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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DA OFÉLIA, de John Millais



OFÉLIA é, provavelmente, o quadro mais famoso de John Millais. Trata-se dum óleo sobre tela, datada de meados do século XIX.
Esta pintura, admiravelmente personalizada, ilustra uma cena de Hamlet, a famosa peça de Shakespeare. Na peça do dramaturgo britânico, Ofélia enlouquece de desgosto após a morte do pai e afoga-se ao apanhar flores.
Enamorado que estava pela cena shakespeariana, Millais queria tornar o seu quadro mais realista possível. Por isso, passou meses a pintar junto à margem dum rio, fustigado pelo mau tempo e pelas picadas dos mosquitos. No entanto, foi no seu ateliê que pintou Ofélia. Para tal contratou a modelo Lizzie Siddal, enfiou-a num vestido velho e antigo e obrigou-a a passar horas a fio metida numa banheira, o que lhe causou uma valente constipação.


O quadro de Millais revela uma perfeição quase fotográfica e uma obsessão  fora do comum com o pormenor .
Ofélia encontra-se rodeada por várias plantas, todas elas muito simbólicas. Assim, o salgueiro representa a tristeza; a urtiga faz lembrar a dor e as roseiras simbolizam o amor e a beleza. Os amores-perfeitos estão no quadro para traduzir os pensamentos, enquanto a miosótis recorda a memória e as margaridas a inocência. Destaco ainda as papoilas e violetas que simbolizam a morte.
Outro pormenor digno de nota neste quadro é o pisco-de-peito-ruivo que Millais pintou no canto superior esquerdo do quadro. A peça de Shakespeare fazia referência a ele.

O jogo de luz/sombra é outro aspeto a relevar na análise desta obra-prima da pintura mundial. O fundo é composto de diversos tipos de folhas e sobre elas o pintor derrama luz de intensidade variável o que lhes confere diferentes tons de verde.  
Para pintar este quadro inspirado numa figura de Hamlet, Millais usou camadas finas de tinta sobre uma primeira camada de branco. Essa técnica produziu cores vivas e definidas. Os rais X de análise do quadro revelam que o artista inglês quase nunca fazia correções ao que pintava.
Apesar de todo o cuidado que Millais pôs na realização da sua Ofélia, a crítica não recebeu muito bem esta obra de pintor britânico e as primeiras apreciações foram até jocosas, mesmo entre aqueles que mais admiravam a obra do britânico. Só no século XX Millais foi compreendido e a sua “Ofélia” valorizada, por grandes nomes como Salvador Dali. Um escritor japonês de nome Natsume Soseki considerou-a “Uma obra de considerável beleza” e hoje o seu valor de mercado cifra-se nos trinta milhões de libras.
Mas talvez a maior coroa de glória que óleo de Millais seja o facto de se ter tornado numa imagem iconográfica, usada por músicos, fotógrafos, cineastas, cantores e romancistas.

Gabriel Vilas Boas 

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