Nasci num país e num continente onde a paz, tal como a liberdade, é um
valor pouco considerado, porque sempre o tivemos como adquirido e nunca o
perdemos.
Todavia, é inquestionável que a paz é um valor essencial de qualquer
sociedade. A partir dele, cada povo pode construir as suas opções de
desenvolvimento e cada indivíduo define a sua evolução pessoal.
O facto de não “discutirmos” a Paz é bom e é mau. Bom porque se tornou
num dogma de muitas sociedades modernas; mau porque não se discute a sua
qualidade e deixou de se lutar pela sua conquista nas zonas o mundo onde ainda
é uma miragem.
Eu não gosto deste conceito de paz mínima!
A paz é um valor tão extraordinário que não podemos encolher os ombros
quando milhões de pessoas não a abraçam há décadas e há gerações inteiras que
jamais sentiram o seu perfume.
A verdadeira paz é muito mais que a ausência de guerra. Os poetas dizem
que ela mora num reino chamado “consciência” e acho que é aí que a podemos
encontrar no seu estado mais puro.
Se “a nossa paz” habita um condomínio com o mesmo nome, há de ter momentos
de verdadeira angústia, porque é impossível haver paz onde existe desigualdade,
injustiça, discriminação, falta de oportunidades, usurpação de recursos. Não
concebo uma paz dos pequeninos e dos medíocres.
Quero uma paz onde não exista estratificação por género, cor, credo,
convicção, mas antes respeito pela diferença. Sei perfeitamente que é uma paz difícil
de alcançar, mas não é uma ideia utópica. Algumas sociedades aproximaram-se
muito deste conceito de pacifismo.
Alcançar este estádio é uma luta constante que exige muito de cada um e ainda
mais dos povos. É preciso reaprender a viver, melhorar o nível de educação,
saber ouvir, descer a taxa de arrogância e trabalhar muitíssimo para que muitos
outros alcancem aquilo que nós nunca deixámos de ter. Talvez melhorando a
qualidade da paz em que nadamos possamos criar o oásis onde outros possam ir
matar a sua sede.
Gabriel Vilas Boas
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