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domingo, 25 de janeiro de 2015

SYRIZA E A VERSÃO MODERNA DA DEMOCRACIA ATENIENSE


   Os deuses gregos não estão loucos nem os gregos são malucos, mas a verdade é que o Syriza chegou ao poder e vai governar a Grécia, provavelmente com maioria absoluta.
   Na verdade estou contente com a notícia. Hoje os gregos recuperaram um pouco da sua soberania, da sua dignidade, do conceito de democracia que ensinaram ao mundo. Há na Europa um povo que não se rende aos mercados, aos tecnocratas que nos levaram de mansinho à ruína e à indigência, enquanto uns poucos enriqueciam à sombra dum sistema capitalista puro que nos trouxe à beira da loucura.
   Amanhã os gregos estarão no limite do risco, sozinhos, desafiando o Bundesbank e a senhora Merkel, mas lá no fundo há muitos europeus que gostariam de ter a sua coragem. Não se trata doutra coisa, coragem para tomar o seu destino nas mãos e acreditar num partido que transporta consigo a mensagem mais clara dos gregos à Europa: “Basta! Estamos fartos! Recusámos ser os escravos da Europa!”



   Em quatro anos, os gregos ficaram com 25% da sua população ativa no desemprego; viram o seu rendimento médio reduzir-se a 600 euros mensais (era cerca de 900 euros), têm 50% dos jovens sem emprego, os velhos não têm remédios importantes nos hospitais… E do norte da Europa vinha o mesmo discurso de sempre: “Mantenham o mesmo trajeto que esse é o caminho.”
   Ora, os gregos sentiam-se caminhar para o abismo, sentiam que, metaforicamente, caminhavam alegremente para uma câmara de asfixia financeira da qual jamais se conseguiriam libertar. Hoje disseram: “Não, obrigado! Nós vamos por outro caminho!”
   Daqui para a frente têm dois caminhos: um mais pedregoso que outro. Ou convencem os alemães a aceitar o pagamento da dívida grega nas condições gregas ou saem do euro e percorrem o caminho das pedras, regressando ao dracma e a uma vida de pobre.



   Merkel já veio dizer que os gregos podem sair à vontade, mas acho que a maioria da Europa pensa diferente. Cabe a Tsipras mostrar aos seus colegas europeus, especialmente à França, à Itália, à Espanha, à Bélgica, à Holanda, ao Luxemburgo que a proposta grega é decente. E na minha opinião é!
   O Syriza colocou muito bem a questão na campanha eleitoral: os gregos querem algo parecido com aquilo que foi dado aos alemães depois da segunda guerra mundial: perdão de 50% da dívida e pagamento do restante com o crescimento grego. Afinal de contas, se o plano de austeridade alemão é honesto, ele há de produzir frutos e os gregos devem estar perto de começar a crescer economicamente. Se os alemães acreditam assim tanto neste método só têm que meter dinheiro nele.
    Hoje a Europa dos cidadãos livres e soberanos do seu destino renasceu. Espero que o Syriza não seja nenhuma fraude e seja digno da confiança que muitos depositam nele, nem que tenha sido in extremis. A esquerda idealista, social, plural vai meter as mãos na massa! Espero que a massa não a suje, que não traia os ideais que a elegeram e consiga levantar a Grécia e depois a Europa deste poço negro em que uma e outra caíram.

Gabriel Vilas Boas

4 comentários:

  1. Sem dúvida uma ideologia muito bonita, mas a História já ensinou que não passa disso. Ou já se esqueceram de quem enriqueceu na antiga União Soviética. Deve ter sido o povo mesmo!

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  2. O regime soviético não era um regime democrático. O Syrisa ganhou eleições livres e democráticas. Não percebo qual é o medo do Syrisa, da esquerda, dos comunistas no poder... E se eles fizerem melhor, não é bom para todos? Afinal de contas a ideologia até é "bonita". Portugal nunca teve um governo comunista, mas vive pobre. Há um fosso cada vez maior entre ricos e pobres. Era bom que aqueles que achas que "isto é só ideologia", deixassem o anonimato e nos dissessem onde está o dinheiro.

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  3. Como cidadão europeu eu espero realmente que eles consigam melhorar a sua situação e por consequência a situação da Europa também. Nenhum extremo é bom, independentemente se é da esquerda, da direita, independentemente da ideologia e das intenções. O problema é que os governantes socialistas são tão ou mais capitalistas, que os capitalistas assumidos e acho que Portugal percebeu isso muito bem.

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  4. Completamente de acordo consigo. A deceção é sempre muito pior de engolir. Claro que nenhum extremo é bom, nem agora há lugar a extremos. Não há espaço para mais falhanços nem preconceitos. Há um caminho muito difícil a fazer, mas o objetivo tem de ser fazer todos crescer e, sobretudo, tratar dos feridos que o sistema em que acreditamos durante décadas produziu. Em Portugal, vamos percebendo como chegamos até aqui, agora compete-nos arranjar alguém que faça alguma obra a partir dos escombros e alguém que "fiscalize" o empreiteiro a quem vamos adjudicar a obra.

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