A 6 de julho de 1535, o advogado, diplomata e
presidente da Câmara dos Pares, Thomas More (1478-1535), que escreveu o ensaio
político humanista Utopia, foi
executado, por aderir à autoridade da Igreja de Roma.
Ao recusar-se a prestar um juramento de sucessão,
mediante o qual teria aceitado o divórcio de Henrique VIII de Catarina de
Aragão e o poder supremo do rei em relação à Igreja, foi acusado de traição, pela coroa inglesa.
Duas semanas antes, o bispo de Rochester, John Fisher,
sofrera o mesmo destino pela mesma razão. A execução de ambos assinalou um
período de tirania. Que não tolerou oposição aos desejos reais.
A propósito deste dia negro na história da Inglaterra,
Edward Hall na sua Chronicle de 1542
escreveu: «O carrasco pediu-lhe perdão. Ele beijou-o e disse:
“Alegra-te,
homem, e não temas fazer aquilo que te compete; o meu pescoço é muito curto,
portanto presta atenção, não cortes de viés para manteres a tua integridade.”
Pousando a cabeça a cabeça no cepo, pediu ao carrasco
que não se mexesse até ele desviar as barbas, pois estas não haviam cometido
traição. Deste modo sofreu com muita alegria; a cabeça foi decepada com um
único corte e colocada em London Bridge, onde permaneceu uns meses, pronta para
ser atirada ao Tamisa. A filha, Margaret, comprou-a, colocou-a numa caixa de
chumbo e guardou-a como relíquia.»
Desta famosa e triste história retiro duas conclusões:
a dignidade, os valores de um Homem verdadeiramente grande não estão ao alcance
de nenhum rei, de nenhum poder, de nenhuma circunstância. Em última análise ele é senhor de si próprio e do seu destino. A outra conclusão que retiro é que
os princípios da Inquisição não são um património exclusivo da Igreja Católica,
mas de todos os poderosos cuja força da razão e da persuasão eram tão fracas que
não tinham outro modo de se impor senão matando.
Gabriel Vilas Boas
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