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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

AO SOM DE... MARIZA


É comum dizer-se que o Fado expressa a alma portuguesa. Esta ideia ganha verdade e luminosidade quando ouvimos Mariza.
A sua voz, potente e límpida, encanta os sentidos e, sobretudo, descontrola as emoções. Mariza tem, na voz, doçura da alma lusitana. Quando ouço aquele arranque potente, fulminante, comovedor de “Ó gente da minha Terra, só agora é que percebi…” é difícil suster as lágrimas que nos invadem por completo, vindas não sei de onde, e nos convocam ao mais profundo sentimento português.
Recordo esse fabuloso concerto junto à Torre de Belém, com o público num silêncio arrepiante de quem moía aquele sentimento que brotava das guitarras, da letra e, especialmente, da voz de Mariza.
Mariza tem o dom de tornar letras muito boas em poesia única e irrepetível porque a sua voz tem o comando dum general, a doçura duma Mãe e a beleza duma Mulher.


Muitas vezes somos apanhados desprevenidos por esta maravilhosa cantora. Foi o que me aconteceu hoje, enquanto lia despreocupadamente o jornal, a meio da tarde, junto à lareira dum salão de chá, quando o silêncio foi derrubado pela sua voz inconfundível:
“Que a vida tem pressa
Que tudo aconteça
Sem que a gente peça
EU SEI

Eu sei que o Tempo não pára
Que tempo é coisa rara”

E toda aquela letra parece feita à medida da história pessoal de cada um de nós.

“Não sei se andei depressa demais
Mas sei que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo
Que me dê mais tempo
Para olhar para Ti!
De agora em diante
Não serei distante
Eu vou estar aqui!”

Mariza costuma dedicar ao filho este lindo poema de Miguel Gameiro, mas cada um pode adaptá-lo com facilidade à sua realidade e à sua idade que a música não perde atualidade, verdade ou emoção.
Mariza torna certas letras e algumas canções algo para além da estética. Fá-las pedaços de nós: recordações suaves, frustrações nunca ditas, amores por viver, amizades interrompidas, saudades de objetos, lugares e pessoas.
Ouvir Mariza pode fazer mal ao coração, mas enche a alma de tantas recordações que saltam do baú da memória, num turbilhão de emoções que nunca conseguimos controlar.

Gabriel Vilas Boas


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