz viver entre o maravilhoso e o abismo, mas num lugar onde a vida ganha um sentido único apaixonante.

Gabriel Vilas Boas

5 comentários:

  1. Faz sentido. Só conheço as sensações do lado do espectador. Quando a peça nos arrebata... é maravilhoso!

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    1. Anabela, o objetivo é esse: que o espetador pense no lado do ator.

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  2. A VIDA É UMA ARTE!!! O MUNDO O PALCO... MAS QUEM REPRESENTA SÃO OS ATORES... QUE ESCOLHERAM UMA PROFISSÃO MARAVILHOSA E MUITAS VEZES APAIXONANTE!!!

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  3. A vida é uma arte! Não mas certo. Convém não esquecer que os atores não são só profissionais, Ana.

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  4. Perfeito! Também eu me sinto actor num papel que o destino me escolheu. Pov.

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