Os gregos são um povo
extraordinário.
Há mais
de dois mil e quinhentos os deuses deixaram cair do Olimpo alguns pingos de
genialidade que homens como Sócrates, Platão, Sófocles ou Péricles souberam
transformar naquilo que hoje chamamos a génese da cultura ocidental.
Foi em
Atenas que começou a democracia, a que hoje ainda aspiram povos tão importantes
como russos, ucranianos, chineses ou continentes tão extensos como África.
Sairam da
pena dos gregos os versos da Odisseia e da Ilíada, que milhões e milhões de
ocidentais lêem e tornam a ler, saboreando cada verso, cada palavra, cada tema,
com um prazer renovado. Alguns anos mais tarde, Dionísio incentivou Sófocles a
escrever Rei Édipo, pedra angular da tragédia, onde Homem, deuses e destino se
encontram representados.
Enquanto
Péricles brilhava como estratega militar, Sócrates criava a filosofia que pôs o
ser humano a refletir sobre si, o cosmos e a vida. Mais tarde, encontrou em
Platão um discípulo de eleição.
Os
templos aos seus deuses descobriram excelentes arquitetos e maravilhosos
escultores que fizeram da beleza um fim em si mesmo. Para os gregos até aquilo
que era útil devia ser belo! E era.
Criaram
a arte de falar em público, conceberam deuses e humanizaram-nos de maneira a poderem
servir de modelo e justificação aos homens. Definiram valores coletivos e
pessoais, licenciaram conceitos que ainda hoje são dogmas, inventaram os jogos
olímpicos.
O
alfabeto esquisito, que a muitos causa impressão, ainda hoje é utilizado por
matemáticos, físicos e botânicos.
Nunca
foram um povo guerreiro nem rico. Os gregos escolheram a cultura, a arte, o
pensamento como código genético.
Venceram
os troianos pela inteligência na guerra mais célebre que a humanidade conhece e
obrigaram os romanos a incorporar a cultura grega no vasto império dos Césares,
de tal forma que Virgílio chegou a exclamar que o grego, apesar de prisioneiro,
soube capturar o seu carrasco pela cultura.
Os
romanos perceberam o tesouro que tinham acabado de encontrar e tiveram a
inteligência de não o adulterar nem destruir. Souberam valorizá-lo e entregá-lo
mil anos depois aos renascentistas que no-lo deixaram como herança.
Hoje os
gregos não têm mais Aquiles, Ulisses, Homero, Sófocles, Platão ou Sócrates para
dar ao mundo e o mundo virou-lhes as costas, com uma ingratidão tão vil que
deixou o Olimpo em lágrimas. Vilipendiados e humilhados, os gregos voltam a
olhar o feiticeiro Mediterrâneo com a certeza de quem sabe que o espírito será
sempre superior à matéria.
Gabriel Vilas Boas
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