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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

BLOODY SUNDAY


O dia 30 de janeiro é um dia manchado de más notícias nos anais da História. Hitler é nomeado chanceler alemão em 1933, Mahatma Gandhi é assassinado em 1948, catorze irlandeses são alvejados mortalmente pela polícia britânica na Irlanda do Norte, quando faziam uma manifestação pacífica, naquele que ficou para a História como o domingo sangrento.
Fiquei a saber o que fora o Domingo Sangrento de 72 através da tocante música dos U2 “SUNDAY BLOODY SUNDAY”, editada em 1983.
A meio da letra, Bono e companhia interrogam-nos
And the battle's just begun
There's many lost, but tell me who has won?

Obviamente ninguém! Mas houve muitas perdas!

The trenches dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart

Onze anos depois daquelas tristes notícias que enchiam de dor o seu coração de irlandês, o líder dos U2 perguntava:

How long, how long must we sing this song?

Talvez nem Bono imagina-se que teriam de passar quase quarenta anos para que o governo britânico reconhecesse que os soldados britânicos procederam de maneira errada e apresentasse as suas desculpas aos familiares das vítimas.
O Domingo Sangrento de 1972 foi a chama que alimentou o IRA durante anos, foi a gasolina dum ódio que matou muita gente e no qual várias gerações de norte-irlandeses e ingleses cresceram e viveram.



E quando penso que isto partiu duma disputa entre católicos e protestantes, duas igrejas da mesma religião, mais revoltado fico. Tenho sempre muita dificuldade em perceber como quem prega a paz, a concórdia, a harmonia entre povos, dá tão péssimos exemplos.
Quando as igrejas desfocam a sua ação do essencial, rapidamente se tornam num exemplo perverso daquilo que nunca se deve fazer.
O “Domingo Sangrento” de Derry jorrou sangue durante muito tempo. Nesse longo inverno de dor, incompreensão e revolta fermentaram-se terroristas, cavaram-se fossos históricos entre dois povos que tinham tudo para se entenderam.
Foi a passagem do tempo que construiu a paz. E o tempo que se perdeu entretanto…
A vida dos povos e até dos indivíduos está cheia de “dias sangrentos”, onde a ira humana provoca danos consideráveis à paz desejada. A inteligência humana revela-se na capacidade de apreender o óbvio: só há uma saída quando se faz algo de muito errado, é fazer algo de muito certo. Assumir os erros, reparar o que é possível reparar são premissas fundamentais para seguir em frente.
Era magnífico que a História tivesse razões para desenhar uma flor por cima destas cicatrizes sangrentas.

Gabriel Vilas Boas

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