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sexta-feira, 3 de julho de 2015

EUSÉBIO NO PANTEÃO NACIONAL



Um ano e meio depois da sua morte, os restos mortais de Eusébio são transladados para o Panteão Nacional, o lugar onde repousam definitivamente alguns dos heróis da pátria. Ultimamente, foram lá colocando alguns dos que o povo amou verdadeiramente e que personificaram a Portugalidade mais genuína e bela: Humberto Delgado, Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner e, agora, Eusébio da Silva Ferreira. 

Claro que o melhor panteão, onde devem morar estas figuras, é a nossa memória e o nosso coração. E Eusébio passa com distinção esses dois critérios. Deixou de jogar há quatro décadas e só no final da sua vida apareceu alguém a disputar-lhe o trono supremo. Os seus golos, as vitórias e alegrias que deu a um Portugal amordaçado e triste cintilam na memória de várias gerações.

Infelizmente não o vi jogar. Logo a ele que tornou monstruosa a popularidade do meu clube. Tenho os livros, os relatos radiofónicos e, sobretudo, as imagens televisivas que me mostram quão grande foi. 
As correrias loucas com a bola, perfeitamente dominada, de vinte/ trinta metros até desferir o seu potente e certeiro remate, que fazia benfiquistas e portugueses pularem de alegria; a correção com companheiros e adversários; a simplicidade no trato; a afabilidade; o virtuosismo aliado à força numa combinação tão admirável que muito poucos se igualaram. Artur Agostinho, esse ícone da rádio e da televisão, batizou-o de pantera negra, pela maneira felina e cheia de estilo como corria, atacava, marcava.
Os golos, as vitórias, os prémios, os títulos não o tornaram mediático nem rico, mas profundamente amado. E não há maior riqueza de que ser amado assim. 

Hoje, oficialmente, Eusébio subiu, justamente, ao panteão. A sua entrada na elite dos heróis nacionais consagra o futebol como um agente da cultura. Nada mais justo. A cultura é um exercício sobre a identidade e nos últimos anos o desporto em geral e o futebol em particular têm sido dos setores que mais têm contribuído para a nossa identidade coletiva. 


Há ano e meio, despedi-me do rei Eusébio. Uma semana depois da sua morte, um estádio da Luz repleto ergueu-se para a última homenagem. 
Sinatra cantava o «My Way», quase todos se levantaram para te rever mais uma vez. E havia tanta saudade nos nossos olhos brilhantes que nenhum aplauso consegue afagar. 
Custou imenso levantar aquela cartolina negra e nem o hino que nos unia teve o sabor de tantas tardes e noites. 
Depois virámos a cartolina e estádio ficou com as cores que nos ensinaste amar. Corremos, saltámos, marcámos, apoiámos, ganhámos. Era o mínimo que podíamos fazer para te dizer "Obrigado!"

Gabriel Vilas Boas


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