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sexta-feira, 10 de julho de 2015

MONTE SAINT-MICHEL



No norte de França, mais propriamente na Normandia, mora um dos grandes tesouros arquitetónicos e culturais da humanidade: o Monte Saint-Michel e a sua baía circundante.
Desde de 1979 que a UNESCO considera aquele “rochedo cristão no meio da ressaca” uma obra de arte integral, no estilo gótico, bem adaptada a uma localização pouco comum.
O Monte de Saint-Michel compreende o Mosteiro com fortificações em forma de caracol, com as suas dependências para monges, assim como a igreja abacial, com um coro em estilo tardio-gótico.
Este mosteiro alcançado num rochedo e aparentemente retirado do mundo é o mais impressionante de todo o ocidente.

A acreditar na tradição cristã, em 708, o arcanjo São Miguel teria incumbido São Aubert, bispo de Avranches, de construir uma capela sobre um rochedo que se elevava do mar como um cone de granito.
Mais de duzentos anos depois, em vez de uma capela, nasceu um mosteiro, cujo desenvolvimento foi incentivado pelos duques normandos. Década após década, o Monte de Saint-Michael foi crescendo, pois nele se construiu e reconstruiu até que o monte se ergueu como sublime santuário.
Durante a Guerra dos Cem Anos, o Mosteiro foi dotado de uma muralha fortificada, o que em nada afetou o carácter sagrado do edifício. Muitas vezes o Monte de Saint-Michel parece uma cortina de fogo sobrenatural, um monte de granito coroado por uma torre resplandecente à luz do sol poente.

Contudo, a situação isolada e o mar circundante encerravam também um grande risco para os devotos romeiros, que tinham de atravessar o baixio por sua conta e risco para alcançar o monte do mosteiro. O que, tendo em conta as traiçoeiras areias movediças e um desnível entre marés que ronda os 13 metros, significava um grande perigo. O conselho dado, com humor negro, “ Se fores ao Monte, não te esqueças de fazer testamento” alude aos numerosos peregrinos que encontraram a morte na ressaca. Só desde o século XIX o Monte da Abadia de Saint-Michel está ligado a terra firme por um dique. No entanto, isto levou ao progressivo assoreamento da baía. Por isso só duas vezes por mês, na lua cheia e na lua nova, o Monte fica cercado pelas águas.

Se na Idade Média os peregrinos vinham aos milhares, hoje em dia são mais de dois milhões de turistas que anualmente se deixam atrair pela magia do Monte-Mosteiro. Em consequência, é grande movimentação na rua principal da aldeia homónima, cujas casas, apertadas umas contra as outras se colam às muralhas da fortificação. Só depois do sol se pôr, quando os poucos habitantes da aldeia e os trinta ou quarenta visitantes instalados nos hotéis, deambulam pelas ruas, o ambiente convida à reflexão.
Para se chegar ao mosteiro tem de se empreender a árdua escalada de numerosos degraus até se chegar ao portão de acesso. A coroar o ponto mais alto do monte encontra-se a igreja abacial tardo-gótica, cujo portal principal dá para um terraço panorâmico. Contudo, a pérola arquitetónica do conjunto é o claustro com as suas graciosas arcadas ogivais – um lugar de meditação que parece flutuar entre o céu e o oceano. O claustro faz a ligação dos edifícios góticos de três andares que compõem a abadia com o refeitório de abóbada cilíndrica e a sala do capítulo. Este complexo é denominado “la merveille de l’Occident”, tributando um reconhecimento ilimitado à mestria arquitetónica da construção. E, na verdade, o encadeamento e a sobreposição labiríntica das salas e das criptas são uma maravilha da arquitetura.

Já é praticamente inimaginável que, depois da Revolução Francesa, a “ilha devota” tivesse servido, durante várias décadas, como prisão estatal. Em conformidade com a máxima “Medo da Lei em vez de medo de Deus; célula prisional em vez de célula monacal”, o estado francês esperava que os edifícios sagrados contribuíssem para formar “pessoas melhores”. Só devido a uma iniciativa do escritor Vítor Hugo a prisão foi encerrada em 1863 e o Monte Saint-Michel declarado património nacional de França. Porém, foi preciso que voltassem a passar mais um século para que, no monte do mosteiro, se viesse de novo estabelecer meia dúzia de monges beneditinos.     

  

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