“Tratar um tema pelas suas cores e não por si mesmo é o que distingue
os impressionistas dos outros pintores.” Georges Riviére,1 877
Museu D’Orsay, Paris
A Estação
ferroviária de Orsay,de uma beleza imensa,haveria de ser classificada Monumento
Histórico em 1978.
Em 1977,o
presidente Giscard D’Estaing toma a feliz iniciativa da criação do Museu
D’Orsay naquele espaço arquitetónico oitocentista,que haveria de ser inaugurado
por Mitterrand a 1 de Dezembro de 1986.
Este é um dos
museus imperdíveis da cidade de Paris.Em primeiro lugar,pelo facto de ser uma
jóia da arquitetura parisiense.Depois,pela magnífica coleção impressionista e
pós-impressionista que alberga.A pintura, a escultura, a fotografia e até a
arquitetura estão ali soberbamente representadas.As artes decorativas também
marcam presença nas salas dedicadas à Art Nouveau e ao movimento Arts&
Crafts.
Na pintura,obras
de Ingres,Delacroix,Millet,Corot,Degas,Cézanne,Gauguin ou Courbet enriquecem e
embelezam aquele espaço de exceção onde se transpira cultura.
Como já
perceberam, é de Pierre- Auguste
Renoir, natural de Limoges, um dos extraordinários artistas cujas obras também
ali podem ser apreciadas,que vos falo hoje.A voluptuosidade da cor transcende
todo o seu trabalho.Desde cedo,as suas idas à floresta de Fointainebleu para
pintar permitiram-lhe o contacto com a arte de Daubigny,de quem recebe as primeiras
influências.Mas é sobretudo Courbet que o fascina e que, a partir de 1866,vai
marcar toda a sua obra.
Pintou
paisagens,que foi alternando sempre com retratos e quadros de figuras.
Gleyre (crítico de Arte) criticava-o dizendo
que Renoir apenas ”pintava para se divertir”.Renoir em nada se incomodava e
respondia “Naturalmente…se pintar não me divertisse,nunca teria
pintado”.Acrescentava “A terra,paraíso dos deuses,isto é o que eu quero
pintar”.E assim foi.Renoir foi sempre recriando pequenos paraísos,descobrindo a
beleza,dando-a a descobrir como ninguém.
Em 1876,pintou
várias telas que podemos classificar de puramente impressionistas e que estão
espalhadas por diferentes museus do mundo,revelando uma espécie de sentido
calmo e tranquilo dos prazeres da vida, num misto de sensualidade apuradíssima
e sensibilidades únicas que as inundam.
Desse período é La Liseuse; aqui podemos observar o olhar puro do pintor sobre a jovem que lê.
Os cabelos cor de trigo em desalinho são propositadamente inundados de uma luz intensa que irradia da janela e emolduram um
rosto de uma beleza sem fim. O livro por onde a jovem viaja, recebe fios de luz
mais subtis e leva-nos a querer fazer parte daquela aventura misteriosa que a
envolve naquele sorriso quase inquieto. Os olhos marotos, quase fechados,
contrastam com os lábios desenhados em sorriso. A leitura, sendo um ato de
solidão, que nos isola dos outros mas que nos traz prazer sem fim, conhecimento
e viagens inimagináveis, é capaz disto. Arranca-nos belos e insondáveis sorrisos
em que nos deixamos perder e para onde nos deixamos levar.
Nada se sabe sobre esta jovem modelo. Mas ela continua lá, em Orsay.
Indiferente a quem a observa, mergulhada e envolvida pelas palavras que vai
desvendando numa leitura atenta, persistente, cadenciada. Os olhares de
admiração não a afetam, ela sabe do seu sorriso, conhece o seu efeito, acredita
na luz de Renoir. E deixa-se ficar no seu mundo.
Esta liseuse é prova inequívoca
do gosto e do prazer que Renoir sentia ao representar este tema, recorrente
desde o séc. XVIII e que denota um apreço especial pelo grande Fragonnard.
Eu, que já a observei, lamentavelmente com alguma pressa, entendo que
este é, sem dúvida, um dos mais belos sorrisos da História da Arte.
A figura feminina sempre seduziu Renoir, tendo-a representado
sucessivamente, em nus completos, ou apenas em rostos que desnudava em
sentimento. Como ele dizia “Seja Vénus ou Nini, não se pode conceber nada
melhor.”
Ora espreitem!
Renoir,La Liseuse (Jeune Fille
lisant un Livre),
1876. Musée d'Orsay, Paris.
Rosa
Maria Alves da Fonseca
Seria um presente poder visitar o museu e poder conhecer as obras fantásticas de Renoir.
ResponderEliminarVisitar Paris, com tempo, é um presente maravilhoso.
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