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quarta-feira, 4 de março de 2020

A TURQUIA RESOLVEU EXPOR A HIPOCRISIA DA UNIÃO EUROPEIA


Erdogan, o cínico líder turco, abriu as portas da Europa aos refugiados sírios e encaminhou-os para a Grécia, já superlotada de gente fugida da guerra que não cabe na velha Europa, tão cheia de hipocrisia e egoísmo.
Merkel está de partida e com ela cai o último bastião de humanidade que existia entre os líderes de uma União Europeia submetida à tecnocracia, esquecida dos seus valores, perdia nos escândalos financeiros.
A Turquia de Erdogan é como a Rússia de Putin: sempre pronta para mostrar as contradições do discurso falsamente humanitária da União Europeia.

Quão longe estão os ideias que fizeram o alargamento a leste da UE! 
Estão longe, porque ninguém cuidou de comprometer quem chegava com os valores da solidariedade, da paz em sentido lato, da verdadeira democracia. Não basta uma moeda única, sobretudo quando uns a têm em muito maior quantidade que outros. Não basta um espaço social único quando a integração social dos mais pobres não é feita com dignidade.

Os gregos não podem suportar crises e refugiados sem ajudam; os alemães têm medo dos seus fantasmas nazis; os romenos não conseguem acolher e os outros encolhem os ombros como se a conversa não fosse com eles. 
Apesar das ameaças de Erdogan virem de longe, ninguém quis saber, porque realmente ninguém quer saber do ser humano, a não ser que ele tenha uma conta bancária. 
É mais fácil salvar bancos que pessoas. Ainda ninguém disse aos refugiados que a humanidade naufragou no mediterrâneo há uns anos. A Europa está mais perto do inferno do que do paraíso. 

Talvez tivesse sido boa ideia tratar de Bashar al-Assad em tempo oportuno e em casa, porque estes tecnocratazecos nunca salvaram nada além da conta bancária.

GAVB

segunda-feira, 11 de julho de 2016

ACRÓPOLE DE ATENAS


Num planalto com quase três hectares, o génio grego erigiu um dos mais notáveis conjuntos arquitetónicos da humanidade, hoje símbolo oficial da Unesco.
Quatro obras-primas da arte grega: o Parténon, o Propilen, o Erecteion e o templo de Atena Nike – afirmam, pelo gigantismo e pela magnificência, o esplendor da democracia ateniense no templo de Péricles.
O conjunto foi restaurado com o patrocínio de um programa comunitário e ilustra, com esplendor, a influência cultural da civilização grega, berço da identidade europeia.

Foi Zeus o primeiro a seduzir Europa e a dar-lhes filhos. Mais do que nunca, a Europa é uma ideia, um património de valores – talvez ainda um mito – antes de ser uma realidade geográfica. 

Foi pelo menos essa a ideia que presidiu às várias adesões à União Europeia que ocorreram nas últimas quatro décadas. 
Em 16 de abril de 2003, durante a presidência grega da União Europeia, aos pés da Acrópole, dez países assinaram o Tratado de Atenas, abrindo as portas da União ao leste da Europa e materializando, no papel, o sonho de uma Europa que abria as asas de condor para o mundo.

Infelizmente, tudo não parece ter passado de um sonho, uma utopia…

sábado, 4 de julho de 2015

TRAGÉDIA GREGA


Há onze anos, em pleno êxtase nacional com a sua seleção de futebol, onze gregos comandados por um alemão, em pleno estádio da Luz explicaram aos portugueses o que era uma tragédia grega. Portugal perdia o Campeonato da Europa para os gregos, que venciam pela primeira vez tal competição. Meia dúzia de semanas depois a Grécia recebia os Jogos Olímpicos, numa organização lindíssima, cheia de simbolismo e com custos económicos altíssimos.

Os gregos viviam o êxtase dos deuses e tudo era belo e bom, como a magia das suas ilhas. Poucos imaginavam que a década seguinte lhes traria a mais brutal tragédia social e económica que um país desenvolvido conheceu nos últimos setenta anos. Sófocles jamais conseguiria escrever uma tragédia como a realidade vivida pelos gregos nos últimos dez anos.
Rapidamente descobriram quanta corrupção jorrava dos gabinetes dos seus governantes e ficaram assustados com as dívidas que o país contraíra a juros altíssimos e absolutamente impagáveis.

