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sábado, 10 de janeiro de 2015

GETÚLIO, O FILME


"Saio da vida para entrar na História." Getúlio Vargas

Recentemente vi, já em vídeo, o filme “Getúlio”, sobre a maior figura política do Brasil da primeira parte do século XX – Getúlio Vargas. Revolucionário, chefe de governo, ditador, presidente eleito pelo povo, acabou por se suicidar a 24 de Agosto de 1954, quando decorria uma investigação ao assassínio do jornalista Carlos Lacerda, principal opositor de Getúlio Vargas.
O filme percorre a angústia de Getúlio nos últimos 19 dias da sua vida até decidir suicidar-se, quando se torna evidente, para toda a gente, que fora a sua guarda pessoal a arquitetar a morte do principal rival de Vargas, sem dar disso conhecimento a Getúlio.
Tony Ramos esteve brilhante, como é seu costume, no papel de Getúlio, que me pareceu um individuo cansado, amargurado, um pouco desiludido com aqueles que lhe eram mais próximos.

"Eu sempre desconfiei muito daqueles que nunca me pediram nada. Geralmente os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem."




O filme não é uma biografia de Getúlio, pois todos os anos que o controverso político brasileiro esteve no poder são resumidos pela voz da personagem principal do filme logo no início da película, com uma lucidez arrepiante. Na primeira pessoa, Getúlio refere as diversas fases em que teve o poder na mão, o modo antidemocrático como o manteve, mas também as coisas boas que fez, nomeadamente a criação da Petrobras, o salário mínimo, as férias pagas. Ao longo do filme, ele repisará estas ideias, para que fique bem claro que Getúlio fora um ditador que governou a favor do povo.
No entanto, não é esse o objetivo do filme. Penso que a pretensão do realizador foi mostrar a angústia de Getúlio nos últimos dias de vida, perante a acusação explícita de que seria impossível não ter dado tácito aval ao assassínio do seu principal opositor.


" Metade dos meus homens de governo não é capaz de nada, e a outra metade é capaz de tudo."

Vargas, melhor do que ninguém, sabia que em política o que parece é, mas neste caso o que parecia não era. No meu entender, é essa reabilitação moral inequívoca que o filme procura e que, no meu entender, consegue.
Todavia, penso que o realizador deveria ter ido um pouco mais além do drama psicológico final de Getúlio. A sua vida política rocambolesca incitava a uma abordagem mais histórica e factual da sua ação pública. Ainda que esta já tenha sido abordado em anteriores trabalhos cinematográficos e os brasileiros a conheçam bem, os europeus, como eu, e as jovens gerações brasileiras não têm um domínio tão claro dos factos.



Além do extraordinário desempenho de Tony Ramos, sobressai Drica Moraes, no papel de Alzira Vargas, a filha de Getúlio. Ela é a grande companheira, confidente, amparo do pai. Drica consegue sobressair dos restantes atores, agitando a cena, marcando ritmo, completando e contrapondo a sua personalidade lutadora ao cansaço de Getúlio.
A nível técnico é de realçar a excelente fotografia do filme e a ótima caracterização de atores, que fazem de GETÚLIO, de João Jardim, um bom filme, mas longe de ser excecional. Para ver e para discutir com os amigos que gostam de história do Brasil.

Gabriel Vilas Boas

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