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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

KIPLING



A 30 de Dezembro de 1865, nascia em Bombaim, o conhecido escritor britânico Rudyard Kipling. Extraordinário contista, maravilhoso poeta, homem íntegro, por vezes polémico. Para mim será sempre o autor de “IF”, um poema magnífico que não me canso de ler, apesar de longo.
A História recordará Mr. Kipling enquanto autor do famosíssimo “Livro da Selva”, um clássico da literatura infantil que milhões de pessoas em todo o mundo leram e adoram e que o fundador do escutismo Robert Baden-Powell adotou para as atividades das crianças entre os sete e os onze anos.
O seu poder narrativo, o seu génio criativo, a capacidade de síntese tornaram-no o mestre do pequeno conto. Em 1907,com apenas 32 anos, Kipling tornou-se no primeiro autor de língua estrangeira a receber o Nobel da Literatura e simultaneamente o mais jovem.
No dia de hoje, quero apenas recordar o poeta, o homem que escreveu esse extraordinário texto de intensa luz e filosofia estóica que se chama “IF”.


SE

"Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê... Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calúnia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos...

Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!"

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