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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

MANOEL DE OLIVEIRA, O CINEASTA ETERNO





Hoje, o cineasta Manoel de Oliveira completa 106 anos de idade. 

A notícia é mesmo a improvável idade do mais velho cineasta do mundo, mas Manoel de Oliveira fez questão de acrescentar outro facto inédito ao seu centésimo sexto aniversário: realizou mais um filme – O Velho do Restelo – que estreia hoje nas salas de cinema portuguesas. A película franco-portuguesa “junta” Camilo Castelo Branco, D. Quixote de la Mancha, Camões, Teixeira de Pascoaes num jardim da Foz, no Porto, para discutir Portugal, desde o seu passado glorioso ao seu futuro incerto. Manoel de Oliveira diz que o seu filme pretende ser “uma reflexão sobre a Humanidade e sobre os tempos que correm”. Veremos como a crítica o acolhe e já agora o público.



Provavelmente a maioria de nós passará ao lado do novo filme de mestre Oliveira como passou ao lado da maioria da sua filmologia. De facto, o cineasta portuense não é amado pelo seu povo, que, no entanto, tem um profundo respeito pela sua obra e um carinho muito grande pela sua carreira e personalidade. 

Este respeito e reconhecimento que a obra cinéfila de Manoel de Oliveira granjeou, mesmo entre nós, provém dos inúmeros prémios que foi conquistando… no estrangeiro, especialmente em França, onde a sua obra é muito apreciada pela crítica.

Muito envergonhados pelo êxito internacional dum dos nossos, as entidades oficiais lá foram enchendo de comendas o realizador de “Vale Abraão”, “A Carta” ou “O Convento”. Comendador da Ordem Militar de Santiago e Espada (1980), Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago e Espada (1988), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2008). O país oficial foi-lhe colocando na lapela as honras que o seu cinema merecia ainda que o gosto fosse de outros. 

E por que não apreciam os portugueses o cinema de Manoel de Oliveira? Na verdade, os portugueses não morrem de amores pelo cinema português, ainda que a relação tenha vindo a melhorar. 

As poucas pessoas que semanalmente vão a uma sala de cinema apreciam o cinema de ação, onde o movimento é essencial. Manoel de Oliveira tem outra conceção do trabalho que há a fazer com a câmara. O seu cinema é reflexivo, centra-se na personagem ou na paisagem e procura que o espetador leia para além da história. Ora, nem sempre o espetador tem o espírito do sábio que completa, reflete, saboreia. 

O curioso é notar que a carreira de Oliveira nem sempre foi tão melancólica como as gerações atuais podem supor. 

O homem que começou a realizar películas no tempo do cinema mudo, teve um início difícil. “Douro, Faina Fluvial” seria muito bem recebido pela crítica internacional, mas desprezado em Portugal (já nessa altura era sim…), Aniki-Bobó (1942) foi um fracasso comercial e a sua incursão pelo cinema popular, onde participou como ator, não o seduziu.



Depois de vários anos de ausência, regressou, na década de sessenta, com “O Acto da Primavera” e “A Caça” – obras marcantes no seu percurso cinematográfico – mas a PIDE não achou muita piada a algumas cenas e Manoel de Oliveira lá teve de dormir uns dias na prisão. 

Depois da revolução de Abril de 1974, Manoel de Oliveira liberta a torneira produtiva e não está mais de dois anos sem realizar película nova. Pela sua mão passaram atores como Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Diogo Dória, Rogério Samora, Miguel Guilherme, Isabel Ruth, Ricardo Trêpa (seu neto), Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni, John Malkovich, Michel Piccoli, Irene Papas, Chiara Mastroianni, Lima Duarte ou Marisa Paredes.



Absorvendo com a mesma bonomia críticas, comendas e elogios, Manoel de Oliveira trilha inexoravelmente o seu caminho que parece não ter fim. Aos cento e seis anos, o Senhor Realizador está cheio de projetos: um filme sobre as mulheres e as vindimas e a adaptação de ‘A Ronda da Noite’, de Agustina Bessa-Luís. Há ainda ‘A Igreja do Diabo’, conto de Machado de Assis que Oliveira quer rodar com os brasileiros Lima Duarte e Fernanda Montenegro.

O melhor é encolherem esse sorriso, porque o homem é mesmo capaz de os concretizar daqui a um ano ou dois!

Gabriel Vilas Boas

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