Etiquetas

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

EDUARDO SOUTO MOURA



 Eduardo Souto Moura nasceu no Porto há mais de 60 anos e nos últimos vinte ganhou uma notoriedade tal que hoje é justamente um dos maiores da arquitetura nacional.
Souto Moura começou por seguir o mestre da famosa Escola do Porto, Álvaro Siza, mas acabou por se afastar e seguir o seu próprio caminho.
 Este arquiteto portuense procura que a sua arquitetura vá além da nossa condição geográfica e cultural de país periférico. Muito influenciado pelas ideias arquitetónicas de Mies Van der Rohe e de Aldo Rossi, Souto Moura persegue uma arquitetura de planos, superfícies e linhas. A sua arquitetura advoga a prevalência da forma em detrimento da função. O arquiteto do estádio Axa, em Braga, gosta de manipular a realidade através da repetição, da colagem, da analogia.
                A criação deste estilo será testada em diversas obras privadas (casa da Quinta do Lago…), edifícios públicos (Casa das Artes, no Porto; Mercado de Braga) e depois em importantes intervenções no património (Convento de Santa Maria do Bouro, Alfândega do Porto, Cadeia da Relação do Porto).
                Outra linha fundamental em Souto Moura é o minimalismo. Ele detesta a desordem do mundo contemporâneo. Por isso, busca a paisagem exata, desnudada de artifícios espúrios, a clareza formal. Ora isto é muito estranho num país onde não existe cultura visual.
                Tendo procurado uma “linguagem de grau zero” para sistematizar a sua visão, Souto Moura refundou a arquitetura moderna em Portugal e agora está a reinventá-la.
                Observemos algumas das suas obras mais emblemáticas.
                CASA DAS ARTES, no Porto (1981-1991)


                Através desta obra, Souto Moura afirma-se no panorama da arquitetura nacional. É com ela que ganha o conceituado Prémio Secil de Arquitetura, em 1992.
                A Casa das Artes é proposta como um muro, que gera, no espaço que estabelece com o muro-limite do terreno, a oportunidade para o programa necessário.
                A Casa das Artes tem dois pisos e integra dois auditórios, situados nas extremidades do volume construído, espaços de exposição, consulta e serviços. O piso inferior é dissimulado no solo, o que permite tornar verosímil a ideia de edifício-muro. Os auditórios são espaços depurados com referência ao arquétipo do “anfiteatro”. A presença de tijolo artesanal nas paredes remete para uma certa intemporalidade tipológica.
                Na parte exterior, a presença de planos autonomizados e a utilização lúdica dos vidros denunciam um projeto de manipulação formal.
                A Casa das Artes é ainda hoje uma arquitetura arrojada.

                POUSADA CONVENTO DE SANTA MARIA DE BOURO (1989-1997)
                Este projeto foi o primeiro grande teste à linguagem e ao método de Souto Moura, pois tratava-se duma intervenção num edifício de alto valor patrimonial. Realizado em co-produção com Humberto Vieira, este projeto é a adaptação do edifício preexistente a uma pousada.
                Como referência cultural para a elaboração do projeto, Souto Moura escolheu o nosso tempo - o tempo da ruína. Ao não repor o telhado no edifício deixa claro que não está interessado em reencontrar ou reconstruir a História do Convento, mas antes em fixar o seu momento atual, no sentido de aprofundar a poética visual que observa. Chega a dizer: “era assim o edifício quando o vimos pela primeira vez.”
                Todas as opções do projeto são realizadas no sentido de acentuar a ruína, intercalando materiais que possibilitem a sua habitabilidade e funcionamento.
                O edifício é “objetualizado”, os seus elementos estruturais e ornamentais são manipuláveis, as paredes sugerem paramentos duma cenografia eterna. Todo o edifício é reapropriado para servir visualmente, como textura, como espaço de pedras iluminado pela suavidade da luz elétrica. A sua profundidade histórica é comprimida no plano horizontal do presente e o seu presente é a ruína tornada habitável. O desenho das caixilharias é realizado no sentido de manter a ilusão do vão sem vidro;
                As infra-estruturas são dissimuladas para que seja verosímil a instalação do conforto contemporâneo na ruína contemporânea do edifício.
                ESTÁDIO de BRAGA (2000-2003)



                O Estádio surge como uma operação paisagística no meio duma pedreira existente no Parque Desportivo de Dume, na encosta norte do Monte Castro. A sua singularidade resulta da articulação da grande dimensão que um estádio de futebol comporta com um controle formal assinalável.
                No estádio de Braga, os elementos mínimos (duas bancadas, a pala, a sala sob o campo) surgem numa escala muito ampliada.
                A ausência das habituais bancadas de topo permite a inserção natural do estádio na paisagem envolvente, tornando-o quase um prolongamento daquela. A presença manipulada da pedra no topo norte e nos interstícios da bancada poente é um motivo geológico natural em diálogo com a artificialidade dos elementos arquitetónicos puros.
                Remetendo para a intemporalidade do anfiteatro greco-romano, o estádio de Braga convoca-nos para a moderna engenharia onde dominam o betão e a iluminação elétrica.  
                Este estádio impõe-se como um edifício paisagem.
Gabriel Vilas Boas

2 comentários:

  1. Amo esta arquitectura limpa e despojada de Souto Moura!

    ResponderEliminar
  2. Muito bom, Gabriel. Os meus alunos também estudam este estádio, é um Caso Prático da disciplina de HCA. Vou recomendar-lhes este teu texto, muito assertivo.
    Rosa Maria Fonseca

    ResponderEliminar