Há poucas semanas, Antero de Alda publicou MIL VIDAS TEM S. GONÇALO, um
livro de fotografias e texto, dedicado ao santo padroeiro de Amarante.
Trata-se de mais um trabalho de extrema qualidade do fotógrafo e poeta
visual Antero de Alda sobre S. Gonçalo, Amarante e as pessoas da cidade de
Teixeira de Pascoaes e Amadeo.
Usando primordialmente a imagem, Antero de Alda permite ao leitor
perceber a história do santo casamenteiro das velhas e a sua importância na
sociedade amarantina. As fotos, de extrema qualidade e sensibilidade, “explicam”
como S. Gonçalo preenche o quotidiano social, afetivo, cultural e até económico
da vida dos amarantinos. O profano e o religioso misturam-se e complementam-se
sob o olhar da objetiva do artista.“Mil vidas tem S. Gonçalo” é um livro de Imagem
e de imagens, onde a ligação do santo às pessoas e às suas vidas é mostrada e
demonstrada.
Antero de Alda gosta de fotografar os velhos e fá-lo como ninguém.
Capta-lhes a expressão serena, triste, por vezes, vazia e cansada. Fotografa
também as crianças na procissão de S. Gonçalo. Só que aqui o objetivo é outro.
A ligação das pessoas de Amarante começa desde cedo, quase que dum modo
inconsciente, participando na procissão e nas festas do Junho que têm o santo
como referência.
Antero de Alda fotografa memórias prestes a apagarem-se, fotografa
gente silenciosa, anota o último depoimento duma geração que cresceu e viveu em
volta da Igreja. Não é por acaso de vemos gente com sessenta, setenta e oitenta
anos exibirem com natural orgulho a imagem de S. Gonçalo que guardam em casa
como uma relíquia pessoal.
Mas não são apenas imagens. Há palavras do próprio autor que resumem
bem este sentimento de muitos amarantinos ao longo das últimas décadas:
“Eis um ritual de domingo: a missa com a filarmónica pela manhã e, ao meio
da tarde, o cortejo de oferendas na Senhora do Vau em Gatão (o doce rufar dos
bombos de Jazente entre urzes e lírios de Pascoaes), o regresso a S. Gonçalo,
as montras da doçaria Mário, as fotografias do Eduardo e os livros do Patrício
na padaria do Pardal, a passagem pela ponte velha até ao Arquinho, a Casa da
Calçada, os tocadores de concertina e a cantadeira do Grupo Folclórico de Vila
Chã do Marão no parque ribeirinho, os sequilhos da Tinoca e o nome da Lai-Lai
ainda gravado a metal na calçada da 31 de janeiro (o Cuvelo!), o António Pedro
do “flor do Tâmega”, o Júlio do Avião e as violas amarantinas na tasca do Adérito,
a volta pela ponte nova, o museu do Amadeo e outra vez Pascoaes, na sua estátua
de bronze sobre pedra de Guimarães, os doces fálicos do santo casamenteiro e os
bolos da Teixeira da dona Isaura da Conceição, os peditórios do Alfredo marinheiro
e do cigano que arranha no acordeão, os passeios de cinco euros nas gaivotas do
rio, as pombas da praça, a varanda dos quatro reis, o toque dos sinos da torre
do mosteiro… Depois, a visita noturna à esplanada do Café Bar. Enfim, o zelo
semanal de mais um postal para me reconciliar com Deus.”
Antero de Alda
Antero
da Alda é isto e muito mais. Um artista discreto, mas multifacetado e dinâmico.
Poesia visual, fotografia, pintura, scriptopoemas… Muito reconhecido e admirado
internacionalmente, muitos amarantinos ainda precisam de o descobrir. Este
livro é uma ótima oportunidade.
Gabriel
Vilas Boas
Merecidíssimo destaque, Gabriel! O Antero bem o merece pela obra que vem desenvolvento, também em torno desta amarantinidade que é tão nossa!
ResponderEliminarOlá Gabriel,
ResponderEliminarvenho expressar a minha gratidão pelo que muito generosamente escreveste sobre este "Mil Vidas...", especialmente nas difíceis circunstâncias em que se publicou e se publicitou, consciente de que este teu texto, com as imagens, constitui um importante contributo não só para divulgar mas também para compreender o livro. Fico grato, ainda, à Anabela (mais uma vez) pelo comentário. O meu abraço aos dois.
Tantas saudades. E que falta faz na escola! Ainda vou, amiúde, à sala dele, agora vazia dele...
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