Passam hoje trinta
anos e quatro desde que Indira Gandhi iniciou o segundo mandato à frente do
governo da Índia, no qual se manteria até ao dia em que foi assassinada.
Indira é seguramente
a mulher mais importante da História da Índia. A par de seu pai, Nehru, e de Mahatma
Gandhi, faz parte da “sagrada família” dum dos povos mais numerosos do mundo.
Indira não tinha a
grandiosidade moral de Gandhi nem a astúcia política do pai, mas política e
ação corriam-lhe nas veias duma forma intensa.
Amada pelo seu povo,
que a recorda como uma mãe, provou que merecia governar por mérito e não por herança.
No entanto, o governo da Índia coube-lhe enquanto herança política do pai e ela
não a rejeitou… mas governou “à sua maneira”.
Desde 1966, governou
a democracia mais populosa do mundo, com mais de 500 milhões de pessoas que maioritariamente
viviam na pobreza. E Indira não virou a cara a nenhum desafio, nem que para
isso tivesse de quebrar tabus, privilégios de castas, fazer acordos com deus e
com o diabo. Ela era uma mulher de luta, de ação, para quem os fins
justificavam alguns métodos menos ortodoxos.
Nacionalizou bancos, iniciou
o programa nuclear indiano, acabou com pagamentos indevidos a grupos sociais e
étnicos privilegiados, lançou a revolução verde que tornou a Índia autossuficiente, quanto aos cereais, e terminou como milhões de casos de morte por causa da fome
que tanto a afligia.
Em termos políticos,
Indira era dura. Manteve com o Paquistão uma guerra de que saiu vitoriosa, pois
o apoio da Índia fez nascer o Bangladesh, a partir de território paquistanês.
Foi uma lutadora feroz.
Governou durante onze anos, perdeu as eleições de 1977, mas voltou a ganhar em
1980. Sucumbiria apenas perante a traição dos seus guarda-costas que permitiram
que fosse assassinada a 31 de outubro de 1984.
Nem sempre as
atitudes políticas de Indira foram louváveis. Esteve particularmente mal quando
instituiu o estado de emergência, perante acusações de fraude eleitoral. Nesse
tempo, Indira reduziu as liberdades civis, perseguiu a oposição, cortou a
eletricidade aos jornais que lhe eram hostis, fez aprovar leis especiais sem
permitir grande discussão...
No entanto, devemos
olhar para a seu legado como um todo e o saldo, a meu ver, é muito positivo.
Melhorou a vida dos milhões de pobres, governando para eles e com eles, impôs-se externamente e afirmou, definitivamente, a Índia como uma potência mundial.
Gabriel Vilas Boas
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