Reclamaram, trocaram de governantes, fizeram greves e manifestações, puseram a ferros alguns impostures, lançaram mão de todo o seu estatuto civilizacional, aceitaram reduções de salários, afundaram a economia, mas a única coisa que conseguiram foi umas esmolas internacionais para uma sobrevivência a prazo, por entre humilhações nunca vistas.
Pediram compreensão, tolerância, mendigaram ajuda, mas agora o Édipo da Europa é tratado como um velho cego e errante, que cometeu o crime sem perdão de se sentar à mesa dos deuses do dinheiro sem ter dinheiro para jogar o futuro da sua gente nesta economia de casino em que a Europa se tornou.

Aturdidos, desesperados, trocaram de rei à espera que o destino lhes lançasse um olhar de comiseração. Talvez ainda não tenham percebido que o destino dos tempos modernos é feito por gente sem coração nem memória, autênticos chacais à espera da próxima vítima.
Amanhã empunharão novamente o escudo da democracia contra a ignóbil bazuca do dinheiro. Metade do povo do grego acha que a sua dignidade descende do escudo de Aquiles, a outra tem imensas dores de calcanhar.
Gabriel Vilas Boas


domingo, 25 de janeiro de 2015

SYRIZA E A VERSÃO MODERNA DA DEMOCRACIA ATENIENSE


   Os deuses gregos não estão loucos nem os gregos são malucos, mas a verdade é que o Syriza chegou ao poder e vai governar a Grécia, provavelmente com maioria absoluta.
   Na verdade estou contente com a notícia. Hoje os gregos recuperaram um pouco da sua soberania, da sua dignidade, do conceito de democracia que ensinaram ao mundo. Há na Europa um povo que não se rende aos mercados, aos tecnocratas que nos levaram de mansinho à ruína e à indigência, enquanto uns poucos enriqueciam à sombra dum sistema capitalista puro que nos trouxe à beira da loucura.
   Amanhã os gregos estarão no limite do risco, sozinhos, desafiando o Bundesbank e a senhora Merkel, mas lá no fundo há muitos europeus que gostariam de ter a sua coragem. Não se trata doutra coisa, coragem para tomar o seu destino nas mãos e acreditar num partido que transporta consigo a mensagem mais clara dos gregos à Europa: “Basta! Estamos fartos! Recusámos ser os escravos da Europa!”



   Em quatro anos, os gregos ficaram com 25% da sua população ativa no desemprego; viram o seu rendimento médio reduzir-se a 600 euros mensais (era cerca de 900 euros), têm 50% dos jovens sem emprego, os velhos não têm remédios importantes nos hospitais… E do norte da Europa vinha o mesmo discurso de sempre: “Mantenham o mesmo trajeto que esse é o caminho.”
   Ora, os gregos sentiam-se caminhar para o abismo, sentiam que, metaforicamente, caminhavam alegremente para uma câmara de asfixia financeira da qual jamais se conseguiriam libertar. Hoje disseram: “Não, obrigado! Nós vamos por outro caminho!”
   Daqui para a frente têm dois caminhos: um mais pedregoso que outro. Ou convencem os alemães a aceitar o pagamento da dívida grega nas condições gregas ou saem do euro e percorrem o caminho das pedras, regressando ao dracma e a uma vida de pobre.



   Merkel já veio dizer que os gregos podem sair à vontade, mas acho que a maioria da Europa pensa diferente. Cabe a Tsipras mostrar aos seus colegas europeus, especialmente à França, à Itália, à Espanha, à Bélgica, à Holanda, ao Luxemburgo que a proposta grega é decente. E na minha opinião é!
   O Syriza colocou muito bem a questão na campanha eleitoral: os gregos querem algo parecido com aquilo que foi dado aos alemães depois da segunda guerra mundial: perdão de 50% da dívida e pagamento do restante com o crescimento grego. Afinal de contas, se o plano de austeridade alemão é honesto, ele há de produzir frutos e os gregos devem estar perto de começar a crescer economicamente. Se os alemães acreditam assim tanto neste método só têm que meter dinheiro nele.
    Hoje a Europa dos cidadãos livres e soberanos do seu destino renasceu. Espero que o Syriza não seja nenhuma fraude e seja digno da confiança que muitos depositam nele, nem que tenha sido in extremis. A esquerda idealista, social, plural vai meter as mãos na massa! Espero que a massa não a suje, que não traia os ideais que a elegeram e consiga levantar a Grécia e depois a Europa deste poço negro em que uma e outra caíram.

Gabriel Vilas Boas