Barcelos é a cidade onde nasci. Há algumas semanas, revisitei-a e longamente me demorei em dois monumentos, que são igualmente duas "peças" arquitetónicas cheias de interesse e história: Paços do Conde de Barcelos e Torre de Barcelos.
Paço
dos Condes de Barcelos
O Paço dos Condes de Barcelos, também conhecido como o Paço dos Condes
de Bragança, é um edifício quatrocentista, em ruínas, situado em pleno centro
histórico de Barcelos e rodeado por um terreiro convertido em museu arqueológico,
recorta-se numa pequena elevação à saída da ponte gótica que atravessa o
Cávado.
É dotado de uma arquitetura
civil particular: o paço é de construção gótico-militar, com um castelo apalaçado,
que se insere bem nas soluções da Idade Média tardia, em que a arquitetura
militar e a palaciana tenderam a miscigenar-se.
A construção do paço acastelado
constitui a conclusão da obra da cerca amuralhada de Barcelos, aproveitando o
morro granítico frente à ponte. A forma dos desaparecidos telhados, altos e
agudos com declive acentuado e cobertos por talhões grandes, inspirou-se em
modelos do Norte da Europa.
Mais tarde, no início do XV, o
8.º conde de Barcelos, D. Afonso, filho bastardo de D. João I, fez construir a
cerca defensiva da vila. Em 1415, quando da expedição a Ceuta, o conde trouxe
muitos despojos para servirem na obra do seu paço em Barcelos.
Em finais do século, em 1419,
tendo D. João II confiscado os bens e senhorios dos condes de Barcelos, doou o
paço para a residência de Francisco de Mendanha, alcaide-mor e
capitão-fronteiro de Barcelos.
No começo do século XVII, no
Tombo dos Bens da Casa de Bragança, descreveram-se os Paços de Barcelos já
arruinados. Em 1874, o conjunto foi doado pelo Rei D. Carlos à Câmara de
Barcelos, para ser restaurado e se lhe dar utilidade.
Torre
de Barcelos
Deve-se ao 8º conde de Barcelos (e primeiro duque de
Bragança), D. Afonso, a construção das muralhas da vila, de que restam alguns
elementos, nomeadamente troços de muros e de alicerces e, sobretudo, a Torre de
Cimo de Vila. Erguida nos começos do século XV, passou, pouco mais de 200 anos
após, a ser conhecida por Torre da Porta Nova, porque o soberano da época, D.
João IV, mandou alargar o Postigo de Cimo de Vila e aí abriu essa ampla porta,
da qual seguiam os caminhos para Viana e Ponte de Lima.
A torre, grossa, de quase dois
metros e meio, foi inicialmente construída em U, ou seja, fechada apenas em
três lados, concluindo com uma estrutura de madeira. Daí a espessura das
paredes, mais tarde totalmente petrificadas. É rasgada por algumas janelas e
coroada por ameias.
Nos finais do século XVI
converteu-se em cadeia da comarca, devido à exiguidade da municipal (do
Tronco), e assim lhe surgiu mais um nome: Torre da Cadeia.
A Torre é de quatro pisos,
funcionando no térreo um centro de artesanato. Nos pisos superiores,
encontram-se o espólio do histórico Castelo de Faria, reunido após aturados
estudos e recolhas por um grupo de amigos (Grupo Alcaides de Faria), de que
ressalta a coleção de numistática, e um pequeno conjunto de armas de fogo dos
séculos XVIII e XIX.
Além da torre, existiram mais
duas poderosas estruturas do género: a Torre da Ponte, adossada aos Paços dos
Duques, e a Porta da Vala (ou do Vale), na saída da cidade para noroeste. As pequenas
aberturas eram cinco, a saber: Postigo do Pessegal, que dava para a barbacã; o
Postigo dos Pelames, na rua do mesmo nome; o Postigo da Ferraria, virada para a
Viela de Trás do Muro; o Postigo do Fundo da Vila e ainda o Postigo das
Vigandeiras.
Toda a muralha ainda existia em
1758, segundo a informação de um autor da época. Só depois os muros foram sendo
apeados e convertidos em edifícios.
Gabriel Vilas Boas
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