Há algo de estranho, grandioso e belo quando, no mundo dominado pelo mediatismo e pela vaidade, alguém decide manter no anonimato o facto de ter salvo 669 crianças checas judias das garras nazis nos meses anteriores ao eclodir da II Guerra Mundial. Esse monstro sagrado da Humanidade chama-se Nicholas Winton e morreu há quatro dias com cento e seis anos de vida.
A hipótese de salvar os filhos levou muitos pais, em desespero, a procurar o britânico da praça Wencislas. O jovem corretor da bolsa londrina atuou sempre discretamente e por isso oito comboios partiram de Praga para a Holanda, onde uma barcaça transportava essa semente de vida e humanidade até à Grande Ilha da salvação. Infelizmente o dia destinado ao nono comboio e ao salvamento de mais de duzentas e cinquenta crianças foi o primeiro dia da II Grande Guerra e essas crianças nunca partiram para Londres, mas, meses mais tarde seguiram viagem para Auschwitz.
Durante cinquenta anos esta história manteve-se incógnita pois Winton só quis ser o herói da sua própria consciência. Por acaso, a mulher encontrou um caderno, com uma lista de crianças e fotografias. Winton lá lhe contou a mais bela e comovente história da sua vida.
Obviamente as autoridades checas e inglesas não podiam deixar de lhe agradecer, com títulos e honras, ações tão sublimes. Uma dessas homenagens liga Winton literalmente ao céu, pois os astrónomos checos Jana Tichá e Milos Tichý chamaram 19384 – Winton a um pequeno planeta. As autoridades checas atribuíram-lhe várias condecorações e na estação ferroviária de Praga existe uma estátua sua com duas crianças.
No dia 1 de julho de 2015, a viagem de Nicholas Winton, neste planeta chegou ao fim. Finalmente vai assumir o Governo do seu planeta entre as estrelas mais cintilantes.
Gabriel Vilas Boas
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