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domingo, 23 de fevereiro de 2014

O FOGO GREGO

           Os gregos são um povo extraordinário.
Há mais de dois mil e quinhentos os deuses deixaram cair do Olimpo alguns pingos de genialidade que homens como Sócrates, Platão, Sófocles ou Péricles souberam transformar naquilo que hoje chamamos a génese da cultura ocidental.
Foi em Atenas que começou a democracia, a que hoje ainda aspiram povos tão importantes como russos, ucranianos, chineses ou continentes tão extensos como África.
Sairam da pena dos gregos os versos da Odisseia e da Ilíada, que milhões e milhões de ocidentais lêem e tornam a ler, saboreando cada verso, cada palavra, cada tema, com um prazer renovado. Alguns anos mais tarde, Dionísio incentivou Sófocles a escrever Rei Édipo, pedra angular da tragédia, onde Homem, deuses e destino se encontram representados.


Enquanto Péricles brilhava como estratega militar, Sócrates criava a filosofia que pôs o ser humano a refletir sobre si, o cosmos e a vida. Mais tarde, encontrou em Platão um discípulo de eleição.  
Os templos aos seus deuses descobriram excelentes arquitetos e maravilhosos escultores que fizeram da beleza um fim em si mesmo. Para os gregos até aquilo que era útil devia ser belo! E era.
Criaram a arte de falar em público, conceberam deuses e humanizaram-nos de maneira a poderem servir de modelo e justificação aos homens. Definiram valores coletivos e pessoais, licenciaram conceitos que ainda hoje são dogmas, inventaram os jogos olímpicos.
O alfabeto esquisito, que a muitos causa impressão, ainda hoje é utilizado por matemáticos, físicos e botânicos.
Nunca foram um povo guerreiro nem rico. Os gregos escolheram a cultura, a arte, o pensamento como código genético.


Venceram os troianos pela inteligência na guerra mais célebre que a humanidade conhece e obrigaram os romanos a incorporar a cultura grega no vasto império dos Césares, de tal forma que Virgílio chegou a exclamar que o grego, apesar de prisioneiro, soube capturar o seu carrasco pela cultura.
Os romanos perceberam o tesouro que tinham acabado de encontrar e tiveram a inteligência de não o adulterar nem destruir. Souberam valorizá-lo e entregá-lo mil anos depois aos renascentistas que no-lo deixaram como herança.
Hoje os gregos não têm mais Aquiles, Ulisses, Homero, Sófocles, Platão ou Sócrates para dar ao mundo e o mundo virou-lhes as costas, com uma ingratidão tão vil que deixou o Olimpo em lágrimas. Vilipendiados e humilhados, os gregos voltam a olhar o feiticeiro Mediterrâneo com a certeza de quem sabe que o espírito será sempre superior à matéria.

Gabriel Vilas Boas

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