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sábado, 4 de julho de 2015

TRAGÉDIA GREGA


Há onze anos, em pleno êxtase nacional com a sua seleção de futebol, onze gregos comandados por um alemão, em pleno estádio da Luz explicaram aos portugueses o que era uma tragédia grega. Portugal perdia o Campeonato da Europa para os gregos, que venciam pela primeira vez tal competição. Meia dúzia de semanas depois a Grécia recebia os Jogos Olímpicos, numa organização lindíssima, cheia de simbolismo e com custos económicos altíssimos.

Os gregos viviam o êxtase dos deuses e tudo era belo e bom, como a magia das suas ilhas. Poucos imaginavam que a década seguinte lhes traria a mais brutal tragédia social e económica que um país desenvolvido conheceu nos últimos setenta anos. Sófocles jamais conseguiria escrever uma tragédia como a realidade vivida pelos gregos nos últimos dez anos.
Rapidamente descobriram quanta corrupção jorrava dos gabinetes dos seus governantes e ficaram assustados com as dívidas que o país contraíra a juros altíssimos e absolutamente impagáveis.

Reclamaram, trocaram de governantes, fizeram greves e manifestações, puseram a ferros alguns impostures, lançaram mão de todo o seu estatuto civilizacional, aceitaram reduções de salários, afundaram a economia, mas a única coisa que conseguiram foi umas esmolas internacionais para uma sobrevivência a prazo, por entre humilhações nunca vistas.
Pediram compreensão, tolerância, mendigaram ajuda, mas agora o Édipo da Europa é tratado como um velho cego e errante, que cometeu o crime sem perdão de se sentar à mesa dos deuses do dinheiro sem ter dinheiro para jogar o futuro da sua gente nesta economia de casino em que a Europa se tornou.

Aturdidos, desesperados, trocaram de rei à espera que o destino lhes lançasse um olhar de comiseração. Talvez ainda não tenham percebido que o destino dos tempos modernos é feito por gente sem coração nem memória, autênticos chacais à espera da próxima vítima.
Amanhã empunharão novamente o escudo da democracia contra a ignóbil bazuca do dinheiro. Metade do povo do grego acha que a sua dignidade descende do escudo de Aquiles, a outra tem imensas dores de calcanhar.
Gabriel Vilas Boas


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