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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O 3 de Fevereiro de 1927

A Revolta do 3 de Fevereiro de 1927, sobre a qual se cumpriram 87 anos no passado dia 3, foi a primeira grande revolta de um amplo movimento republicano e democrático, civil e militar, contra a ditadura implantada em Portugal na sequência do golpe do 28 de Maio de 1926
Este movimento do 3 de Fevereiro foi o primeiro e único a constituir uma verdadeira ameaça para a Ditadura, até ao 25 de Abril de 1974.
A Revolta inicia-se na cidade do Porto, pelas 4.30 horas do dia 3 de Fevereiro, com a saída dos Regimentos de Caçadores 9, e Cavalaria 6 (Penafiel) e uma Companhia da Guarda Nacional Republicana aquartelada na Bela Vista aos quais se juntarão nos dias seguintes inúmeras guarnições militares do norte do país!

Numa primeira fase os revoltosos apoderam-se do Quartel- General e do Governo Civil do Porto, na Praça da Batalha, e da mais importante estação de Telégrafo da cidade. E as tropas foram distribuídas por locais estratégicos da cidade para fazer frente às tropas fiéis à Ditadura!

Tropas de Artilharia no Claustro do Convento de S. Gonçalo 

É remetida ao general Carmona, Presidente da República, um ultimato: “Forças revolucionárias de todo o Norte impõem demissão do Gabinete Militar que abusivamente quis governar em nome do exército, desejando a sua substituição por um Governo Nacional republicano e o regresso à Constituição”

As tropas revoltosas foram engrossadas nas horas e dias seguintes com militares vindos de Guimarães, Famalicão, Vila Real, Régua, Lamego, Póvoa do Varzim e com o GAM 2 – Grupo de Artilharia de Montanha nº 2 de Amarante, que ainda na tarde do dia 3 teve um importante papel ripostando ao fogo de artilharia das forças fiéis à ditadura e impondo-lhe um recuo desde o Quartel da Serra do Pilar até ao Monte da Virgem.

As forças fieis ao regime, foram sendo reforçadas, e com um elevado número de efectivos militares, acabaram por impor a sua superioridade, fustigando as posições dos revoltosos com fogo de artilharia e semeando destruição e morte.

No dia 8 de Fevereiro os revoltosos optaram pela rendição incondicional.
No rescaldo desta revolta perderam a vida cerca de 100 pessoas e o número de feridos ultrapassou os 500.
Amarante foi igualmente palco de alguns combates no âmbito desta revolta. Nos dias 6 e 7 de Fevereiro, forças fiéis ao governo da ditadura, travaram violentos combates contra soldados revoltosos do Regimento de Infantaria 13 de Vila Real, que por falta de transporte em Vila Meã se haviam dirigido e ocupado o Quartel de Artilharia em Amarante. A população da nossa vila na manhã do dia 7, tratou de pôr a vida a bom recato fugindo para as aldeias limítrofes. Os combates duraram até às 13 horas do dia 8, quando a superioridade das forças fiéis à ditadura e a informação de que a revolta havia fracassado no Porto, levou as forças do RI 13 de Vila Real a depor as armas e a entregar-se às forças que já cercavam a vila.


Quartel de artilharia no Campo da Feira.

As forças do RI 13 foram desarmadas e levadas sob prisão, para o Quartel de Artilharia no Campo da Feira.

Amarante sofreu as consequências da sua participação nesta revolta!
Um elevado número de militares do nosso Quartel (4 oficiais e 13 sargentos) foram presos, julgados e alguns condenados pela sua participação nesta revolta, num Tribunal Militar Especial que reuniu no Tribunal Judicial de Amarante a 15 de Junho de 1928.
O Grupo de Artilharia de Montanha nº2 de Amarante foi um mês depois extinto, pelo Decreto 13.244 de 8 de Março de 1927.

O tribunal Militar Especial já se havia reunido anteriormente em Amarante para julgar os civis amarantinos que de uma ou outra forma haviam apoiado a revolução. E de um total de 76 pessoas que foram presas, exiladas ou que passaram a viver na clandestinidade importa referir que foram notificados como culpados homens como o inspector escolar José Custódio de Pinho, António Balbino de Carvalho (negociante), António J.M. do Lago Cerqueira (proprietário), Rodrigo Ferreira da Cunha, José da Silva Costa, Alberto Carvalhal, António Mendes Vahia (secretário da Câmara Municipal) José Vahia de Sousa Carneiro (Oficial do Registo Civil) Dr. Joaquim Costa e José Martins Branco, homens que eram conhecidos pelo seu arreigado pendor democrático e/ou republicano!

António Aires

5 comentários:

  1. Muito bom contributo para o conhecimento da História local, que importa promover.

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  2. O dia da História não podia estar em melhores mãos! Excelente post, Aires!

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  3. O artigo de António Aires é precioso, para mim. Meu Avô paterno, Luiz Ribeiro Victória, professor em Amarante, foi um dos exilados. Agradeço orientação para pesquisa deste facto, àcerca do qual não possuo qualquer documentação. Lena Marília

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  4. Excelente contributo para o conhecimento da intervenção de Amarante nesta revolta. Meu Avô foi um dos exilados. Agradeço orientação na pesquisa de dá-os acerca deste meu familiar, Luiz Ribeiro Victória, professor em Amarante.

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