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segunda-feira, 21 de março de 2016

O MELHOR DE MIM, de Mariza



O final do ano de 2015 trouxe um novo álbum de Mariza, após cinco anos de paragem, e a expetativa era enorme entre todos aqueles que apreciam a cantora assim como no mundo do fado nacional.
O álbum “Mundo”, produzido por Javier Limón, cumpre mas não deslumbra. A canção mais emblemática do novo trabalho de Mariza – O Melhor de Mim – concentra toda a sua força na letra e na voz de Mariza.

No refrão, Mariza proclama que o seu melhor "ainda está para vir" e talvez seja verdade. 
Mariza não sabe cantar mal e a interpretação desta música traz aquela voz triste e doce que identifica a alma lusitana que canta o fado. A letra acompanha essa ideia quando anuncia que “É preciso perder / para depois se ganhar / E mesmo sem ver / Acreditar”, como se a dor, a provação fizessem obrigatoriamente parte da felicidade ou toda a alegria tivesse que ter sempre o seu quinhão de tristeza. Não tem que ser obrigatoriamente assim! Qualquer dia destes, alguém conseguirá quebrar este fado mental que nos apouca…

Ainda que se proclame uma fé inabalável em melhores dias ("O Melhor de mim ainda está para chegar” / “Acreditar”), esse otimismo parece ser pouco sustentado em qualquer atitude proactiva ou ação do ser humana. Talvez não fosse má ideia que as canções dos nossos melhores artistas procurassem desafiar esta lógica de tristeza congénita que espera sentada na margem a chegada de novos e melhores dias e decreta que pouco mais se pode fazer do que esperar.
A potente e límpida voz de Mariza não nasceu apenas para o fado. O melhor registo de Mariza está no álbum “Terra”, onde a cantora se aproxima mais de um registo de World music e presenteia o público com músicas belíssimas onde as raízes africanas de “Beijo de Saudade” se cruza com a alma fadista lisboeta de “Alfama” e “Minha Alma”, ao mesmo tempo que revela uma Mariza confiante no seu peculiar registo como acontece em “Se eu mandasse nas palavras”.
Vale a pena ouvirmos “O Melhor de Mim”. Não é o melhor de Mariza, mas é uma bela canção. Lá encontramos parte da nossa alma e da nossa tristeza sem razão que parece que nos impulsiona mas na verdade apenas justifica antecipadamente o nosso fracasso presente.

Gabriel Vilas Boas

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

AO SOM DE... MARIZA


É comum dizer-se que o Fado expressa a alma portuguesa. Esta ideia ganha verdade e luminosidade quando ouvimos Mariza.
A sua voz, potente e límpida, encanta os sentidos e, sobretudo, descontrola as emoções. Mariza tem, na voz, doçura da alma lusitana. Quando ouço aquele arranque potente, fulminante, comovedor de “Ó gente da minha Terra, só agora é que percebi…” é difícil suster as lágrimas que nos invadem por completo, vindas não sei de onde, e nos convocam ao mais profundo sentimento português.
Recordo esse fabuloso concerto junto à Torre de Belém, com o público num silêncio arrepiante de quem moía aquele sentimento que brotava das guitarras, da letra e, especialmente, da voz de Mariza.
Mariza tem o dom de tornar letras muito boas em poesia única e irrepetível porque a sua voz tem o comando dum general, a doçura duma Mãe e a beleza duma Mulher.


Muitas vezes somos apanhados desprevenidos por esta maravilhosa cantora. Foi o que me aconteceu hoje, enquanto lia despreocupadamente o jornal, a meio da tarde, junto à lareira dum salão de chá, quando o silêncio foi derrubado pela sua voz inconfundível:
“Que a vida tem pressa
Que tudo aconteça
Sem que a gente peça
EU SEI

Eu sei que o Tempo não pára
Que tempo é coisa rara”

E toda aquela letra parece feita à medida da história pessoal de cada um de nós.

“Não sei se andei depressa demais
Mas sei que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo
Que me dê mais tempo
Para olhar para Ti!
De agora em diante
Não serei distante
Eu vou estar aqui!”

Mariza costuma dedicar ao filho este lindo poema de Miguel Gameiro, mas cada um pode adaptá-lo com facilidade à sua realidade e à sua idade que a música não perde atualidade, verdade ou emoção.
Mariza torna certas letras e algumas canções algo para além da estética. Fá-las pedaços de nós: recordações suaves, frustrações nunca ditas, amores por viver, amizades interrompidas, saudades de objetos, lugares e pessoas.
Ouvir Mariza pode fazer mal ao coração, mas enche a alma de tantas recordações que saltam do baú da memória, num turbilhão de emoções que nunca conseguimos controlar.

Gabriel Vilas Boas