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sábado, 18 de julho de 2015

O MASSACRE DE SREBRENICA


Em 18 de julho de 1995, após uma semana de assassínios concertados, terminou a maior atrocidade cometida em solo europeu desde a segunda guerra mundial. Nessa altura, milhares de homens, jovens e rapazes muçulmanos bósnios – mais de 7500 segundo a maioria das estimativas – tinham sido executados por forças sérvias da Bósnia e os cadáveres atirados para valas comuns.
Como o relatório do Secretário-Geral das Nações unidas esclareceu, o choque não foi apenas o do número de mortos e a tragédia humana, foi também o fracasso das organizações internacionais, em particular as Nações Unidas, que haviam chamado a Srebrenica um «porto seguro» da devastação provocada pela guerra civil na Bósnia. Mal preparadas, mal informadas e muito inferiores em número, as tropas da ONU, sobretudo holandesas, que guardavam o porto seguro, tinham permitido que a forças sérvias massacrassem as suas vítimas.

Em maio de 2011, Ratko Mladic, o general sérvio da Bósnia acusado de organizar o massacre, foi, finalmente, detido e enviado para o tribunal criminal internacional da ex-Jugoslávia, das Nações Unidas, onde foi condenado por “genocídio” e “crimes contra a humanidade”.
Para melhor percebermos a dimensão do acontecido, transcrevo parte do Relatório do Secretário-Geral das Nações Unidas que se seguiu à resolução da Assembleia Geral 53/35, intitulado A Queda de Srebrenica, 15/1999.      

«A tragédia que ocorreu após a queda de Srebrenica é chocante por várias razões. Em primeiro lugar, pela magnitude dos crimes cometidos. Desde os horrores da segunda guerra mundial que a europa não assistia a massacres a esta escala. Os restos mortais de cerca de 2500 homens e rapazes foram encontrados à superfície em valas comuns e em cemitérios de segunda categoria. Continuam desaparecidos vários milhares de homens e há muitos motivos para pensar que outros cemitérios revelarão os cadáveres de mais alguns milhares de pessoas.
A grande maioria dos que morreram não pereceu em combate. Os corpos exumados das vítimas mostram que muitas tinham as mãos atadas, os olhos vendados, ou foram alvejadas na nuca. Numerosos relatos de testemunhas oculares, devidamente corroboradas por provas forenses, evidenciam cenas de assassínio em massa de vítimas desarmadas.
A queda Srebrenica é igualmente chocante porque os habitantes do enclave acreditavam que a autoridade do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a presença da Unprofor e o forte aéreo da NATO garantiriam a sua segurança. Contudo, as forças sérvias da Bósnia ignoraram o Conselho de Segurança, afastaram as tropas da Unprofor e avaliaram corretamente que não seriam usados meios aéreos contra elas. Arrasaram a zona segura de Srebrenica e despovoaram o território em 48 horas. Em seguida, os seus líderes envolveram-se em negociações de alto nível com representantes de comunidade internacional enquanto as suas forças no terreno executavam e enterravam milhares de homens e rapazes em poucos dias.   
Numa tentativa de assacar responsabilidades pelos terríveis acontecimentos registados em Srebrenica, muitos observadores apressaram-se a apontar o dedo aos soldados do batalhão holandês da Unprofor, acusando-os de serem os maiores responsáveis. Acuram-nos de não tentar suster o ataque sérvio e de não proteger os milhares de pessoas que procuraram refúgio no seu complexo. Todavia, depois de avisarem o comandante do batalhão que se impunha evitar o risco de confronto com os sérvios e que a execução do seu mandato era secundário para segurança do seu pessoal, o batalhão retirou-se dos postos de observação debaixo de ataque.
É certo que as tropas da Unprofor em Srebrenica nunca abriram fogo sobre os sérvios atacantes. Dispararam tiros de aviso sobre a cabeça dos sérvios e os seus morteiros lançaram sinais luminosos, mas nunca abriram fogo diretamente sobre unidades sérvias. Se tivessem atacado diretamente os sérvios é possível que os acontecimentos tivessem seguido um rumo diferente…
A lição essencial a extrair de Srebrenica é que uma tentativa deliberada e sistemática de aterrorizar, expulsar ou assassinar um povo inteiro tem de ser travada decisivamente com todos os meios necessários e com a vontade de conduzir a política até à sua conclusão lógica.

Nos Balcãs, nesta década, foi preciso aprender esta lição, não uma mas duas vezes…

A experiência das Nações Unidades na Bósnia foi uma das mais difíceis e penosas da nossa História… 
Devido aos erros, a avaliações incorretas e à incapacidade de conhecer a dimensão do mal com que nos confrontámos não fomos capazes de ajudar a salvar o povo de Srebrenica da campanha genocida sérvia… 
A tragédia de Srebrenica assombrará para sempre a nossa História.»

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