Da Arte,
da Pintura, da Criatividade, do Gosto
Um café foi o mote para desvendar o projeto. De Arte, diziam-me. Um
simples café, perfumado e quente, foi testemunha de um diálogo brando e prazeiroso,
pois falavam-me de algo muito, muito delicado. Caso de um grande negócio se
tratasse, a mesa seria farta e demorada, à boa maneira portuguesa. Mas não. O
projeto era simples, com um nome apetitoso. Sete Pecados (I)mortais. E, à
medida que mo desfiavam, eu e o meu café, observámos em silêncio curioso uns
olhos bonitos que cintilavam de luz, num rosto iluminado pelo entusiasmo do
pormenor que se desnudava, em pausa cadenciada, como se desabrochasse ali
mesmo, naquele instante, un tout vrai
premier amour….(não é assim que olhamos sempre para os nossos pequenos grandes
projetos?).
“Falas do que
quiseres, como quiseres. Só tens de escolher o tema.” Seria pecado mortal
recusar? Talvez. Pelo sim, pelo não, dei por mim a aceitar a amabilidade do
convite. Foi necessário refletir, embora a escolha não tenha sido difícil, porque
a Arte e a Pintura sempre me atraíram desde cedo. E será sobre Pintura que vos
falarei, num agradável (espero eu) exercício de partilha com quem me quiser ler.
Pois não é assim? Um blogue precisa de leitores e, neste caso concreto, de
leitores que nutram um enamoramento permanente e incondicional pela Arte.
Rembrandt, Artista no Seu Estúdio, óleo sobre tela,1629
Boston’s Museum of Fine Art
Estranham a
escolha desta obra para um primeiro post?
Pintada em 1629, Artista no Seu Estúdio é,
para mim, um hino à obra de arte. Nesta época, a pintura de plein air ainda não era moda e a Escola
de Barbizon ainda estava longe. Esta masterpiece
de Rembrandt (pelo menos, para mim) enfatiza a Obra em detrimento do Artista. Este,
deleitado, observa-a, numa penumbra discreta, quase não acreditando na luz que
dela irradia. A Obra-Prima é fruto da sua misteriosa capacidade de inventar, e
por isso é sempre única. Nasce da especial aptidão do Artista, mas sobretudo da
sua criatividade, da sua imaginação que não conhece fronteiras. Espelha
personalidade, destila subjetividade e é, manifestamente, reflexo do seu gosto
próprio e peculiar. Kandinsky afirmou, na sua obra ”Do Espiritual na Arte”, que
toda a obra de Arte é filha do seu Tempo. Sim, a Pintura também não fica imune
à máxima de Wassily. Ela desvenda o Tempo e a História e é uma fonte de
conhecimento inigualável do passado.
Mas também é
verdade que nenhum homem é uma ilha e que, por isso, se deixa influenciar pelo
mundo ao seu redor. De destacar a forte marca de Caravaggio, com o seu chiaroescuro e de Rubens, pintor da cor,
a quem Rembrandt foi buscar igualmente o amor pelas cenas bíblicas; mas o mundo
conhecido como o Sentimento também marca qualquer artista. Afetos, sensações,
amor… tudo isto está na origem de qualquer obra de arte. Sem ele, o Sentimento,
que arte teríamos?
Esta pintura
seduz pelo mistério que a envolve. De um lado, o Artista. Do outro, a
Obra-Prima. O que desenhou o autor na tela que se agiganta perante ele? Que
raridade estará ali representada? Que jogos de luz e de cor a inundam? E que
movimentos de alma? Angústia, medo, amor, volúpia? Posso imaginar a Natureza
ali retratada em toda a sua força e esplendor, posso pensar que foi mais forte
que ele o amor pela paisagem verdejante de um bosque e que, por isso, a
retratou ali, imponente. O bosque foi a inspiração, mas o Artista, apaixonado,
imprime-lhe caráter, personalidade…ao bosque, ao arbusto, à flor, à árvore… e a
imaginação corre veloz a dar forma única à composição, à cor caprichosa, como
uma carícia. Será, porventura, Saskia, o amor de sua vida, cujos traços usou
para dar vida às mulheres dos seus quadros? Ou Hendrickje, o novo amor a ocupar
o seu coração? E que não se cansou de representar? Assim, se o Artista pretende
ou prefere inspirar-se na Natureza, numa figura humana ou num arbusto, tem de
dar atenção a uma cor fria ou caprichosa? A um traço-suave ou determinado? A
uma técnica-óleo ou têmpera? Tem de escolher a luz, diáfana, viva ou orgulhosa,
e por vezes, aliás, muitas vezes, tenebrosa. E eis que a Arte se define também
como um gosto, pessoal, único e intransmissível. Como uma escolha.
Aprecio
Rembrandt. Porque se integra no movimento barroco? Sim.
Porque é na
paisagem, tão cara aos Holandeses, que Rembrandt se transforma? Sim.
Porque a escola
de Rembrandt desenvolve o gosto pela fé, pela sensualidade, pela aventura?
Também.
Até à próxima!
Rosa Maria
Alves da Fonseca
Gosto destas abordagens à arte transbordantes de emoção. Aliás, a arte é indissossiável da emoção!
ResponderEliminarPost plenamente conseguido, Minha Amiga! Parabéns pela tua estreia, aqui nos Sete Pecados!
Gosto desta Obra-Prima de Rembrandt repleta de emoção. Esta pintura seduz pelo seu mistério... desenvolve o gosto pela fé, pela sensualidade, pela aventura e Amor!!! Parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigado pelas palavras simpáticas e pelo contributo. Se quiser assinar o comentário, mas não conseguir, aconselho a colocar o nome no URL ou no final do comentário. :)
EliminarObrigada, Anabela, Minha Amiga do coração.
ResponderEliminarQue calinada! Ainda bem que voltei aqui. Indissociável, claro!
ResponderEliminarVolta sempre. Com calinadas e tudo. Ehehehe
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