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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DO DESENHO


Victor Silva, Amarante, pastel seco


Amarante, com o seu rio maroto, com a sua Ponte, que lhe sussurra eternas juras de amor, com o seu Mosteiro granítico que se  impõe, sobranceiro, às gentes que passam, continua a ser, ainda hoje, para mim ,um mistério por decifrar…
Pascoaes disse dela um dia:
”…sem esta terra funda e fundo rio,
        Que ergue as asas e sobe, em claro voo;
     Sem estes ermos montes e arvoredos,
                                                                 Eu não era o que sou.”
 Amarante extasia e  inspira as suas gentes, e toca-as de tal forma que muitos,”…por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando”. Não sei se é o Tâmega ondulante, que insiste em  beijar-nos diariamente, de mansinho ou  com laivos de mariola, consoante o ânimo com que acorda; não sei se é a névoa da manhã, por quem me apaixono todos os dias, quando desço o vale, a caminho do trabalho; não sei se é o verde tão característico desta cidade, que nos afaga no Verão ou ainda os castanhos outonais que me deliciam sempre que ,na estação adequada, me é dado observar o tapete quase nórdico que cobre as alamedas do nosso Parque Florestal, num festival de cor; não sei se é o Marão megalítico que nos mira e vigia sem tréguas…
 Mas o que é incontestável é que Amarante nos deu vários nomes ímpares da arte e da cultura nacionais, de que nos orgulhámos todos, embora permaneça nublada a explicação para tal fenómeno.

Hoje venho falar-vos de Victor Silva, também ele um amarantino tocado pela cidade menina, bafejado pela inspiração, pelo traço vivo e criador. Dele, conheço a simpatia com que sempre conversa comigo em reuniões informais onde lhe vou dando conta dos resultados da sua educanda, também ela uma artista nata. E foi assim que o Víctor, numa das reuniões já mencionadas, me lembrou que havia desenhado para mim um retrato a carvão, há muitos anos atrás; não que eu tivesse esquecido, seria quase impossível, dada a beleza do trabalho com que me presenteou. 
Retrato, pastel seco
                   
Retrato, carvão/papel



Mas, a partir daqui, o mote estava dado e de quando em vez, a minha aula de História da Cultura e das Artes era invadida pelos esboços e desenhos do Víctor , pela mão da sua filha que, ufana, me mostrava o portfolio do Senhor seu Pai, por alturas de um mergulho afincado no Românico ou apenas porque sim. E todos, alunos e professora, se rendiam.
Victor Silva, Igreja de Cedofeita, carvão s/papel

Ser dono de um traço assim fino e delicado exige talento, determinação apurada e dedicação. Dele, Adriano Santos, responsável pela Biblioteca- Museu Albano Sardoeira durante largos anos, em tempos que já lá vão ( e de quem guardo ternas recordações), escreveu o que passo a citar:
A Arte é um repositório de emoções, desejos e sonhos. É a intervenção crítica feita através do sentido mais sublime que é a visão. Víctor Silva, surrealista, compõe os seus trabalhos de uma forma despreocupada e sincera, baseado nestas três premissas.
A sua arte não se detem em formas fáceis ou em conhecimentos dúbios, o seu brilhantismo com os pincéis está desde já provado (…).Cada tela, cada quadro é uma doce loucura de estética, conseguida através de uma incessante procura de formas e ideias marginais…”
Victor Silva, óleo s/tela


                                                                      Victor Silva, carvão s/papel

Adriano Santos, como vimos, apelida-o de surrealista. Mas nós já constatamos a sua versatilidade, sendo que este tipo de arte que vivenciou é mais uma prova disso mesmo. O Surrealismo, que encontra eco no Cubismo e no Dadaísmo, no Abstracionismo de Kandinsky, pretende expor a verdade do sonho, do inconsciente, numa profunda libertação dos sentidos. Adriano Santos chamou a esta incursão de Vítor Silva pelo Surrealismo “uma doce loucura de estética, conseguida através de uma incessante procura de formas e ideias marginais.”.Eu não diria melhor, pelo que o meu apontamento de hoje fica por aqui. Deliciem-se com a imagem das obras que vos deixo hoje, gentilmente cedidas pelo seu autor. Gostaria que o meu texto estivesse à altura do seu traço elegante e fino, mas o adiantado da hora em que escrevo estas letras e o sono que teimosamente me rouba a clareza têm em mim um efeito contrário àquele em que os surrealistas dos  princípios do século XX acreditavam. Para eles, uma obra verdadeiramente surreal deveria ser executada sob o efeito avassalador do sono ou de qualquer outra privação, ou então sob uma adição qualquer, desde que suficientemente perigosa.
 Mas os Amarantinos como o Víctor, não precisam de nenhuma compulsão. Basta-lhes o Tâmega, a Senhora da Ponte e a névoa da manhã. É isto que os faz respirar. É isto que lhes corta a respiração. É isto que os inspira. (Estará explicado o fenómeno?)
Acham que convenci o Víctor a pensar numa nova Exposição? A pintura, tal como a escrita, carecem de privacidade, são um ato intimista que nem sempre apetece revelar. Mas fica o repto, Sr. Arquiteto.
Victor Silva, licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, em 1990, está representado em várias coleções particulares.
Exposições individuais e coletivas:
1979- Coletiva-Sala Teixeira de Pascoaes, Amarante
1980 –Individual –Galeria de O Primeiro de Janeiro, Porto
1981-Individual –Galeria Orpheu, Guimarães
1982 –Coletiva –Biblioteca-Museu Albano Sardoeira, Amarante
1983 –Coletiva –Vila Pouca de Aguiar
1984-Coletiva Biblioteca-Museu Albano Sardoeira, Amarante
1986-Participa na 3ª Mostra de Artes Plásticas “Lagos 86”
Victor Silva, Aguarela

Rosa Maria Alves Fonseca
                            

4 comentários:

  1. Belíssimo texto que acompanha um belíssimo traço! Parabéns aos dois!

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  2. GOSTEI... EXCELENTE TEXTO, MARAVILHOSAS PINTURAS E DESENHOS QUE SÃO UMA DOCE LOUCURA... TUDO ISTO EXIGE TALENTO E MUITA DEDICAÇÃO!!! SIM... A " ARTE " É UM REPOSITÓRIO DE EMOÇÕES E SONHOS!!! PARABÉNS.

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  3. Muito bonito mesmo!
    Inês

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  4. Muitos parabéns Senhora Professora pelo excelente texto retratando as maravilhosas obras do arquiteto Vítor Silva (que são de deixar qualquer um de boca aberta) e a nossa bela cidade! Uma nova exposição dos trabalhos do Sr. Arquiteto seriam uma mais valia a todos!

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