Recentemente
fui ver a peça MADALENA, encenada por Jorge Pinto e protagonizada por uma das
minhas atrizes preferidas, Emília Silvestre.
A
peça construída com base na famosa tragédia de Almeida Garrett, Frei Luís de
Sousa, afirma-se pela abordagem inovadora que faz ao original de Garrett. Nesse sentido MADALENA interpela o texto
original e presta-lhe homenagem.
O
encenador Jorge Pinto criou uma peça onde domina uma atmosfera gore, feita
através da música rock e noise a cargo de Ricardo Pinto. Esta atmosfera
pretende aproximar um público jovem para quem a peça é dirigida, ou seja, os
alunos que estudam o Frei Luís de Sousa no ensino Secundário.
A
música, chamada à cena pelo criado Telmo, sugere todo o medo, ansiedade, pânico
por que passa a personagem Madalena, a mulher de D. João de Portugal que
supostamente morrera em Alcácer Quibir com o rei D. Sebastião.
Madalena
sente a culpa não apenas de ter casado com Manuel Sousa e dele ter tido uma
filha (partindo do pressuposto que o marido havia morrido), mas sobretudo a
culpa de ter amado Manuel de Sousa na primeira vez que o viu, ou seja, ainda
com o marido vivo. Madalena vive o tormento e obsessão da culpa e da expiação.
É
esta atormentada alma que Emília Silvestre protagoniza com o brilhantismo que
lhe é característico. Através da sua atuação e da criação musical de Ricardo
Pinto, o jovem público de MADALENA é levado a refletir no difícil jogo entre
Culpa e Responsabilidade que convém à consciência de cada um resolver.
Uma
nota final para a escolha do cenário. A peça decorre no imponente claustro do
Mosteiro de São Bento da Vitória. Uma escolha muito apropriada do encenador
pois é o local perfeito para abordar o destino trágico duma cultura (a
portuguesa) obcecada com a culpa e o passado.
Talvez
por isso Frei Luís de Sousa de Garrett continue tão atual, como o comprova
MADALENA.
Gabriel
Vilas Boas
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