Victor Silva, Amarante, pastel seco |
Amarante, com o seu rio maroto, com a sua Ponte,
que lhe sussurra eternas juras de amor, com o seu Mosteiro granítico que
se impõe, sobranceiro, às gentes que
passam, continua a ser, ainda hoje, para mim ,um mistério por decifrar…
Pascoaes disse dela um dia:
”…sem esta terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em claro voo;
Sem
estes ermos montes e arvoredos,
Eu não era o que sou.”
Amarante
extasia e inspira as suas gentes, e
toca-as de tal forma que muitos,”…por obras valerosas, se vão da lei da morte
libertando”. Não sei se é o Tâmega ondulante, que insiste em beijar-nos diariamente, de mansinho ou com laivos de mariola, consoante o ânimo com
que acorda; não sei se é a névoa da manhã, por quem me apaixono todos os dias,
quando desço o vale, a caminho do trabalho; não sei se é o verde tão
característico desta cidade, que nos afaga no Verão ou ainda os castanhos
outonais que me deliciam sempre que ,na estação adequada, me é dado observar o tapete
quase nórdico que cobre as alamedas do nosso Parque Florestal, num festival de
cor; não sei se é o Marão megalítico que nos mira e vigia sem tréguas…
Mas o que é
incontestável é que Amarante nos deu vários nomes ímpares da arte e da cultura
nacionais, de que nos orgulhámos todos, embora permaneça nublada a explicação
para tal fenómeno.
Hoje venho falar-vos de Victor Silva, também ele um
amarantino tocado pela cidade menina, bafejado pela inspiração, pelo traço vivo
e criador. Dele, conheço a simpatia com que sempre conversa comigo em reuniões
informais onde lhe vou dando conta dos resultados da sua educanda, também ela
uma artista nata. E foi assim que o Víctor, numa das reuniões já mencionadas,
me lembrou que havia desenhado para mim um retrato a carvão, há muitos anos
atrás; não que eu tivesse esquecido, seria quase impossível, dada a beleza do
trabalho com que me presenteou.
Retrato, pastel seco |
Retrato, carvão/papel |
Mas, a partir daqui, o mote estava dado e
de quando em vez, a minha aula de História da Cultura e das Artes era invadida
pelos esboços e desenhos do Víctor , pela mão da sua filha que, ufana, me
mostrava o portfolio do Senhor seu
Pai, por alturas de um mergulho afincado no Românico ou apenas porque sim. E
todos, alunos e professora, se rendiam.
Victor Silva, Igreja de Cedofeita, carvão s/papel |
Ser dono de um traço assim fino e delicado exige
talento, determinação apurada e dedicação. Dele, Adriano Santos, responsável
pela Biblioteca- Museu Albano Sardoeira durante largos anos, em tempos que já
lá vão ( e de quem guardo ternas recordações), escreveu o que passo a citar:
“A Arte é um
repositório de emoções, desejos e sonhos. É a intervenção crítica feita através
do sentido mais sublime que é a visão. Víctor Silva, surrealista, compõe os
seus trabalhos de uma forma despreocupada e sincera, baseado nestas três
premissas.
A sua arte não se detem em formas fáceis
ou em conhecimentos dúbios, o seu brilhantismo com os pincéis está desde já
provado (…).Cada tela, cada quadro é uma doce loucura de estética, conseguida
através de uma incessante procura de formas e ideias marginais…”
Victor Silva, óleo s/tela |
Victor
Silva, carvão s/papel
Adriano Santos, como vimos, apelida-o de
surrealista. Mas nós já constatamos a sua versatilidade, sendo que este tipo de
arte que vivenciou é mais uma prova disso mesmo. O Surrealismo, que encontra
eco no Cubismo e no Dadaísmo, no Abstracionismo de Kandinsky, pretende expor a
verdade do sonho, do inconsciente, numa profunda libertação dos sentidos.
Adriano Santos chamou a esta incursão de Vítor Silva pelo Surrealismo “uma doce loucura de estética, conseguida
através de uma incessante procura de formas e ideias marginais.”.Eu não
diria melhor, pelo que o meu apontamento de hoje fica por aqui. Deliciem-se com
a imagem das obras que vos deixo hoje, gentilmente cedidas pelo seu autor.
Gostaria que o meu texto estivesse à altura do seu traço elegante e fino, mas o
adiantado da hora em que escrevo estas letras e o sono que teimosamente me
rouba a clareza têm em mim um efeito contrário àquele em que os surrealistas
dos princípios do século XX acreditavam.
Para eles, uma obra verdadeiramente surreal deveria ser executada sob o efeito
avassalador do sono ou de qualquer outra privação, ou então sob uma adição
qualquer, desde que suficientemente perigosa.
Mas os
Amarantinos como o Víctor, não precisam de nenhuma compulsão. Basta-lhes o
Tâmega, a Senhora da Ponte e a névoa da manhã. É isto que os faz respirar. É
isto que lhes corta a respiração. É isto que os inspira. (Estará explicado o
fenómeno?)
Acham que convenci o Víctor a pensar numa nova
Exposição? A pintura, tal como a escrita, carecem de privacidade, são um ato
intimista que nem sempre apetece revelar. Mas fica o repto, Sr. Arquiteto.
Victor Silva, licenciado em Arquitetura pela
Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, em 1990, está
representado em várias coleções particulares.
Exposições individuais e coletivas:
1979- Coletiva-Sala Teixeira de Pascoaes, Amarante
1980 –Individual –Galeria de O Primeiro de Janeiro,
Porto
1981-Individual –Galeria Orpheu, Guimarães
1982 –Coletiva –Biblioteca-Museu Albano Sardoeira,
Amarante
1983 –Coletiva –Vila Pouca de Aguiar
1984-Coletiva Biblioteca-Museu Albano Sardoeira, Amarante
1986-Participa na 3ª Mostra de Artes Plásticas “Lagos 86”
Victor Silva, Aguarela |
Rosa Maria Alves Fonseca
Belíssimo texto que acompanha um belíssimo traço! Parabéns aos dois!
ResponderEliminarGOSTEI... EXCELENTE TEXTO, MARAVILHOSAS PINTURAS E DESENHOS QUE SÃO UMA DOCE LOUCURA... TUDO ISTO EXIGE TALENTO E MUITA DEDICAÇÃO!!! SIM... A " ARTE " É UM REPOSITÓRIO DE EMOÇÕES E SONHOS!!! PARABÉNS.
ResponderEliminarMuito bonito mesmo!
ResponderEliminarInês
Muitos parabéns Senhora Professora pelo excelente texto retratando as maravilhosas obras do arquiteto Vítor Silva (que são de deixar qualquer um de boca aberta) e a nossa bela cidade! Uma nova exposição dos trabalhos do Sr. Arquiteto seriam uma mais valia a todos!
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