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domingo, 5 de julho de 2015

NICHOLAS WINTON, A LOCOMOTIVA DA VIDA


Há algo de estranho, grandioso e belo quando, no mundo dominado pelo mediatismo e pela vaidade, alguém decide manter no anonimato o facto de ter salvo 669 crianças checas judias das garras nazis nos meses anteriores ao eclodir da II Guerra Mundial. Esse monstro sagrado da Humanidade chama-se Nicholas Winton e morreu há quatro dias com cento e seis anos de vida.

Fiquei a conhecer o seu extraordinário feito há poucos meses, através de um post no Facebook de uma pessoa amiga. A história de Nicholas Winton é um hino de humanidade e bondade que devia ser ensinado nas escolas. Winton nasceu em Inglaterra, mas descendia de pais alemães judeus. A sua infância coincidiu com a I Guerra Mundial e, talvez, a crueldade desta guerra tenha impressionado tanto o jovem Nicholas que no Natal de 1938 decidiu trocar umas férias na neve suíça para aceder ao pedido de um amigo checo que lhe pediu colaboração num trabalho humanitário com os Judeus. Rapidamente Nicholas Winton percebeu o destino daquela gente e moveu influências para que o maior número de crianças fosse acolhido por famílias britânicas.

A hipótese de salvar os filhos levou muitos pais, em desespero, a procurar o britânico da praça Wencislas. O jovem corretor da bolsa londrina atuou sempre discretamente e por isso oito comboios partiram de Praga para a Holanda, onde uma barcaça transportava essa semente de vida e humanidade até à Grande Ilha da salvação. Infelizmente o dia destinado ao nono comboio e ao salvamento de mais de duzentas e cinquenta crianças foi o primeiro dia da II Grande Guerra e essas crianças nunca partiram para Londres, mas, meses mais tarde seguiram viagem para Auschwitz.

Durante cinquenta anos esta história manteve-se incógnita pois Winton só quis ser o herói da sua própria consciência. Por acaso, a mulher encontrou um caderno, com uma lista de crianças e fotografias. Winton lá lhe contou a mais bela e comovente história da sua vida.
Obviamente as autoridades checas e inglesas não podiam deixar de lhe agradecer, com títulos e honras, ações tão sublimes. Uma dessas homenagens liga Winton literalmente ao céu, pois os astrónomos checos Jana Tichá e Milos Tichý chamaram 19384 – Winton a um pequeno planeta. As autoridades checas atribuíram-lhe várias condecorações e na estação ferroviária de Praga existe uma estátua sua com duas crianças.
No dia 1 de julho de 2015, a viagem de Nicholas Winton, neste planeta chegou ao fim. Finalmente vai assumir o Governo do seu planeta entre as estrelas mais cintilantes.
Gabriel Vilas Boas

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