No teatro, como qualquer mulher sabe, o guarda-roupa assume
um papel muito importante. Por vezes, adquire uma relevância superior à do
ator. Nesses casos, a roupa “fala”, informa, interage com o espectador, ou não
fosse o teatro um espetáculo e portanto algo que deve ser degustado com os olhos.
Entendamos por guarda-roupa tudo aquilo que o ator leva
consigo: roupa, joias, calçado, chapéus, sombrinhas, luvas, lenços… O termo
tanto serve para referir aquilo que o ator usa como o conjunto de vestuário
duma época ou de um país usado em determinada peça de teatro durante a
representação.
Um olhar mais atento do espectador permite vislumbrar toda a
magia que o figurino aporta a uma personagem ajudando o ator na sua representação.
Cuningham chegou mesmo a referir que “a roupa do ator ajuda concentrar o poder
da imaginação, expressão e emoção dentro da criação e projeção do carácter do
espetáculo.”
A roupa e os acessórios com que ator sobe ao palco possuem
um conjunto de mensagens visíveis e subliminares. Essas mensagens
são muito importantes porque permitem que o espectador interprete corretamente a
personagem que tem à sua frente assim como ajuda a criar a atmosfera da
peça.
O guarda-roupa duma peça cria uma linguagem de formas,
cores, texturas que revelam o estilo duma personagem ou enquadram a situação política e
social da época a que se refere o texto do dramaturgo ou a estação do ano em
que decorre a ação. O figurino duma personagem pode ser o único informador da sua
origem geográfica. Quando vemos alguém vestido com um Kilt não precisamos
doutro elemento para concluirmos que se trata dum escocês. O mesmo se passa com
o cowboy ou com a gueixa.
A época é também determinada pelo guarda-roupa. Armaduras e
espadas identificam a Idade Média, do mesmo modo que o ambiente burguês da
segunda metade do século XIX, na peça, de Almeida Garrett, Falar Verdade a Mentir, é-nos
dado pelo vestuário que as personagens usam.
São ainda as roupas a indicar a passagem do tempo pelas personagens.
O ator trata do processo de envelhecimento da sua personagem recorrendo ao
figurino e à maquilhagem. Quando temos necessidade de estabelecer a idade duma
personagem, a roupa é um dos critérios que nos serve de bússola. O mesmo se passa na definição da
hierarquia social. Os reis são ricos e poderosos porque usam joias, roupas
vistosas e luxuosas. As diferentes categorias de povo diferenciam-se
pela indumentária com que estão em cena.
Se pensarmos em algumas personagens-tipo que o teatro
consagrou (a mulher a dias, a mulher sedutora, o rebelde, o advogado, o tolo…)
verificamos que é o vestuário que as define.
Como podemos concluir, o trabalho do figurinista é essencial
dentro da representação teatral. No entanto, é preciso compreender que este
trabalho só fica bem feito quando é realizado em articulação com a atividade do cenógrafo e do luminotécnico. Os jogos de luz e sombra são fundamentais para
realçar ou ofuscar as peças e os tons do vestuário dos atores.
Por isso, o figurinista deve entender a peça, perceber o que o encenador quer dos atores, atuar
em consonância com o cenógrafo e o técnico de luz e conhecer muito bem os
atores que irão dar vida ao seu guarda-roupa.
O guarda-roupa de cada peça deve exibir uma beleza coerente
porque só assim a peça encanta o espetador.
Afinal é o hábito que faz o monge.
Gabriel Vilas Boas
GOSTEI GABRIEL!!! BEM VERDADE... É O HÁBITO QUE FAZ O MONGE. PARABÉNS.
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