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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AO SOM DE... ZECA AFONSO

No dia em que passam 27 anos da morte de Zeca Afonso, poder-se-á reflexionar sobre a importância da relação entre a palavra, a poesia e a música num determinado período histórico do nosso país. Quando nada era permitido e as vozes incómodas ao regime eram silenciadas pela censura, a música servia para fazer passar uma mensagem, um alerta, um sinal aos mais atentos durante o período do Estado Novo. Nem todos descodificavam as mensagens subentendidas nas letras de muitas canções porque a população era em grande parte analfabeta, inculta e estava muito pouco informada. Nessa época, as canções, com boas músicas e belíssimos poemas escritos por autores como Ary dos Santos, Manuel Alegre, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho e José Afonso, entre outros, tinham uma força e um impacto muito grande numa faixa da sociedade mais instruída e descontente com o regime e por isso se considerava que a canção era uma arma.


Zeca Afonso, músico, autor e poeta, foi um dos cantautores que mais marcaram a música de intervenção contra o regime, usando o seu timbre vocal único para interpretar poemas seus e de outros autores, de forma a que, usando termos metafóricos fosse capaz de iludir a censura. Conta-se, que em certos concertos, o refrão da música Natal dos Simples,  mais conhecida como Janeiras, era cantado como “vão parar à pide, vão parar à pide, vão vão vão vão” em vez da letra que todos conhecemos. Escrever um texto, seja prosa ou poesia, nunca é tarefa fácil, mas naquela época, se por um lado era difícil porque era preciso dizer de forma camuflada aquilo que não podia ser dito em alta voz, por outro, havia muitos motivos para escrever, e esse jogo de palavras com certeza ajudou a uma capacidade de escrita que permitiu uma grande  produção de textos e poemas, muitos deles depois cantados, sem que a censura tivesse percebido as mensagens implícitas.
Zeca Afonso teve a felicidade de assistir ao 25 de abril de 74, continuando a cantar até ser  vencido pela doença. Para recordar, e porque este ano se comemoram os 40 anos da revolução, aqui fica para audição, “Os Vampiros” sendo que vampiro era o termo com que se referiam à polícia.
Margarida Assis 

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