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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014 - O ANO DO DESENCANTO



2014 chegou ao fim e não me deixará saudades.
Quando penso numa palavra que defina este ano, DESENCANTO é aquela que melhor resume o sentimento que experimentei em muitos momentos, perante os vários factos que fizeram a história dos dias.
Partindo da perspetiva portuguesa, 2014 foi o ano em que a troika foi embora, deixando atrás de si um rasto de empobrecimento do país que muitos sentem até aos ossos. Ao fim de três anos de sacrifícios, os portugueses perceberam aquilo que no início fora negado: o plano sempre fora baixar o rendimento médio dos portugueses em 20/30%, para estar de acordo com aquilo que os alemães acham que deve ser o nosso nível de vida. Como sempre vivemos no limite das nossas possibilidades, bastou que o Bundesbank subisse os juros 3% para que sentíssemos água nos pulmões.



Todavia, o meu maior desencanto não foi a falta de solidariedade europeia, mas sim a impotência do governo português. Não tanto por tudo ter aceitado com resignação de condenado, mas por não ter tido nenhuma ideia mobilizadora que pusesse o país a mexer, a lutar pela recuperação. Parecemos sempre um país de reformados a quem tiram 20% da sua magra reforma, mas que não protesta com medo que lhe tirem ainda mais. Como não reclama, só geme, chegará o tempo em que novas reduções chegarão.
Mais um ano em que produzimos pouco, para pagar muitos juros da nossa tamanha dívida que nunca deixará de ser grande e impagável.
Ao desencanto soma-se a resignação. Resignação dos velhos e dos novos. Uns e outros deixaram de acreditar no futuro de Portugal. Os velhos esperam que os medicamentos não falhem, que os hospitais não fechem valências, que os bombeiros tenham dinheiro para a gasolina. Os novos acreditaram que Passos Coelho não aldraba nas más notícias e foram-se embora. O país comandado pelos impotentes Passos Coelho e Paulo Portas não tinha empregos a mil euros para mais de cem mil portugueses que tiveram de despedir-se do país que os pais lhes ensinaram a amar. Não ter ideias para aproveitar os mais qualificados dos portugueses devia ser razão suficiente para um governo se ir embora. Mas este ficou… a empatar-nos a vida.



Nós e eles passámos o verão a assistir à mais cara telenovela portuguesa: o desmoronamento do BES. Finalmente, a elitezinha portuguesa vai poder brincar aos pobrezinhos com o muito que sobrou dos seus esquemas fraudulentos e corruptos que todos nós voltámos a pagar: cinco mil milhões. Dinheiro que o governo foi pedir à troika para capitalizar o Banco Bom, porque o Mau era tão mau que ninguém quis ver o fundo do poço. Claro que o povo ficou como avalista. O povo não sabe, mas isso significou mais uns largos anos sem o dinheiro que nos tiraram e continuam a tirar nos salários, nas pensões, nos impostos. Somos mesmos patos mansos…
Pelo mundo, o ébola mostrou que há doenças de rico e doenças de pobre e que só quando as doenças dos pobres atingem um rico e um branco, alguém se preocupa em tentar encontrar uma cura para ela.



Obama “flopou” na América, Putin mostrou que se a Ucrânia não ajoelha à Gazprom, ajoelha aos tanques na Crimeia, Hollande tornou-se numa desilusão nacional depois de ter desiludido Valérie Trierweiler. Durão Barroso percebeu que foi durante dez anos o fraco e insignificante mais útil que Merkel teve.
No Vaticano, o Papa luta contra todos os podres e poderes instalados numa Igreja fossilizada. Estrebucha, propõe, recebe as palmadas nas costas dos que vão à missa de vez em quando, mas as suas propostas avançam a passo de caracol.
Dá que pensar que seja um velho de 78 anos a ter urgência em reinventar a ESPERANÇA.


Gabriel Vilas Boas

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