Durante este Natal, passei alguns dias em Cascais e pude voltar a apreciar toda a beleza da sua baía. Lindíssima, sedutora e inspiradora. Muitos portugueses “olharam” para ela, pela primeira vez, ao ouvir os Delfins, no início da década de 90 do século passado.
Há cinco anos atrás, no mesmo local que imortalizaram, os Delfins punham fim a uma bonita carreira que durou 25 anos.
Os Delfins "começaram" nos loucos anos 80 da música portuguesa. Depois de quatro anos titubeantes, “Um Lugar ao Sol” (1988) atira o grupo para a ribalta da cena musical portuguesa, onde serenamente esteve até ao final do século.
O grupo transmitia uma alegria serena, mas contagiante. Os adolescentes e os jovens gostavam da música que o grupo fazia, pois dela emanava um prazer de viver, um desejo de rasgar horizontes, uma força de lutar por ideais e projetos.
“Um lugar ao sol”, música de que gosto muito e que serviu de motivação para a minha primeira aula como professor, é uma canção marcante para uma geração, como a minha, que acreditava ser possível concretizar todos os seus sonhos. Voltar a ouvir esta canção é como regressar à inocência primordial em que acreditávamos plenamente que seriamos felizes para sempre.
Os Delfins conquistaram o seu lugar ao sol. Naquele bem-aventurado 1988 nasceu “Aquele inverno”, em que o grupo metaforizava os traumas da guerra colonial, que os nossos pais e avós viveram.
“Há sempre um piano
um piano selvagem
que nos gela o coração
e nos trás a imagem
daquele inverno
naquele inferno”
O grupo era “boa onda” e quase todos gostavam das suas canções. “Nasce Selvagem” e a famosa “Baía de Cascais”, no início da década de 90, confirmam o grupo de Miguel Ângelo e Fernando Cunha como um dos mais queridos dos jovens portugueses.
A letra da “Baía de Cascais” tem uma grane qualidade poética e uma carga simbolicamente muito grande para o grupo.
“Vejo o mar nos teus olhos
Ao contar-te velhos quadros
Das viagens, que o mar soube esconder
Eu pinto esta baía assim
E são mil cores ao pé de mim
Nesta baía eu descobri
Tantas imagens perto de mim
Só, no cais
Vou recordar esse teu olhar
à deriva no mar”
Ainda que mais espaçadamente o grupo foi apresentando outras canções que o público adotou: “Saber Amar”, “Ao passar o navio”, “Sou como um rio”, “Não vou ficar”.
No entanto, a partir do início do século XX, o grupo foi perdendo fulgor e importância. Estava muito agarrado a uma geração que já era adulta, cheia de preocupações e desilusões. Os “novos jovens” seguiam outros ídolos musicais e os Delfins não se souberem reinventar nem se adaptar. Diria que se perderam num mar azul. Nos últimos anos, os êxitos eram cada vez mais raros e menos retumbantes, por isso foi com naturalidade que grupo e fãs perceberam que a longa jornada tinha chegado ao fim.
Foram 25 anos muito bonitos, em que os Delfins criaram uma música jovem, despretensiosa, alegre e bem-feita. E com mérito conquistaram um “lugar ao sol” no coração de muito portugueses.
Gabriel Vilas Boas
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