Etiquetas

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

FRANCISCO SÁ CARNEIRO



Francisco Sá Carneiro é o maior mito político da democracia portuguesa.
Ele era o herói prometido que catapultaria Portugal para tempos de prosperidade, onde democracia, crescimento social e económico e solidariedade faziam sentido em conjunto.
As suas ideias políticas, a sua conduta política, cívica e até pessoal deixavam antever que ele era o homem certo no lugar certo. Infelizmente, as circunstâncias não permitiram confirmar ou desmentir tão avassaladora previsão.
Tinha quase sete anos quando o acidente (ou atentado) que o vitimou ocorreu, deixando o país em estado de choque. Recordo a tristeza que invadiu a casa do meu avó materno, pois conhecia o pai de Sá Carneiro, já que ambos eram naturais de Barcelos. Desde logo fiquei com a sensação que se tinha perdido um homem bom, excecional, um raio de luz no panorama político português.


Ninguém de boa fé pode afirmar que Sá Carneiro cumpriria as enormes expectativas que recaiam sobre ele, mas nunca ouvi ninguém afirmar que não seria capaz.
Coragem política e pessoal não lhe faltava. O homem que nasceu numa família cristã e tradicional do norte do país, afirmava claramente que os partidos não deviam ser confessionais, defendia a social-democracia de inspiração alemã, que rejeitava o coletivismo e estatismo marxistas, porque achava que as pessoas tinham direitos e deveres inalienáveis, mas ao mesmo tempo apoiava a Reforma Agrária Alentejana e tinha orgulho que o partido que ajudou a fundar (PPD/PSD) fosse o partido dos operários, dos trabalhadores, da classe média-baixa e da classe média. Durante o seu curto governo de onze meses, a despesa social aumentou, o que mostra bem que estas ideias não eram apenas maneira de conquistar votos.


Adorado por largos setores da sociedade portuguesa, Francisco Sá Carneiro era homem muito respeitado pelos seus rivais políticos que tiveram de se penitenciaram quando trouxeram a vida privada do líder do PPD para a disputa política. Num país cheio de preconceitos e hipocrisia, Sá Carneiro não teve pejo nenhum em assumir a relação amorosa com Snu Abecassis e pôr fim ao seu casamento de anos.



Francisco Sá Carneiro chegou ao poder em finais de 1979, liderando uma coligação com o CDS de Freitas do Amaral e o PPM de Ribeiro Teles. O pouco tempo que durou o seu governo não permite uma avaliação justa, por isso não é possível perceber se aquela promessa de herói, da jovem democracia, portuguesa trilhava a estrada do vitória ou do engano.
O trágico acidente(?) que o vitimou, nunca cabalmente esclarecido, apenas contribuiu para aumentar a sua áurea sebastianista. Talvez seja mais romântico acreditarmos que ele foi assassinado, talvez seja inconveniente admitir que mesmo tendo havido sabotagem da aeronave, ele não seria o alvo, mas sim Adelino Amaro da Costa, talvez...
Hoje, trinta e quatro anos depois do desaparecimento de Sá Carneiro, lembro os versos de Fernando Pessoa, “O mito é o nada que é tudo”, e lamentou profundamente que apenas tenhamos tido direito ao mito e não ao herói!

Gabriel Vilas Boas 

1 comentário: