Passam hoje 149 anos sobre a data em foi ratificada a mais importante emenda à Constituição dos Estados Unidos da América: a décima terceira. Com essa emenda os EUA tornaram-se, finalmente, um país civilizado e digno, pois aboliram, definitivamente, a escravidão no seu território. Há maldades tão profundas e desumanas que é verdadeiramente surpreendente verificar quem as defenda, quem lute por elas… No entanto, esta maldade existiu e continua a existir duma maneira dramática.
O cinema remonta histórias verdadeiramente extraordinárias, que nos fazem viver emoções profundas de júbilo e repulsa diante de algo tão indigno como o racismo. Num dia tão relevante para a luta contra o Racismo, recordo o melhor filme do ano de 2013 para a Academia de Hollywood – "12 anos Escravo".
Visionei o filme pouco depois de estrear em Portugal e guardo muitas memórias e emoções desse dia. De facto uma grande produção, onde a força do argumento (adaptado) e a qualidade do filme se impõem ao desempenho dos atores. Até nisso o filme cumpriu os seus objetivos.
A história remonta a 1841, quando um negro livre, que vivia um existência feliz, em Nova Iorque, com a mulher e duas filhas, aperfeiçoando os dotes violinista e carpinteiro, aceita um convite de dois homens para fazer parte duma digressão musical. Rapidamente os lucros e a glória prometidos tornam-se num horrível pesadelo que durou doze anos. Solomon Northup é raptado e transformam-no no escravo Platt. É comprado pelo dono duma plantação do Louisiana, onde será submetido a todo o tipo de indignidades e trabalhos forçados, durante mais duma década.
O filme de Steve McQueen procurou aprofundar a história da escravatura nos EUA e tratá-la duma perspetiva mais realista, pois usou factos verídicos.
Para mim, foi importante enquanto documento e como lição da História que procuro aprender. Gosto do cinema que vai além do entretenimento, que lembra as falhas do passado para que as sementes do mal não voltem a germinar.
Grande desempenho da mexicana Lupita Nyong'o que arrebatou o Óscar de Melhor Atriz Secundária
As peripécias daqueles doze anos de escravidão, que o filme relata com um estupendo poder de análise, são importantes para interiorizarmos a humilhação, a dor, o sofrimento que as ideias racistas infligiram e, nalguns pontos do nosso planeta, continuam a infligir a milhões de pessoas.
“12 anos Escravo” está a terminar o seu reinado hollywoodesco e talvez seja boa ideia ocuparmos duas horas deste nosso fim-de-semana gelado de dezembro a rever esta interessante película. Se sobrar tempo e sensibilidade, recomendo uma olhadela a "Lincoln", que triunfou no ano anterior ao de “12 anos Escravo”, na categoria de melhor ator, entre outras. É um filme complementar deste e dá-nos uma dimensão mais completa e coerente da luta dos americanos contra o Racismo, nem que para isso se tenham de pôr uns contra os outros. Talvez seja por isso que são um povo evoluído – são muito decididos a enfrentar os seus problemas e colocam-se em questão até encontrar a forma certa de viverem em sociedade.
Gabriel Vilas Boas
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